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QUESTÕES ACERCA DOS EVANGELHOS DE MATEUS E MARCOS

SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS NOS EVANGELHOS DE MATEUS E MARCOS

1.      INTRODUÇÃO

O trabalho que ora se apresenta tem como objetivo analisar cinco semelhanças e cinco diferenças nos evangelhos de Mateus e Marcos. Para que tal objetivo seja concretizado a apresentação do texto deu-se do seguinte modo: primeiramente um tópico com as semelhanças que são cinco textos comuns aos dois evangelistas. Em seguida, um segundo tópico com as cinco diferenças que contêm a questão acerca da infância de Jesus que não é mencionada em Marcos e outros quatro textos que estão ou em Mateus ou em Marcos apenas.

2.      SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS NOS EVANGELHOS DE MATEUS E MARCOS

2.1  Semelhanças

2.1.1        Pregação de João Batista (Mt 3, 1-12; Mc 1, 1-8)

Os dois relatos são bem próximos. Mateus têm alguns detalhes a mais, mas a essência da mensagem e da pregação de João Batista está nos dois. Nos dois relatos está a recomendação do arrependimento (Mt 3, 2; Mc 1, 4b). Também a citação do Antigo Testamento é encontrada nos dois, embora em Marcos seja mais extensa e aponta João Batista como mensageiro (Mc 1, 2b). É consenso entre os dois evangelistas apresentar João Batista como voz (Mt 3, 3; Mc 1, 3). Depois, as características de João Batista, suas vestes e a comida que comia é igual nos dois evangelhos (Mt 3, 4; Mc 1, 6). O batismo de João é visto por ambos como um batismo de remissão dos pecados, de confissão (Mt 3, 5; Mc 1, 5b). Igualmente a menção de João àquele que há de vir é igual: “[...] não sou digno de tirar-lhe as sandálias” (Mt 3, 11; Mc 1, 7b), “é mais forte que eu” (Mt 3, 11b; Mc 1, 7), “[...] eu vos batizei com água, ele batizará com o Espírito Santo” (Mt 3, 11b; Mc 1, 8b). Outra característica importante são as diferenças nos dois relatos. Mateus trabalha a presença dos fariseus e saduceus no batismo realizado por João (Mt 3, 7) e demonstra certa resistência a essas classes. Inclusive coloca a questão do julgamento no final do relato afirmando que O que virá, vem com a “pá na mão” para julgar (Mt 3, 12). A questão da justiça divina é muito presente no evangelho de Mateus. Tanto é que na primeira vez que Jesus fala no Evangelho (Mt3, 15b) fala sobre a justiça. Já Marcos afirma apenas que muitos habitantes de Jerusalém iam até João (Mc 1, 5). Interessante ainda é que Marcos repete várias vezes o verbo proclamar (Mc 1, 3.4.7) testemunhando a missão de João Batista de apontar para o Messias que virá.

2.1.2        A cura de um leproso (Mt 8, 1-4; Mc 1, 40-45)

Outro relato semelhante nos evangelhos de Mateus é Marcos é a cura de um leproso. Nos dois textos o leproso aproxima-se de Jesus ajoelhando-se ou prostrando-se (Mt 8, 1; Mc 1, 40) e demostra certa fé nele: “Se queres” (Mt 8, 2b; Mc 1, 40b). Os gestos de Jesus também são idênticos nos dois relatos: estende a mão e toca (Mt8, 3; Mc 1, 41). E a reação de Jesus diante do pedido do leproso também é igual: “Eu quero, sê purificado” (Mt 8, 3b; Mc 1, 41b). Nos dois evangelhos, a cura acontece imediatamente ao querer de Jesus (Mt 8, 3c; Mc 1, 42), mas mediante a fé n’Ele. No final do milagre Jesus faz um pedido para o leproso de não dizer nada a ninguém, mas de apresentar-se ao sacerdote e apresentar a oferenda prescrita por Moisés (Mt 8, 4; Mc 1, 44). No entanto, existem também algumas diferenças nos dois textos. Em Mateus, Jesus está descendo da montanha e numerosas multidões o seguiam (Mt 8, 1), já Marcos diz apenas que um leproso foi até ele (Jesus) (Mc 1, 40). Em Marcos aparece a reação do leproso curado. Não seguiu as orientações de Jesus de ficar calado, mas começou a proclamar e a divulgar a notícia que tinha sido curado, a ponto de precisar Jesus retirar-se para lugares desertos porque de todos os lugares vinham pessoas procurá-lo (Mc 1, 45). E em Marcos há ainda um detalhe importante, Jesus atendeu o pedido do leproso “movido de compaixão” (Mc 1, 41). A questão acerca do testemunho é muito presente em Marcos. Encontrou-se com Jesus, não permanece mais o mesmo, vai anunciar!

