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Questões do Pentateuco

1) EXPLIQUE O CONTEXTO HISTÓRICO DO LEVÍTICO E AS PESSOAS ENVOLVIDAS NA COMPOSIÇÃO DO LIVRO.

O livro do Levítico contém elementos pré-exílicos, no entanto, foi escrito após a volta do exílio no período do segundo templo. O contexto histórico no qual nasceu o relato era de exploração econômica e política por parte do império persa. Porém, esse império tinha uma forma diferente de tornar o povo submisso, porque utilizava da religião dos povos que dominava.
Outro fato importante é o conflito entre o povo que já estava na terra e os filhos do cativeiro. O conflito, embora de origem cultual, dado que o Levítico é um escrito que regula os vários aspectos do culto com diversos ritos e sacrifícios, é um conflito político e econômico. Assim, Jerusalém e o templo serão os maiores centros de poder.
No cenário religioso, nota-se que sobressai o escriba e o doutor da lei ante o profeta. O templo gira em torno da “lei”, nele é que esta é promulgada. Os sumos sacerdotes e os anciãos é que exercerão o poder. Era tão importante o fator religioso que até os tributos eram cobrados conforme a regra religiosa. Assim, o templo e o sistema de sacrifícios favorecia a arrecadação dos tributos. Portanto, era preciso primeiro expiar os pecados para, depois, exercer a justiça social.
Tendo a religião como fator de dominação, a centralidade do templo e os ritos de sacrifício tornam-se meios de legitimar a concentração econômica da classe sacerdotal que vivia das ofertas do povo. Era um sistema que gerava opressão e miséria, porque o povo era sempre culpado e devedor. As desgraças eram sempre vistas como castigo pelos pecados. Essa era uma verdadeira ideologia da retribuição.
O Livro do Levítico foi composto pelo povo que ficou na terra e pelo povo que voltou do exílio. Os que permaneceram dispersaram-se e não mais percebiam a própria identidade. As pessoas que partiram para o exílio conseguiram manter-se unidas e preservar uma identidade, bem como entender como era a vida em Israel. Por isso, foram estes, que ao retornar, preocuparam-se sobremaneira em instituir leis para que a vida se organizasse. Provavelmente, os compositores foram os sacerdotes e escribas, dado que os escritos interessam-se especialmente pelos sacerdotes da tribo de Levi, disso o nome do Livro “Levítico”.

2) QUAIS AS SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE HOLOCAUSTO E OBLAÇÃO EM Lv 1-2?

Semelhanças: sempre são os sacerdotes quem fazem as oferendas (Lv 1, 5b; 2, 2). O holocausto e a oblação sempre são oferecidos sobre o altar 91, 7; 2, 2B). Serão ofertas de agradável odor a Iahweh (1, 9c; 2, 2c).
Diferenças: O holocausto é de animal macho sem defeito (grande ou pequeno – 1, 3b; 10) ou ave (1, 14). A oblação é uma oferenda de flor de farinha (2, 1). No holocausto será feito o rito de expiação (1, 4b), a oblação é realizada como memorial (2, 2c). Na oblação há o acréscimo de azeite e incenso no rito (2, 1c) e também de sal como oferenda de sal ao teu Deus (2, 13). Ambos são queimados (1, 15b; 2, 2c), no entanto, no holocausto é queimado tudo (1, 9), já na oblação pode ser dividido: uma parte queimada e a outra parte restante pertencerá a Araão e a seus filhos (2, 2-3).

3) CÓDIGO DA PUREZA E CÓDIGO DA ALIANÇA – QUAIS AS DIFERENÇAS E O VALOR TEOLÓGICO?

