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AS EXPECTATIVAS MESSIÂNICAS DO ANTIGO TESTAMENTO

I – INTRODUÇÃO

            O presente trabalho apresenta as expectativas messiânicas ou salvíficas do Antigo Testamento. Trabalha inicialmente o conceito de messianismo para o povo de Israel e depois como a expectativa do Messias aparece no seu contexto. Ao longo do texto serão apresentadas quatro visões da esperança messiânica: rei, profeta, sacerdote e escatológica. São interpretações dos israelitas frente ao momento histórico que viviam e como compreendiam a intervenção de Iahweh em suas vidas.

II - AS EXPECTATIVAS MESSIÂNICAS OU SALVÍFICAS DO ANTIGO TESTAMENTO

O povo de Israel esperava por um futuro melhor que deveria ser trazido por um intermediário, o Messias. O messianismo é, para os israelitas, “[...] a esperança de uma renovação da vida humana realizada por uma intervenção divina que tem no Messias o instrumento privilegiado”[1]. É um fenômeno peculiar à Israel no sentido de que foi vivido e compreendido como fenômeno político e religioso de maneira particular. Indica uma esperança de ver uma intervenção salvífica de Iahweh[2].
Para Israel, a redenção se realizava de maneira decisiva na história, no mundo visível, ou seja, significava a libertação integral da pessoa (real, corporal, social, econômica). Do mesmo modo, a salvação não é percebida como a-histórica, mas se dá na história[3]. A salvação consiste na plenitude da vida, dos bens vitais terrenos – ação abençoadora de Deus. Javé é o Deus vivo e a fonte da vida. Nesse sentido, a vida é graça, é comunhão com o Senhor até mesmo nas situações limites como a morte. A expectativa messiânica, nesse sentido, está enraizada no cotidiano do ser humano.
O grande marco da intervenção divina na vida do povo foi a libertação da escravidão do Egito (Ex 3, 7-12). Deus tira o povo da opressão para a liberdade, para ser um povo de pessoas libertas e livres. Durante a história dos israelitas, Iahweh opera diversos livramentos de dificuldades que são sempre “[...] redenções acontecidas na história real (palpáveis e materiais e ao mesmo tempo interiores e psíquicas) [...]”[4]. Israel crê que a terra é criação de Deus e, portanto, que a vida é também dom de Deus.
Como Israel percebia a mediação divina na história, as expectativas messiânicas têm várias características que vão se modificando conforme a época histórica, mas mantendo intacta e inseparável a mesma e única espera[5]. A princípio a expectativa salvífica surge ligada à definição política da comunidade israelita. Os clãs tiveram seus lideres (patriarcas, Moisés, Josué, Juízes etc.), mas eles apenas apontam para o futuro esperado: o chefe carismático que tem em si o Espírito do Senhor (Jz 3, 10; 11, 29) e a unção, o Ungido do Senhor (1Sm 24, 7).
O reinado de Davi é visto como o dom que Deus prometera (Nm 24, 7. 17-19); que faz a Seu povo o que Ele quer ainda renovar. Espera-se que o Ungido venha como sucessor imediato de Davi (1Cr 17, 11), que faça como fez Davi (2Rs 22, 2). Então a representação de base aqui é a figura do rei. O rei tem como missão assegurar a paz nas fronteiras, é também a garantia de ordem da sociedade e do conjunto do cosmos. Deve assegurar a paz, a harmonia social (Sl 72), mas também a fecundidade da terra. O rei se tornou, portanto, o mediador de benção (Sl 21, 7)[6].
No período do exílio, a fé messiânica se enriquece com novos elementos. Não havia mais rei, o santuário havia sido destruído. A realeza desapareceu, mas não a esperança a ela vinculada de um mediador de uma salvação estável e definitiva. A figura do rei ainda era emblemática, mas associada à do rei humilhado, sofredor. A ideologia vigente supunha que o rei serviria para a salvação do povo por seu triunfo[7].
Aparece, então, o messianismo ligado ao tema do servo. Nos cânticos do servo de Deus, o Dêutero-Isaías traça o perfil de uma figura sofredora: é a figura de Israel, espalhado entre as nações. Com sua mensagem ele (o servo) encontra rejeição, hostilidade, é injuriado, ferido, desfigurado (Is 53 1-12). No entanto, a morte mais humilhante do servo, assume um valor expiatório[8]. No momento de crise das instituições, a esperança messiânica concentra-se nos profetas, sobretudo Jeremias, Ezequiel e Dêutero-Isaías. Com eles se falará de uma “nova aliança”, nova terra. É o tempo em que o povo escuta as palavras do Senhor.
Com o fim do exílio e a reconstrução do Templo, o sacerdócio retoma lugar de importância em face do desaparecimento da realeza e do profetismo. Assume as funções antes pertencentes ao rei (Sl 110, 4). Ele se torna o novo mediador da aliança e dessa mediação esperam-se agora justiça e benção (Ag 2, 10-20). O ministério sacerdotal parece ser a única instituição que representa agora Israel diante de Iahweh, que medeia a salvação no presente através do culto[9]. Essa situação é confirmada, sobretudo, nos textos de Dt 33, 8-11 e Ex 40, 15 e depois na comunidade de Qumrâm que esperará dois messias: o de Davi (régio) e o de Aarão (sacerdotal)[10].
Há ainda a expectativa messiânica esperada como intervenção celeste decisiva que ocorrerá em Israel e inaugurará o fim dos tempos (Dn 7), uma esperança escatológica do reino de Iahweh. Talvez as frustrações históricas tenham levado a essa expectativa. Três imagens se inserem nessa forma de compreender o messianismo: “[...] o anjo de Iahweh, a personificação da sabedoria e o Filho do homem na visão de Dn 7, 13-14”[11].