2.1.3        Cura da Sogra de Pedro (Mt 8, 14-15; Mc 1, 29-31)

Outro texto comum aos dois evangelistas é a Cura da Sogra de Pedro. Em Mateus o relato é mais curto, já em Marcos têm mais detalhes. Mateus é direto em dizer que Jesus vai à casa de Pedro e, entrando, vê a sogra deste de cama com febre (Mt 8, 14). Marcos diz que Jesus ao sair da sinagoga vai a casa de Simão e André com mais duas pessoas: Tiago e João (Mc 1, 29). Em Mateus Jesus vê a sogra de Pedro com febre (Mt 8, 14). Em Marcos, afirma que ela estava de cama e com febre e eles imediatamente mostraram a Jesus (Mc 1, 30). Portanto, aqui tem o intermédio daqueles que foram com Jesus à casa de Simão e André. Nos dois relatos está o gesto de Jesus de tocar. Em Mateus Jesus simplesmente toca e a febre a deixa (Mt 8, 15). No escrito de Marcos, Jesus aproxima-se, toma-a pela mão e a faz levantar (Mc 1, 31). Note-se que em Marcos os gestos de Jesus são bem mais precisos. Depois destes gestos a febre a deixou. E em ambos os relatos, a sogra de Pedro, após a cura, coloca-se a servi-los (Mt 8, 15b; Mc 1, 31b). No entanto, em Mateus a sogra se levanta a si mesma, em Marcos, Jesus a fez levantar-se (Mc 1, 31). Importante notar a atitude da sogra. Assim que é curada começa a servir. Aqui está um ensinamento importante. Jesus não cura por curar, digamos, mas cura para o serviço, para estar sempre a servir o Reino que é o serviço aos irmãos e irmãs.

2.1.4        A tempestade acalmada (Mt 8, 23-27; Mc 4, 35-41)

O texto da tempestade acalmada é outro relato testemunhado pelos evangelhos de Mateus e Marcos. Nessa perícope, Marcos também é mais detalhista. Mateus apresenta Jesus que entra no barco e seus discípulos o acompanham (Mt 8, 23). Marcos, já diz que Jesus convidou os discípulos a irem à outra margem (Mc 4, 35). Marcos ainda afirma que deixando as multidões levaram Jesus como estava, mas com eles haviam outros barcos (Mc 4, 36). Nos dois textos aprece a tempestade no mar (Mt8, 24; Mc 4, 37). Em Mateus, porém, chama-se agitação e o barco era varrido pelas ondas (Mt 8, 24). Marcos fala que as ondas se jogavam para dentro do barco e o barco estava se enchendo de água (Mc 4, 37b). Em ambos os textos, Jesus dormia (Mt 8, 24b; Mc 4, 38), mas em Marcos há um detalhe: Jesus estava na popa e dormia sobre o travesseiro. Em Mateus e Marcos os discípulos acordam Jesus. No entanto, em Mateus há um pedido deles para que o Senhor os salve porque estão perecendo (Mt 8, 25b), em Marcos, os discípulos parecem como que irritados porque Jesus dormia e não se preocupava com a tempestade que os ameaçava: “Não te importa que pereçamos?” (Mc 4, 38b). Nos dois relatos, porém, Jesus questiona a fé dos discípulos: “Não tendes fé?”(Mc 4, 40b), “Homens fracos na fé” (Mt 8, 26b). Nos dois relatos, ainda, fica de pé e conjura severamente o mar (Mt 8, 26b; Mc 4, 39). E o mar é acalmado, há grande bonança (Mt 8, 26c; Mc 4, 39c). Em Marcos Jesus fala ao mar: “Silêncio! Quieto!” (Mc 4, 39b). É necessário notar que nos dois relatos os discípulos ficam com medo. Mas em Mateus eles têm medo da agitação do mar (Mt 8, 26) e em Marcos eles têm medo de Jesus que acalma o mar. Parece que não conhecem o poder que o Mestre que eles seguem tem (Mc 4, 41). Em Mateus acontece reação semelhante, mas eles ficam espantados com o poder de Jesus (Mt 8, 27). E o questionamento dos discípulos é o mesmo nos dois relatos: “Quem é esse que até o vento obedece?” (Mt 8, 27; Mc 4, 41b). A fé em Jesus é essencial para o seguimento. Por isso, Jesus critica a falta de fé dos discípulos. Não raras vezes, os mais próximos de Jesus fraquejam na fé. E o medo é um empecilho para a fé. Quando se tem medo, não se confia!