O Código da Aliança (Ex 20, 22 – 23, 33) fala dos compromissos que Iahweh pede do povo que libertou (Ex 20, 22). É uma lei que exige a pertença única a Deus, e não a outros deuses (Ex 20, 23), um lugar digno para o culto, o altar (Ex 20, 24) sendo que a lembrança do que o Senhor fez renderá ao povo a benção. Aponta os preceitos morais e religiosos, a justiça, os deveres para com os inimigos (Ex 23, 1s), a celebração das festas e as instruções em vista da entrada em Canaã. Esta será vitoriosa se o povo ouvir o anjo que Iahweh enviar e se servi-Lo. O que se percebe nessa lei é que tudo está em torno de Deus, ou seja, no serviço a Ele, na adoração somente a Ele, naquilo que O agrada ou não; na totalidade da pertença ao Deus que o escolheu e estabeleceu aliança. Também se percebe que esse código prevê a pena conforme o delito – que é uma grande evolução (Ex 21, 24-25), no entanto, não oferece ainda a possibilidade da purificação no sentido do perdão, da reintegração da pessoa. Ela deve necessariamente pagar exatamente na mesma proporção em que cometeu algum delito.
Já no Código da Pureza (Lv 11 – 15), as leis giram em torno do culto a Deus, ou seja, não diretamente a Ele no sentido estrito, mas àquilo que se pode oferecer, que se pode comer (Lv 11, 2), os animais puros e impuros (Lv 11, 1s). Prevê, ainda, a purificação do ser humano, principalmente da mulher depois do parto (Lv 12), a cura das doenças, sobretudo a lepra, úlcera, queimadura (Lv 13), da lepra (Lv 14) e das impurezas sexuais (Lv 15). Nesse sentido, percebe-se que o Código da Pureza é menos abrangente que o da Aliança no que tange à totalidade da libertação de Deus ao seu povo. Enquanto o Código da Aliança se preocupa com o todo do homem e da mulher, desde o culto até os delitos e leis, o da Pureza parece preocupar-se com o culto a Iahweh, com o que torna o homem puro e impuro. Dá a impressão, inclusive, que o ser humano perde a liberdade quando se refere ao culto, porque fica sempre no “posso, não posso”. A preocupação é maior com o que se deve ou não fazer do que com o culto ao Senhor, propriamente dito.
O valor teológico desses textos está justamente na maneira como Deus conduz o seu povo e como este responde a seu Deus. Iahweh é aquele que liberta, mas também que exige resposta, seguimento. No entanto, nunca abandona o povo que escolheu para si, mas sempre caminha com ele, abençoando-o (Ex 20, 24c). Ao povo, cabe prestar culto única e exclusivamente a seu Deus e servi-Lo (Ex 23, 25).

4) ANALISE Dt 6, 20-26 COM Dt 26, 4-11. QUAIS AS AÇÕES DE DEUS LEMBRADAS NESSE CREDO? QUAL O SEU SIGNIFICADO TEOLÓGICO?

As ações de Deus são a libertação (Dt 6, 21), a realização de sinais e prodígios em favor do povo e contra os egípcios (Dt 4, 22), fez o povo sair da escravidão e deu a terra que havia prometido (Dt 4, 23; 26, 8), terra que corre leite e mel (Dt 26, 9b), ordena o cumprimento dos preceitos (Dt 4, 24) e ouviu a voz, a miséria e opressão do povo (Dt 26, 7b).
O significado de tais textos é importantíssimo para a história do povo de Israel e para a história da nossa salvação. Mais uma vez, percebe-se que Deus liberta seu povo, que o conduz a uma terra totalmente nova. Se sem Deus a vida é amarga, em Deus é vida na terra que corre leite e mel (Dt 26, 9b), ou seja, é vida abundante e plena. Nosso Deus é Aquele que ouve, escuta a miséria e o clamor de seu povo e o faz vencer com mão forte e braço estendido (Dt 26, 8b), é o Deus que não abandona os seus. De muita importância também é a atitude que o povo, portanto nós hoje, devemos ter para com Deus. Primeiro reconhecer a bondade e a ação libertadora de Deus (Dt 26, 4-6), depois testemunhar o que Deus fez e continuamente faz em nosso favor (Dt 6, 20-23). Portanto, ao nosso Deus, devemos culto, devemos n’Ele nos alegrar (Dt 26, 11) e trazer a Ele aquilo que temos como primícias (Dt 26, 10), ou seja, o fruto do nosso trabalho, a nossa própria vida.

5) ANALISE E COMENTE Ex 15, 1-5 À LUZ DO ACONTECIMENTO DO ÊXODO. QUAL A TEOLOGIA DO ÊXODO QUE APARECE?

O texto se refere ao canto que os israelitas entoaram em agradecimento a Iahweh pela passagem no mar (Ex 15, 1a). É um canto que exalta a Iahweh, que se vestiu de glória e derrotou os egípcios derrubando no mar cavalo e cavaleiros (Ex 15, 1b. 4-5). Ao mesmo tempo em que reconhece o poder de Deus, canta a pertença a esse Deus (Ex 15, 2b), a glorificação de Iahweh e a lembrança que esse Deus é Deus dos nossos pais e por isso também merece ser exaltado.
A teologia que se pode colher desse texto é justamente que a salvação pertence a Deus. Nesse sentido, ela é gratuidade, é presente do Senhor para o ser humano. A Ele nós devemos a salvação (Ex 15, 2). É Ele que, no momento das dificuldades e tribulações, apresenta-se como Deus guerreiro (Ex 15, 3) para salvar seu povo. Ao mesmo tempo é o Deus que promete e cumpre, que não desampara ao seu povo e não propõe um projeto vazio, mas enfrenta as alegrias e desafios com esse povo, caminha junto dele e o faz vencer as tribulações.

