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NOVA EVANGELIZAÇÃO: NÃO É A PRIMEIRA VEZ


Na semana passada, participei, em Roma, da primeira reunião plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. Presidem o Organismo os arcebispos Rino Fisichella (presidente) e Robles Arenas (secretário); ao todo, os membros são 20, entre cardeais e bispos de várias partes do mundo e membros da Cúria Romana.
 
Os participantes da reunião foram recebidos em audiência pelo papa Bento 16, que renovou sua preocupação, de longa data, com a crise da vida cristã, sobretudo nos lugares de antiga tradição cristã, como a própria Europa, e com a necessidade de anunciar o Evangelho de forma renovada ao homem do nosso tempo; a crise pode se manifestar com traços de exclusão de Deus da vida das pessoas, ou de uma generalizada indiferença em relação à própria fé cristã, ou ainda como tentativa de excluir completamente da vida pública qualquer referência à fé e aos valores cristãos.
 
Se, num passado recente, havia certo consenso em torno de valores culturais compartilhados, de fundo cristão, nota-se hoje uma fragmentação muito grande dos referenciais religiosos, morais e mesmo antropológicos e cada um é levado a ter em si próprio, nos seus desejos, paixões, sentimentos ou instintos, o único referencial para tudo; disso também decorre a progressiva dissolução das bases do convívio social, da educação e da cultura. Falta a base unificante, que era oferecida pela religião e, no ocidente, de maneira especial, pelo cristianismo.
 
O papa reconheceu que as consequências desse tipo de secularização tornam, por vezes, especialmente difícil anunciar Jesus Cristo ao mundo de hoje. No entanto, a missão não mudou, nem também a nossa tarefa; a Igreja não pode deixar de corresponder plenamente ao mandato recebido de Cristo – de anunciar o Evangelho a todos os povos, sempre e por toda parte. O início da pregação do Evangelho não foi fácil, mas, com a graça do Espírito Santo, o anúncio penetrou as culturas e as transformou.
 
Na história bimilenar da Igreja, já houve outros momentos em que a vida cristã passou por crises, por diversos fatores, e foi preciso fazer algo semelhante ao que a Igreja se propõe a realizar hoje. Nos séculos 7º e 8º, foi necessário que o papa chamasse missionários da Irlanda e da Inglaterra, sobretudo monges, para evangelizar novamente a Europa continental; a partir do século 13, na Idade Média, algo semelhante aconteceu com as tentativas de “reforma” da Igreja e o surgimento das ordens mendicantes, especialmente dominicanos e franciscanos, que iniciaram um fecundo movimento de missões populares.
 
Não foi diferente depois do Concílio de Trento, no século 16, quando um grande esforço de renovação da Igreja deu origem a uma renovação dinâmica, com o surgimento de novas ordens e institutos missionários, a reforma dos seminários e da formação do clero, dos religiosos e dos leigos. E ainda, no século 19, após a grave crise desencadeada pelo Iluminismo e o Modernismo, mas também pelas mudanças sociais e políticas da época, o Espírito Santo suscitou mais uma vez no seio da Igreja uma imensa “onda missionária”, com diversos desdobramentos para a renovação da vida cristã.
 
Vivemos no período pós-conciliar, do Vaticano 2º, cuja convocação está para completar 50 anos; o próprio Concílio já foi realizado sob o impulso de um “espírito de renovação”, para que a Igreja pudesse cumprir sua missão de maneira mais adequada às circunstâncias atuais. Sempre se disse que foi um Concílio “pastoral”; talvez possamos reler hoje suas intenções e documentos sob uma nova ótica: um Concílio “missionário”, voltado a propor o bem da fé de forma renovada para o mundo. Talvez ainda ficamos demasiadamente voltados para dentro da Igreja na interpretação dos textos conciliares, enquanto sua intenção era falar mais e melhor ao mundo e com o mundo sobre a Boa Nova. Muito leva a crer que estamos caminhando para isso!
 
A Igreja existe para a missão e a graça da missão requer sempre evangelizadores novos, como afirmou o papa Bento 16. As grandes intuições do Concílio Vaticano 2º, longe de estarem esgotadas, precisam ser retomadas e, agora com mais serenidade, postas a produzir todo o seu fruto. De fato, nesses 50 anos de pós-Concílio, já se podem constatar muitos frutos por ele produzidos; agora estamos em condições de perceber ainda melhor onde e como a renovação da vida cristã e eclesial deve acontecer, e como fazer frutificar cada uma das grandes intuições do Concílio, de forma missionária, como já vem acontecendo. Deus nos ajude! Os santos evangelizadores nos inspirem!

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