Pular para o conteúdo principal

REFLEXÕES DE UM INICIANTE... "LEVANTAI-VOS E NÃO TENHAIS MEDO"


Preparando-nos para a Páscoa, estamos vivendo e percorrendo, com Jesus, o caminho da quaresma. É no deserto de nossa vida, de nossas angústias e alegrias que somos convidados a confrontar-nos com os apelos da Palavra de Deus e a Ele nos entregarmos completamente. Nesta segunda semana do tempo quaresmal, queremos subir à montanha com Jesus para fazer, com Ele, uma experiência de intimidade.
A liturgia deste segundo domingo convoca-nos para o encontro e para a missão. Na primeira leitura (Gn 12,1-4a) vemos o pedido de Deus a Abrão para que o mesmo deixe sua família, sua casa e sua terra para ir ao encontro da terra que o Senhor mesmo irá mostrá-lo. E Abrão partiu como o Senhor lhe havia dito. É interessante o gesto de Abrão e muito corajoso, por sinal. Parece não ser fácil deixar tudo e ir ao encontro do novo, do diferente. Porém, para o seguimento é preciso deixar tudo, inclusive a nós mesmos! Porém esta decisão não parte de uma conclusão vazia, sem sentido. Ao contrário, como ouvimos no Evangelho (MT 17,1-9), a missão começa quando termina a experiência do encontro. Jesus transfigura-se diante de seus discípulos: Pedro, Tiago e João. O encontro, a alegria de estar com o Senhor está no cerne do trabalho e empenho missionário. Não é possível ir até o outro, até às pessoas, sem antes ter estado com o nosso Deus. O encontro com o Mestre é o essencial na nossa experiência de fé. Mas não é a única coisa que se deve fazer. Jesus nos atrai para o encontro, mas não cessa de incentivar-nos à missão. Nesse sentido tanto a missão de Abrão como a dos discípulos que estavam com Jesus foi difícil, desafiadora, temerosa. Por quê? Porque o melhor, aparentemente, seria ficar em casa, com a família ou no alto da montanha; “Senhor, é bom ficarmos aqui”. Entretanto, desde aqueles tempo, urge a necessidade de evangelizar. Mas evangelizar a mim mesmo ou à minha experiência de fé? Não. Anunciar a razão da nossa vida, do nosso ser cristão: Jesus Cristo, nosso Salvador. O anúncio parte da experiência individual, do “estar” com Jesus, mas não pode ficar somente nisso. É preciso estender-se, na perspectiva de que anuncio um Reino que não é meu, mas de Deus. Sou um pequeno instrumento nas mãos do Criador, a serviço da criação, que geme como em dores parto.
E este encontro com o Cristo e a missão que dele deriva pode ser pesada, de sofrimento (2Tm 1,8b-10). Mas não é em vão, é fortificada pelo poder de Deus, pois é sofrimento pelo Evangelho. Deus continua nos chamando para esta vocação santa do encontro e do anúncio onde a morte e a dor não têm mais lugar, pois a graça foi revelada pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo.
Tempo da quaresma, tempo de caminho, tempo de conversão. Tempo de revisão de vida e de questionamentos. E nós (eu, você, os outros), estamos nos encontrando, de fato, com o Redentor, ou o nosso anúncio tem sido estéril? O mundo precisa de testemunho, mas não de qualquer testemunho, mas daquele que tem Jesus Cristo como fundamento. Será que dedicamos tempo para escutar o Mestre? Qual o sentido do meu/nosso trabalho missionário?
Que o Senhor Jesus, com o qual subimos a montanha da transfiguração, abra os nossos olhos e ouvidos para contemplarmos a beleza de ser cristão hoje, de crermos no nosso Deus e de a Ele nos entregarmos. Ao mesmo tempo, que Ele nos ajude a descer a mesma montanha, após a transfiguração (“Levantai-nos e não tenhais medo”), momento em que nossa decisão livre por Cristo precisa ser demonstrada de forma amorosa e radical.


Eduardo Moreira Guimarães
5º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio - PR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESUMO: Introdução à eclesiologia

11.        INTRODUÇÃO O trabalho tem como objetivo resumir o livro “Introdução à Eclesiologia” de Salvador Pié-Ninot. Evidentemente não é uma tarefa simples, dado a complexidade do tema e, ao mesmo tempo, as discussões polêmicas que o mesmo está envolvido. Por exemplo: Jesus fundou a Igreja ou ela simplesmente foi aquilo que seus seguidores conseguiram oferecer? Essa e outras questões polêmicas perpassam na mente de qualquer estudante de teologia. Por isso, o resumo aqui apresentado fez questão de ser fiel ao autor nas observações, nos apontamentos e, ao mesmo tempo, na disposição dos capítulos que foram lidos e analisados. Para isso, no desenvolvimento está elaboraram-se tópicos que correspondem aos capítulos em número de 6 mais a conclusão. Assim, fala-se no estudo da história do Tratado de Eclesiologia, dos conceitos fundamentais relacionados à Igreja, de Jesus à Igreja, da Igreja primitiva e edificada pelos sacramentos, das dimensões da Igreja, da missão da Igreja e, final

ESSÊNCIA, PESSOA E SUBSTÂNCIA

I – INTRODUÇÃO             O presente trabalho apresenta uma breve definição das palavras ESSÊNCIA, PESSOA e SUBSTÂNCIA. A ordem de apresentação foi estabelecida a partir da ordem alfabética. Ao longo do texto notar-se-á que se buscou apresentar a origem do termo pesquisado, bem como a sua evolução e o que ele significa no campo teológico, mais especificamente em relação à Trindade. II – ESSÊNCIA, PESSOA, SUBSTÂNCIA             O problema inicial que permeia a definição de essência, pessoa e substância começa pelo fato de os gregos falarem de uma essência e três substâncias e os latinos de uma substância e três pessoas [1] . Sendo assim, corre-se o risco de confundir os termos e seus significados. Por isso, estudou-se apenas a concepção latina sem fazer as devidas comparações com a grega. a)       ESSÊNCIA Por esse termo é entendido, em geral, a resposta à pergunta “o quê?” [2] , por exemplo, na pergunta: ‘o que é o homem?’. A resposta, em geral, exprime a essên

A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE (Bruno Forte)

RESUMO: A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE (Bruno Forte)   1.       INTRODUÇÃO   O presente trabalho é um resumo da obra de Bruno Forte “A Igreja ícone da Trindade”. A leitura foi realizada de forma atenta e interessada tendo em vista a importância do tema. Divindade em três grandes partes, o livro apresenta a “ ECCLESIA DE TRINITATE – de onde vem a Igreja?”, a “ ECCLESIA INTER TEMPORA – o que é a Igreja? A forma trinitária da Igreja” e a “ ECCLESIA VIATORUM – para onde vai a Igreja?”. Dessa maneira, a apresentação desse resumo seguiu o mesmo esquema apresentado pelo autor. No entanto, no livro ele faz divisão de capítulos ao apresentar cada uma das três partes. Aqui, no entanto, pensou-se em apresentar em um único texto corrido a reflexão de Bruno Forte no intuito de elaborar um pensamento único que faça a conexão dos assuntos entre si, dado que todos estão inter-relacionados.   2.       A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE   Bruno Forte escreve este