6) COMENTE A TEOLOGIA DO MANDAMENTO PRINCIPAL E SUAS CARACTERÍSTICAS EM Dt 10, 12-11, 17.

O mandamento principal é “amarás a Iahweh teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo teu coração e com toda a tua força” (Dt 6, 5). Nesse sentido, a teologia desse mandamento presente no texto acima parte do momento em que os israelitas saem em marcha do deserto do Sinai segundo a ordem de Iahweh e caminham sob a direção que Deus vai mostrando através dos que escolheu para guiar seu povo.
Sendo assim, percebe-se que Deus ama seu povo gratuitamente e gratuitamente o liberta da escravidão do Egito. No entanto, faz apenas uma exigência: que esse povo o ame e seja fiel servindo-O, andando em seus caminhos e observando seus mandamentos (Dt 10, 12-13). E Iahweh novamente mostra que àqueles que forem fiel, que não titubearem seguindo outros deuses (Dt 11, 16), concederá a terra que mana leite e mel (Dt 11, 9b), descendência numerosa como as estrelas do céu (Dt 11, 22b) e benção. Isso porque a esses que pede fidelidade são testemunhas de tudo que o Senhor fez em seu favor, como foi o processo de libertação. Eles fizeram a experiência do Deus libertador (Dt 11, 2) e a presença de Iahweh é constante na caminhada rumo à terra prometida.

7) QUAIS OS ASPECTOS DA ESPIRITUALIDADE DA PALAVRA EM Dt 6, 1-12?

A espiritualidade da Palavra no texto citado é clara: a Palavra de Deus é eficaz, ela cumpre o que diz. Sendo assim, colocando em prática os mandamentos, estatutos e normas de Iahweh, o povo terá a posse da terra (Dt 6, 1). Temendo e observando os mandamentos, Deus concede o prolongamento da vida (Dt 6, 2-3), colocando em prática os estatutos e leis de Iahweh, Ele concederá a multiplicação da descendência  entrefando a ela a terra prometida que corre leite e mel (Dt 6, 3).
A Palavra de Iahweh faz ainda professar que Ele é o único Deus (Dt 6, 4) e a ele se deve amar com todo o coração, a alma e toda a força (Dt 6, 5). Portanto, a espiritualidade do texto se firma no mandamento de que tudo o que Deus prescreve deve ser gravado no coração e que de nada se esqueça, afinal foi por Iahweh que se conseguiu sair da terra do Egito, da escravidão (Dt 6, 6. 12b). Nesse texto fica evidente ainda que aqueles que obedecem aos preceitos do Senhor têm a terra, posteridade e longanimidade.

8) LEIA ATENTAMENTE O CÓDIGO DA ALIANÇA Ex 20, 22-23, 33 – SELECIONE 3 LEIS HUMANITÁRIAS EM FAVOR DOS PEQUENOS, POBRES, SOFREDORES.

a)      “Se homens brigarem, e ferirem mulher grávida, e forem causa de aborto, sem maior dano, o culpado será obrigado a indenizar o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará o que os árbitros determinarem” (Ex 21, 22). Essa lei está a favor da vida, dado que pune aqueles que causarem, por algum motivo, o aborto de uma mulher. Isso mostra que o nosso Deus é o Deus da vida, que protege a vida e está sempre a favor da mesma.
b)      “Não afligirás o estrangeiro nem o oprimido, pois vós mesmos fostes estrangeiros no país do Egito” (Ex 22, 20). Essa lei está a favor dos pequenos e sofredores, dos que estão longe ou fora de sua terra natal, bem como dos que sofrem injustiça. Por ela, nota-se que Iahweh não abandona seu povo, mas que o ama com amor de Pai, cuida e se preocupa, sobretudo, com os que mais sofrem. É uma lei atual, dado a importância que a Igreja tem dado aos migrantes.
c)      “Não desviaras o direito do teu pobre em seu processo” (Ex23, 6). Esta lei defende o pobre que se dirige a alguém pedindo que este não engane aquele e que não desvie aquilo que é direito dos pobres, mas antes faça com que sua vida seja digna.

9) QUAL A MENSAGEM CENTRAL DE Dt 8, 1-20?