2.1.5        Quem é o maior? (Mt 18, 1-4; Mc 9, 33-37)

O relato sobre quem é o maior no Reino dos Céus aparece nos dois evangelhos. Em Marcos, mais uma vez, é um relato mais denso de detalhes que parecem muito importantes. A essência do texto é a questão acerca do maior no Reino. Está presente nos dois textos. Em Mateus os discípulos têm a iniciativa de perguntar a Jesus quem é o maior (Mt 18, 1). Em Marcos, Jesus pergunta o que eles discutiam pelo caminho (Mc 9, 33b). Tanto em Mateus quanto Marcos o local é a cidade de Cafarnaum (Mt 17, 24; Mc 9, 30), mas em Marcos precisa mais: “em casa”. Em Marcos os discípulos ficam em silêncio diante da pergunta de Jesus justamente porque discutiam qual era o maior (Mc 9, 34). Jesus senta-se, chama os doze e lhes explica que o maior é aquele que se faz último, menor e servo de todos (Mc 9, 35). Depois disso, toma uma criança, como em Mateus, coloca-a no meio deles e pega-a nos braços (Mc 9, 36b). Em Mateus, Jesus chamou perto de si uma criança (Mt 18, 2) e o que se deve fazer é converter e tornar-se como criança, ou seja, fazer-se pequeno, simples, humilde, de coração puro e sem maldade (Mt 18, 3-4). Em Marcos, além de se tornar o menor, o servo de todos, é preciso acolher a todos como se estivesse acolhendo a Jesus mesmo, até mesmo uma criança (Mc 9, 37), porque o essencial é receber Jesus, porque recebendo Jesus recebe-se também aquele que O enviou (Mc 9, 37b). O Reino de Deus é uma proposta diferente. É a proposta do Reino do amor, da simplicidade, da justiça, do serviço. É o Reino onde o mais importante não sou eu, mas o outro, o pobre, o pequeno, o excluído, aquele que nada tem a não ser Deus mesmo. É uma contra-proposta ao poder, à injustiça, à disputa por cargos e serviços importantes e de destaque. É o reino do fermento na massa...





2.2  Diferenças

2.2.1        Infância de Jesus (Mt 1-2)

A primeira diferença entre os evangelhos de Mateus e Marcos está no relato da infância de Jesus (está apenas em Mateus e Lucas). Em Marcos esses textos não são colocados. Isso possivelmente se explique pelo fato de que o evangelho de Marcos é o mais antigo e, no início, o anúncio do evangelho era o Kerigma da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Somente mais tarde houve a necessidade de esclarecer quem era Jesus, de onde veio, qual sua origem. Várias foram as fontes dos relatos da infância, muitas de contextos pagãos, no entanto o midrash é o que mais se considera, por ser uma reflexão sobre a Sagrada Escritura e uma atualização dos dados bíblicos em função do presente. Possivelmente o midrash sobre Moisés inspirou Mateus no evangelho da infância e fuga para o Egito. Algumas características da narração de Mateus: Jesus é colocado como descendente de Abraão (Mt 1, 1) dado que escreve para judeus convertidos. Preocupa-se com a universalidade da salvação inserindo o nome de mulheres na narração (Mt 1, 3.5.5.6b), além da menção dos magos (Mt 2, 1-12) mostrando a epifania a todos os povos. O anúncio é feito a José (Mt1, 20) que introduz Jesus na sociedade e ensina-lhe a profissão de carpinteiro e José é quem dá o nome a Jesus (Mt 1, 21).

