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O ESPÍRITO SANTO NOS ATOS DOS APÓSTOLOS

Ecumênio[1], um comentador antigo, diz que os Atos dos Apóstolos pode ser chamado de “o Evangelho do Espírito”. Essa designação tem sua justificativa na abundância de citações do Espírito Santo no texto. “O” Espírito Santo (com o artigo “O”) aparece 21 vezes (At 1, 5b.16b;2,33b;5,3.32;8,15.17.19b;10,38.44.47b;11,15b.16b;13,2b;15,8b;16,7b;19,2.2b.6;20,23;28,25b). Em outras 16 vezes aparece sem o artigo “O” (At 1,2.8;2,4;4,8.25.31b;6,3b.10;7,51;9,17c.31b;11,24.28;13,4.9.52;15,28;16,6) e 9 vezes encontra-se o termo “O Espírito” (At 2,4b.17b;6,3b.10;8,18.29;10,19b;11,12.18), em três casos o adjetivo é substituído pelo genitivo – 2 vezes “Espírito do Senhor” (At 5,9b;8,39) e “Espírito de Jesus” (At 16,7).
            Essas constatações indicam que Lucas mostra a presença e a atuação do Espírito Santo na história da salvação, nas pessoas escolhidas para anunciar Jesus Cristo. O Espírito desce, suscita força, inspiração e ânimo na caminhada de fé. Em vários momentos se diz que Pedro (At 4,8), Paulo (At 9,17c; 13,9), Estevão (At 6,5b; 7,55; 11,24), os apóstolos (At 13,52), os cristãos (At 2,4; 4,31b;6,3b), as Igrejas (At 9,31) eram repletos do Espírito Santo. Muitas iniciativas da comunidade no que tange ao testemunho, ao anúncio da Palavra remetem ao Espírito Santo (At 1,8;4,31b;5,32;10,45b;11,12;11,28;13,4;15,28;16,6b.7;20,22.23b). É o Espírito mesmo que chama, envia e sustenta no Caminho (At 1,2b;9,17c;10-19-20;11,12;13,4;16,720,23b).
            Esse Espírito é o mesmo que falou aos pais pelo Profeta Isaías (At 28,15b) e continua a sua ação na história, na comunidade comunicando-se com os homens de hoje (At 13,2b). Ele é derramado no Pentecostes (At 2,4) abundantemente e experimentalmente à nova comunidade cristã, é derramado no batismo (At 1,5b;11,16b), em Ágabo (At 11,28); dá força para testemunhar a fé no crucificado-ressuscitado (At 1,8), fala a Judas antes da traição (At 1,16b), é derramado, desce sobre a comunidade (At 2,38b; 8,15), sobre a carne, a humanidade (At 2,17b), sobre os que se convertem (At 11,12.15), sobre os que ouvem a Palavra (At 10,44), sobre os gentios (At 10,45b.47;15,8b). É o Espírito prometido, que Jesus recebeu e derramou aos seus (At 2,33b).
            É o Espírito que impulsiona a pregar, falar em nome de Jesus: Pedro (At 4,8), Estevão (At 6,10), Filipe (At 8,29 – O Espírito arrebata Filipe At 8,39). É a voz do próprio Deus (At 4,24-25). O Espírito que anima os apóstolos na missão, que converte e guia a comunidade dos discípulos de Jesus. É o Espírito que anima Paulo na sua empreitada de passar de perseguidor a pregador do Evangelho (At 9,1-19). Mas é também o Espírito que é enganado por Ananias e Safira, sua esposa (At 5,3.9). Espírito que alguns resistem à sua ação (At 7,51b). É o Espírito que testemunha o que foi realizado em Jesus (At 5, 32), que é dado mediante a imposição das mãos (At 8,17.18;19,6).
            Espírito que unge Jesus (At 10,38), que impede o anúncio em algumas regiões: Frígia, região da Galácia na Ásia, bem como em Bitínia (At 16,6b.7). Mas é o Espírito que encoraja Pedro, Paulo a aceitar as pessoas na comunidade, como é o caso de Cornélio (At 10,34s). É o Espírito que protege, que adverte sobre o perigo (At 20,22.23b). O Espírito é quem faz realizar e perceber a expansão extraordinária do movimento cristão, que obedece ao seu dinamismo, inspira e motiva o anúncio corajoso e convincente da mensagem cristã.
            Nos Atos dos Apóstolos o Espírito é como que personalizado como sujeito de uma ação salvífica no plano salvífico. Porque Ele se revela como força, dinâmica, movimento das primeiras comunidades, como liberdade, sabedoria, impulso para a missão, destemor do testemunho, é por Ele, sua ação, que o número dos cristãos crescia mais e mais. A Igreja mesma vivia sob a consolação do Espírito (At 9,31).


[1] BÍBLIA. Atos dos Apóstolos. Comentários de Rinaldo Fabris. Tradução de Siro Manoel de Oliveira. São Paulo: Loyola, 1991. p. 78.

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