A mensagem central do capítulo 8 do livro do Deuteronômio é a fidelidade à aliança. Isso é comprovado pelo fato de que, várias vezes, aparece a ordem de Iahweh para obedecer os mandamentos que ele mesmo prescreve (Dt 8, 1. 6. 18b).
Além disso, os verbos utilizados na narração evidenciam a necessidade da observação e cumprimento da aliança e da fidelidade à Deus. Lembra-te do que Iahweh te fez (cf. Dt 8, 2. 18), ou reconhece no teu coração aquilo quando teu Deus te educava (cf. Dt 8, 5), ou então, fica atento a ti mesmo quanto ao que Iahweh prescreveu (cf. Dt 8, 11s). Os verbos que regem essas ações indicam que as leis estabelecidas na aliança do Sinai devem ser respeitadas, observadas e cumpridas.
De igual modo, o cumprimento da lei é acompanhado da presença de Iahweh que não abandona seu povo, mas que o sustenta e fortalece na caminhada, como é dito em Dt 8, 3, quando se lembra que o Senhor alimentou seu povo com o maná, que ainda não conheciam, para mostrar que o homem não vive só de pão, mas que o homem vive de tudo aquilo que vem da boca de Iahweh. Portanto, a lei do Senhor não é vazia, mas plena da presença d’Ele mesmo que caminha com seu povo.

10) COMENTE O SIGINIFICADO DA FESTA DE PENTECOSTES E DO ANO SABÁTICO NO ANTIGO TESTAMENTO.

Uma das narrações da festa de Pentecostes na Bíblia está no livro do Levítico 23, 15-22. Essa festa é muito significativa no contexto do Antigo Testamento. É um festa agrícola onde se ofereciam pão, cordeiros, novilhos, bodes (Lv 23, 17s). Era uma festa alegre, aguardada e preparada, “contareis sete semanas completas” (Lv 23, 15). Era também uma festa dedicada ao Senhor no sentido de reconhecimento de que Ele é o Deus único e merece toda adoração, holocaustos, sacrifícios e oferendas queimadas com perfume de suave odor (Lv 23, 18b).
É, sobretudo, uma festa de gratidão ao Senhor por tudo aquilo que ele realiza na vida do povo, a libertação do Egito (Ex 23, 15c), o alimento, a lembrança de que Deus é o criador do universo e aquele que o sustenta. É uma festa onde não há exclusão dado que participam aqueles que têm o que oferecer (Lv 23, 17s), mas também os pobres e estrangeiros (Lv 23, 22b). Além disso é uma festa de agradecimento pela terra, é uma “assembléia santa” onde ninguém deve trabalhar (Lv 23, 21), ou seja, é um dia de ação de graças ao Senhor da vida e, por isso, uma festa que deceria ser celebrada perpetuamente para os descendentes onde quer que habitarem (Lv 23, 21b).
O Ano Sabático é, como o sábado, um tempo reservado ao Senhor (Lv 25, 2b. 4). É também um tempo para descanso, descanso da terra que há seis anos produziu alimento para que o homem não passasse fome (Lv 25, 5b). Nesse sentido, é muito interessante a importância desse ano, porque faz o ser humano lembrar primeiro que a terra em que vive não é sua, mas pertence a Deus, ao mesmo tempo que a terra precisa ser cuidada, precisa de repouso.
Outro aspecto bonito do Ano Sabático é o fato de que no sétimo ano os pobres também poderão comer daquilo que a terra oferece, mostrando que a terra é de poder de todos e pode prover a todos em suas necessidades (Dt 15, 4s). Nesse ano, tanto os pobres quanto os ricos estarão de maneira igual na terra porque poderão viver da providência divina que não deixará faltar comida para o povo de Deus (Lv 25, 19. 21). O Ano Sabático é importante porque mostra que diante de Deus todos são iguais e todos merecem o mesmo tratamento, merecem ser todos cuidados por Deus que os escolheu para si.
Finalmente, o Ano Sabático é um ano de libertação. Libertação dos escravos (Dt 15, 12). É um ano que recorda que os israelitas também foram escravos na terra do Egito (Lv 25, 38. 46b; Dt 15, 15). Portanto, o povo não está autorizado a escravizar os seus irmãos, mas a deixar todos em liberdade, inclusive os escravos de outras nações que o servem (Lv 25, 46b). Sobretudo, o Ano Sabático é mais um momento de reconhecer o Senhor como libertador, porque é memória de que foi ele quem resgatou o povo do Egito para dar a terra de Canaã (Lv 25, 38). Foi ele que tirou o povo da escravidão para torná-lo seu servo (Lv 25, 55b). “Eu sou Iahweh vosso Deus” (Lv 25, 55c).