2.2.2        As bem-aventuranças (Mt 5, 13-12)

Outro relato que aparece apenas em Mateus e Lucas, não em Marcos, são as bem-aventuranças. O monte significa o lugar da revelação divina (Mt 5, 1). Interessante que Jesus fala sentado (5, 1b) demonstrando a posição em que fala o Mestre com autoridade. Mateus qualifica a fala de Jesus como ensinamento (5, 2). Com esse ensinamento Jesus quer mostrar que cada homem é chamado a tomar posição diante do convite da Palavra de Deus, mudar de vida. O gênero literário consiste na palavra de felicitação e congratulação, onde os congratulados são os observantes da lei de Deus. Perceba-se que Mateus escreve para judeus convertidos (importância do cumprimento da lei). As bem-aventuranças têm vários significados: o cumprimento da justiça, a humildade, o consolo, a misericórdia, a conquista do Reino e, sobretudo a libertação integral da pessoa humana. É um chamamento para a hora decisiva em que todos os excluídos, os indefesos, os oprimidos serão defendidos por Deus, será feita a justiça divina. As bem-aventuranças proclamam assim que Deus está do lado dos pobres, dos que sofrem, dos indefesos, dos que não têm ninguém por si. Jesus se liga a todas essas realidades desumanas apontando que as bem-aventuranças são também o ingresso de Deus na história criando justiça e paz para todos. Por isso, Jesus é messias da terra o sentido que está ligado à história do mundo. As bem-aventuranças impõem uma mudança de vida, tomar a causa dos pobres, colocar a lei a serviço da vida e da esperança. São sinais de salvação, da escatologia, da promessa de novos céus e nova terra que o Senhor mesmo faz. O Reino dos céus é, desse modo, o reino da vida, dos ressuscitados para a vida, o reino do serviço aos irmãos, da igualdade e da dignidade.

2.2.3        A verdadeira oração: o pai-nosso (Mt 6, 7-15)

A oração do Pai nosso também está presenta em Mateus e em Lucas (11, 1-4) e não em Marcos. Já no início Jesus assevera a rezar não com muitas repetições e com excesso de palavras (Mt 6, 7). Assim fazem os fariseus. Mas Deus sabe de antemão do que necessitamos (6, 8). E ensina a verdadeira oração: o Pai nosso. Jesus evidentemente não se opõe à oração pública, mas insiste que a oração deve ser destinada a louvar e suplicar ao Pai, não à instrumentalização da mesma. Quando Jesus afirma que o Pai já sabe do que necessitamos sugere a expressão de confiança de filhos, a consciência de que temos necessidade de Deus. Interessante que Mateus faz uma bonita articulação na oração: na primeira parte estão os pedidos que se referem às realidades de Deus: teu nome, teu Reino, tua vontade; na segunda, pedidos inerentes à vida do homem e da mulher: nosso pão, nossos pecados, nós. É um diálogo da comunidade dos crentes com o Pai dos céus. Mais uma vez Mateus coloca a dimensão do outro, do irmão.  O perdão só é oferecido à medida que perdoo os que também me ofenderam (6, 12). Pede-se também para ser livre das tentações (6, 13-15), das quedas que cotidianamente aparecem na vida da comunidade para ofuscar a beleza da salvação oferecida por Deus. Enfim, a oração aparece como confiança no Pai e pedido de que olhe para a fraqueza humana, ao mesmo tempo em que demostra a confiança total na salvação, na vinda do Reino definitivo de Deus.  

2.2.4        Cura de dois cegos (Mt 9, 27-31)

Outro relato que aparece apenas em Mateus é a cura de dois cegos. Incialmente a pergunta por que dois? Mateus escreve para judeus convertidos, os judeus precisam de duas testemunhas para dar crédito a um fato. Por isso, no evangelho de Mateus sempre têm duas testemunhas, dois curados, dois que voltam para dar testemunho, Jesus envia de dois em dois. Nesse texto, Jesus cura dois cegos que o seguiam e gritavam pedindo compaixão (Mt 9, 27). Interessante que Jesus pergunta aos cegos se eles creêm que ele pode realizar a cura (Mt 9, 28b). Eles respondem “sim” (Mt 9, 28c). Jesus então lhes toca os olhos e ordena que seja feito conforme a fé deles (Mt 9, 29). É preciso notar que a fé aqui é colocada como condição para a cura. São curados porque acreditam no poder de Jesus. A atitude do que crê é a confiança profunda no Senhor e no seu poder salvador. E a fé não fica sem resposta. Mas vem a cura. Seus olhos se abriram (Mt 9, 30). Jesus pediu-lhes energicamente que ninguém soubesse (Mt 9, 30). No entanto, eles espalharam a fama de Jesus pela região. Interessante notar também que os curados, na maioria dos casos, não conseguem ficar em silêncio, mas saem anunciando a maravilha que receberam de Jesus aos outros. É o testemunho e a força do mesmo na comunidade. Quando se fala da cura da cegueira, está-se falando da necessidade da cura da cegueira espiritual, que impede de estar com Jesus, de reconhecê-lo.

