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Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência


Quais são os caminhos de reconciliação apresentados pelo texto?
 
A exortação Reconcilitio et Paenitentia é um convite da Igreja para reencontrar as próprias palavras do Senhor que diz “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). É um apelo para recompor as fraturas, cicatrizar dilacerações e instaurar em todos a unidade essencial. Por isso, a reconciliação é principalmente um dom de Deus e uma iniciativa sua que liberta o homem sob todas as suas formas, mas espera seu esforço concreto e cotidiano.
            Nesse sentido, os caminhos de reconciliação apresentados pelo texto passam pela mudança do coração sob o influxo da Palavra de Deus. É o caminho da conversão pessoal que prolonga-se na vida toda do ser humano, nos seus gestos concretos. A ascese é meio eficaz desse esforço concreto e cotidiano do homem para superar as situações de pecado. É a necessidade de uma reconciliação “fontal”, ou seja, uma conversão do coração e da consciência do homem. A conversão pessoal é, portanto, o caminho necessário para a concórdia com as pessoas, com o mundo, com Deus e consigo mesmo.
            A Igreja, é por natureza, sempre reconciliadora. Ela, como sacramento de salvação dos homens, não cessa de mostrar ao homem os meios para a referida conversão que são: a fiel e amorosa escuta da Palavra de Deus, a oração pessoal e comunitária e os sacramentos. E a Igreja dirige sempre aos seus filhos o convite de Paulo “Reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5, 20).
 
b)     De acordo com o texto, quais são os meios, as vias para a promoção da penitência e da reconciliação no contexto eclesial?
 
A missão reconciliadora é própria da Igreja. A primeira vida desta ação salvadora é a oração. A intercessão da Virgem Maria e dos Santos que sustentam a caminhada do mundo, ou seja, a misteriosa comunhão da Igreja do céu e da terra unidas na cooperação com Cristo para reconciliar o mundo com Deus. É o mistério da Comunhão dos Santos. Há, depois, uma outra via: a da pregação. Propor aos homens a reconciliação e denunciar a maldade do pecado. Há também a via da ação pastoral. Trazer cada homem ao caminho do retorno ao Pai na comunhão, no entendimento e na concórdia com os irmãos. Há, por fim, a via do testemunho que nasce de uma dupla consciência da Igreja: a de ser em si santa e ao mesmo tempo, necessitada de purificar-se dia a dia até a volta de Cristo. Para tanto, necessita ser sinal da caridade universal que Cristo deixou e traduzir-se em fatos sempre novos de conversão e reconciliação no seu interior e exterior.
 
c)      No contexto atual, o que tem contribuído para a "perda do sentido do pecado"?
 
Pio XII durante seu pontificado já dizia que “o pecado do século é a perda do sentido do pecado” (p. 62). Essa perda de sentido do pecado advém de alguns fenômenos desse nosso tempo.
1)      A questão da crise da consciência e do sentido de Deus;
2)       O secularismo que propõe um humanismo que abstrai de Deus, que afirma que o homem pode construir um mundo sem Deus;
3)      2) Os equívocos em que se cai ao apreender certos resultados das ciências humanas;
4)      A preocupação de não tachar alguém como culpado nem por freio à liberdade;
5)      Uma certa antropologia cultural que limita tanto ao ser humano a responsabilidade que não lhe reconhece já a capacidade de fazer verdadeiros atos humanos e, por consequência, a possibilidade de pecar;
6)      A influência de uma ética que deriva dum certo relativismo historicista;
7)      Quando o sentido do pecado é erroneamente identificado com o sentido morboso da culpa ou com a simples transgressão das normais e preceitos legais;
A perda do sentido do pecado é uma forma ou fruto da negação de Deus: não só da negação ateísta, mas também da negação secularista. Pecar é viver como se ele não existisse, bani-lo do cotidiano. Um modelo de sociedade mutilado ou desequilibrado favorece essa progressiva perda do sentido do pecado.
No campo do pensamento e da vida eclesial, algumas tendências favorecem esse perda do sentido do pecado:
1)      Da atitude de ver o pecado em toda parte, passa-se a não o vislumbrar em parte alguma;
2)      Pregação dum amor de Deus que excluiria toda pena merecida pelo pecado, pretenso respeito pela consciência até suprimir o dever de dizer a verdade;
3)      A confusão criada na consciência de muitos fieis pelas divergências de opiniões e de ensinamentos na teologia acerca de questões graves e delicadas da moral cristã;
4)       Alguns defeitos na prática da Penitência sacramental reduzindo o significado eclesial do pecado e da conversão a fatos meramente individuais, ou a anular o valor pessoal do bem e do mal para considerar apenas a dimensão comunitária;
5)       O perigo do ritualismo rotineiro.
 
            d) Que propostas a Igreja poderia apresentar aos fiéis para que o sacramento da reconciliação seja mais valorizado?
 
            A Igreja deve suscitar no coração do homem a conversão e a penitência e proporcionar-lhe o dom da reconciliação. Para isso urge a necessidade de uma pastoral da penitência e da reconciliação. Para que essa nova valorização do sacramento da penitência seja concretizado a Igreja goza de alguns meios confiados pelo seu próprio Fundador: a catequese e os sacramentos. Há também o método apontado por Paulo IV, o diálogo.
            A Igreja utiliza do diálogo para relacionar-se entre si e com o mundo contemporâneo para melhor conduzir os homens à conversão e à penitência. Um diálogo autêntico que tem em vista a regeneração de cada um e com a comunidade, o diálogo ecumênico priorizando uma relação de comunhão com outras Igrejas-outras comunidades eclesiais-credos, um renovador diálogo interno da Igreja.
            A Igreja serve-se da catequese para dirigir-se a seus membros mostrando que aquilo que é pastoral não opõe-se ao doutrinal. Por isso, dos pastores, espera-se uma revigorada catequese sobre a reconciliação, uma catequese teológica que apresente o valor da conversão, do voltar-se para Deus. Uma catequese que favoreça uma irradiação missionária que inspira a vivência autêntica da fé. A catequese a partir importância de uma consciência reta e de sua formação. Sobre o sentido do pecado, sobre a tentação e as tentações, sobre o jejum, sobre a esmola, sobre o nexo íntimo que concatena a superação das divisões no mundo com a comunhão plena com Deus e com os homens, sobre as circunstâncias concretas em que se realiza a penitência. É necessária, uma catequese que ilumine a vida presente e vislumbre a visão escatológica junto de Deus. As santas missões populares são instrumento valiosíssimo para essa conscientização sobre a importância de restabelecer-se com Deus, bem como um bom ensinamento da Doutrina Social da Igreja.
            Os sacramentos são outro meio eficaz de apresentar a penitência e dar-lhe seu devido valor. Cada um deles, por sua graça própria é também sinal de penitência e reconciliação. O Batismo que é momento de conversão e reintegração com Deus com o apagamento da mancha original e a consequente inserção na grande família dos reconciliados. A Crisma, que significa e realiza uma maior conversão do coração e uma mais íntima e efetiva inserção na assembleia dos reconciliados. A Eucaristia que, segundo Santo Agostinho, é sacramento de piedade, sinal de unidade e vínculo de caridade. A Ordem que destina-se a dar à Igreja pastores, testemunhas e operadores da unidade. O Matrimônio que aponta e faz da família sinal da Igreja reconciliada e reconciliadora, para um mundo reconciliado em todas as suas estruturas e instituições. A Unção dos Enfermos, sinal da definitiva conversão ao Senhor. Por fim, o Sacramento da Penitência que é propriamente o sacramento da conversão e da reconciliação.

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