11) QUAL A TEOLOGIA DA PRESENÇA DE DEUS NOS SÍMBOLOS: NUVEM, TENDA, ARCA, TEMPLO.

NUVEM: A nuvem tem um significado teológico interessante no sentido de mostrar que toda marcha que o povo realiza é guiada pelo próprio Deus. Nos vários momentos em que Iahweh se revela a seu povo, tal revelação vem acompanhada da nuvem como em Nm 9, 15s. Nessa ótica, nota-se que a nuvem sempre está em movimento, mostrando que o projeto de Deus também está em movimento constante, ou seja, é um projeto que desinstala o ser humano, que o faz tomar decisões, abraçar a causa do Reino e seguir conforme a vontade e o mandamento do Senhor.
Ao mesmo tempo, a nuvem mostra que Deus não pode ser aprisionado em estruturas e conceitos, mas é livre para realizar a sua obra de salvação! Assim, em Nm 17, 7s, por exemplo, em que a nuvem aparece quando Moisés e Araão se reúnem na Tenda da reunião para mostrar a glória de Iahweh, percebe-se que a nuvem tem o sentido de apresentar Deus envolto em seu mistério, que Deus é transcendência e imanência, que se revela a seu povo, comunica-se com ele. A nuvem indica, nesse sentido, o lugar da revelação, o lugar do encontro entre Iahweh e seu povo, indica proteção, no sentido de que Deus caminha com o povo, não o abandona.
TENDA: Em Ex 25, 8 Iahweh pede que Moisés faça-lhe um santuário para que ele possa habitar. Assim, a tenda indica o lugar da morada de Deus no meio de seu povo. Interessante essa teologia porque o povo está em caminhada e Deus faz como que uma “habitação móvel” para andar com seu povo, para não abandona-lo. A tenda é ainda o lugar do encontro de Deus com Moisés e seu povo (Ex 29, 42-42), é o lugar do encontro e da comunicação de Deus. Portanto, a tenda é ambiente sagrado porque encerra a presença de Deus, a justiça de Deus e sua comunicação com os seus. Deus revela-se também na tenda (Nm 7, 89).
ARCA: A arca é considerada também lugar da morada e da presença de Deus. Espécie de caixa, guardava documentos como a Lei, decáologo, arca do testemunho (Ex 35, 16). É chamada em Dt 10, 8 de Arca da Aliança dado que continha as leis que remontavam à Aliança do Sinai. A arca significa a presença de Deus (1 Sm 4, 7) quando chegava ao acampamento. Significava ainda a glória do Senhor (1 Sm 4, 22) quando sua presença entre o povo remete à glória de Iahweh. Assim, quando a arca vai embora, é o Senhor mesmo que se eleva (Nm 10, 35). O significado teológico da arca é justamente a sua companhia junto ao povo que sai em caminhada pelo deserto, ela precede a marcha demonstrando que Iahweh caminha à frente do povo que escolheu para si. Está presente, assim, em toda peregrinação do povo de Israel e é um sinal visível de que Deus mesmo é que dirige esse povo.

TEMPLO: O Templo se caracteriza como a morada temporária de Deus na terra (2Sm 7, 6). Nessa perspectiva, pode-se dizer que a morada de Deus não é fixa na terra, mas acompanha o seu povo, os seus escolhidos. Assim, a templo indica a presença de Deus para os que caminham e para os que voltavam do exílio. O Senhor, desse modo, não está preso ao templo, mas transcende-o, está presente onde presente está seu povo, “Faze-me um santuário, para que eu possa habitar no meio deles” (Ex 25, 8). É interessante perceber a teologia da construção do templo (Ex 35s). É o momento de mostrar que a comunidade é o lugar da revelação de Deus. Que através da construção do templo para Iahweh, o povo que voltava do exílio recupera sua identidade e a fidelidade a Deus que os tirou da escravidão do Egito. É sempre utilizado o verbo fazer, na forma fizeram (Ex 35, 5; 36, 20; 37, 10; 38, 1; 39, 2. 8. 27. 30). Tudo foi feito como o Senhor havia ordenado e o povo foi abençoado (Ex 39, 43). A construção do templo é, portanto, a construção da própria comunidade que se identifica com seu Deus, a ele é fiel e constrói sua morada para que Iahweh permaneça sempre ao seu lado. O povo está sempre em marcha e Deus sempre está com ele (Ex 38, 31). 

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