III – CONCLUSÃO

            Ao longo do trabalho percebeu-se que Israel tinha clara a presença do Senhor em seu meio. Entendia a redenção e a salvação como realizadas na história, a partir de suas esperanças, sofrimentos e alegrias. Conforme o povo vivia, esperava-se um referencial que correspondesse como mediador divino. Assim, ficou claro que o Messias é entendido também como o mediador entre Deus e seu povo, como aquele em que repousa o “Espírito do Senhor”, é Ungido e vem trazer paz e justiça.

IV - REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

KESSLER, Hans. Cristologia. In: SCHNEIDER (org.), Theodor. Manual de dogmática. v. 1. 2. Ed. Tradução de Ilson Kayser, Luís Marcos Sander e Walter Schulupp. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 219-400.
LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. Tradução de Paulo Meneses. São Paulo: Paulinas: Loyola, 2004.

LORENZO, Alvares. et. al. Lexicon: dicionário teológico enciclopédico. Tradução de João Paixão Netto e Alda da Anunciação Machado. São Paulo: Loyola, 2003.

MONLOUBOU, Louis. Dicionário bíblico universal. Petropólis: Vozes; Aparecida: Santuário,1996.



[1] MONLOUBOU, Louis. Dicionário bíblico universal. Petropólis: Vozes; Aparecida: Santuário,1996. p. 516.
[2] LORENZO, Alvares. et. al. Lexicon: dicionário teológico enciclopédico. Tradução de João Paixão Netto e Alda da Anunciação Machado. São Paulo: Loyola, 2003. p. 482.
[3] KESSLER, Hans. Cristologia. In: SCHNEIDER (org.), Theodor. Manual de dogmática. v. 1. 2. Ed. Tradução de Ilson Kayser, Luís Marcos Sander e Walter Schulupp. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 219-400. p. 222-223.
[4] Ibid., p. 224.
[5] LORENZO, Alvares., op. Cit., 2003, p. 482.
[6] Cf. LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. Tradução de Paulo Meneses. São Paulo: Paulinas: Loyola, 2004. p. 1125.
[7] Cf. MONLOUBOU, F., op. cit., 1996, p. 518.
[8] LACOSTE, J., op.cit., 2004, p.1126. 
[9] Cf. KESSLER, H., op. cit., 2000, p. 234.
[10] Cf. LORENZO, A., op. Cit., 2003, p. 482.
[11] LORENZO, A., op. Cit., 2003, p. 483.

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