2.2.5        Cura de um surdo-gago (Mc 7, 31-37)

Este episódio da cura de um surdo-gago está relatado apenas em Marcos. Jesus sai de Tiro, segue em direção ao mar da Galileia, passando por Sidônia e atravessando a região da Decápole (mc 7, 31). Importante perceber que em Marcos sempre os lugares por onde Jesus passa e realiza milagres são bem determinados. Mostra que o tema predominante aqui é o do chamamento dos pagãos à salvação. Jesus caminha nessa região de pagãos. Trazem um cego-gago até Jesus para que ele impusesse as mãos sobre o cego (Mc 7, 32). É bom notar que Jesus não realiza o milagre na frente de todos, mas leva o cego-gago a um lugar em que ficam a sós (Mc 7, 33). É sempre o sentido de instruir no seguimento os discípulos e, ao mesmo tempo, o diálogo entre Jesus e o surdo-gago evoca a relação pessoa do Mestre-discípulo e a adesão à fé. Jesus coloca os dedos nas suas orelhas, toca-lhe a língua com saliva e pronuncia a palavra Éffatha, abre-te e o cego-gago fica curado imediatamente (Mc 9, 34-35). No evangelho de Marcos é muito comum as palavras logo, imediatamente que denotam a confirmação do poder de Jesus enquanto o enviado do Pai, o Messias. Mais uma vez Jesus proíbe de falar o que acontecera, mas faz-se o contrário e todos ficam maravilhados com a cura e proclamam o que Jesus operou dizendo que ele faz o bem: surdos ouvem, mudos falam (Mc 7, 36-37). No silêncio pedido para Jesus está o segredo messiânico, no qual Jesus vai aos poucos revelando que tipo de Messias é ele. O povo esperava um messias-rei-poderoso, Jesus é o Messias-servo sofredor. Marcos ressalta várias vezes a dimensão do seguimento. Nesse sentido, o fato de não se calar diante das maravilhas que Jesus realiza é um modo de expressar que aqueles que fazem um encontro com Jesus são como que impelidos para o seguimento. Ao mesmo tempo, a cura do cego-gago é sempre um ensinamento para os próprios discípulos sobre a cegueira e falta de coragem de anunciar o Reino e o cumprimento profético que se realiza nos gestos de Jesus e na comunidade dos pagãos que escutam a palavra e aderem à fé.

3 CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como meta analisar os evangelhos de Mateus e Marcos apontando cinco semelhanças e cinco diferenças dos mesmos. Com isso, percebeu-se maior compreensão dos ditos evangelhos, ao mesmo tempo que permitiu uma investigação mais apurada dos textos escolhidos e analisados. Alguns elementos destacam-se como pontos importantes: a importância da fé para a realização das curas e milagres de Jesus, o Reino como opção diferente do reino dos homens: simplicidade, pobreza, humildade, serviço. O segredo messiânico como proposta de um messianismo diferente, servidor.
Também a questão da lei sempre a serviço da vida e não a lei pela lei. A cegueira física como advertência contra a cegueira espiritual. Além disso, a dimensão dos gestos de Jesus: o toque, a imposição das mãos. Diversas vezes nos dois evangelhos, Mateus e Marcos, aparece a dimensão do gesto de Jesus e diversas vezes as pessoas mesmas que levam alguém até ele levam para que Jesus toque, cure. As bem-aventuranças como sinal do Reino já presente, mas que evoca a libertação total, plena do ser humano. A oração verdadeira, chamar a Deus de “Pai”, confiar plenamente nele.

4 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


BARBAGLIO, Giusepe; FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os evangelhos (I). tradução de Jaldemir Vitorio e Giovanni di Biasio. São Paulo: Loyola, 1990.

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