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IDEOLOGIA OU MODOS DIFERENTES DE VER?


Tenho feito uma experiência muito interessante. Terminando o curso de Licenciatura em filosofia tenho, cada vez mais, me apaixonado pela filosofia, por suas teorias e concomitantemente por diversos filósofos. Eles me ajudam a entender o mundo. E mesmo hoje, neste universo informatizado em que as informações nos chegam em tempo real, percebo que suas teorias e ‘pontos de vista’ têm ainda muito a ajudar a refletir a sociedade em que vivemos.
Nesse sentido, despertou-me muita atenção as aulas sobre Marx, sua filosofia e seus conceitos. Contudo, seu pensamento sobre alienação e ideologia me despertou ainda mais para o problema tão atual que vivemos hoje. Para Marx, o conceito de alienação permeia todos os seus conceitos.
Mas o que é alienação para Marx? Algo que não pertence ao indivíduo, não pertença a alguma coisa. Por isso, pode haver alienação econômica, religiosa, filosófica, social. A alienação econômica está ligada ao fator do trabalho. Ou seja, existem coisas na economia que não pertencem a alguém. Portanto, se há algo na economia que me é negado, também haverá no social e no político. Meus direitos poderão ser negados nestas três esferas. Esta alienação converge com a questão do trabalho, como disse. Para entender tudo isso é necessário ter em mente a história de evolução do capitalismo, desde o mercantilismo no final de Idade Média e início da Moderna até a Revolução Industrial, bem como as mudanças inerentes a estes sistemas. Isto é, um advento das máquinas, êxodo rural e superpovoamento nas cidades em busca de trabalho nas fábricas, exploração do trabalhador, inclusive de mulheres e crianças e o mundo do trabalho na sociedade capitalista: o operário, a fábrica e o produto final. Nem um dos componentes que utiliza para executar seu trabalho pertence a ele. Só é dono da sua força de trabalho. Todo o resto é do patrão. Ele é um mecanismo ante os demais. Enquanto a classe econômica trabalha, a outra, a classe burguesa detém as máquinas, a fábrica, o capital e o lucro advindo do trabalho do operário. O trabalhador cria o produto, mas a sua criação não lhe pertence.
A alienação religiosa, a meu ver muito presente hoje, é para Marx aquela que transfere todas as responsabilidades inerentes ao homem para Deus. Atribuir a Deus algo que é próprio da existência. Colocar no divino alguma coisa que deveria fazer e buscar aqui na terra. E por fim, a alienação filosófica. Marx critica a filosofia que se converteu numa abstração sem a preocupação de transformar a realidade do homem. Chega a dizer que até agora os filósofos pensaram, agora é preciso transformar o mundo. Não é mais preciso apenas uma prática, mas uma verdadeira PRÁXIS, ou seja, não uma simples ação, mas uma ação refletida, não uma ação mecânica.
Bem, simplificadamente, sem a preocupação de rigor, essa é a visão de Marx sobre a alienação. Consequentemente o que está por trás de tudo isso é a alienação do operário por parte dos proprietários dos meios de produção e do capital.
Já no Dicionário Aurélio está a seguinte definição de ideologia: “Conjunto de idéias que têm por base uma teoria política ou econômica. Modo de ver, próprio de um indivíduo ou de uma classe”. Será? Acredito que essa é uma vertente da ideologia, até uma ideologia positiva enquanto prevalece um debate em sala de aula sobre um determinado assunto ou um determinado modo de ver sobre determinado assunto, uma opinião divergente e diferente. Mas percebo que a ideologia vai muito além disso. E concordo bastante com Marx quando pensamos que é uma forma má, perversa de conseguir os objetivos de uma classe, geralmente a de poder econômico. Interessante que a ideologia dos dominantes contamina todos os setores da sociedade, desde a mídia, até o trabalhador que todos os dias sai de casa para o serviço, recebe um certificado de melhor funcionário e se enche de orgulho. Mal sabe ele que o orgulho é todo da empresa que está lucrando mais com o seu trabalho e pagando um preço injusto por ele. Outro tipo de ideologia é aquele que a pobreza é resultado de trabalhadores preguiçosos e por isso não conseguem mudar de situação econômica e social, ou aquela de que política é isso mesmo, todo mundo ‘entra nessa pra mudar de vida e ganhar um dinheirinho extra’.
Não pode ter voz entre nós esses pensamentos e essas formas baixas que alguns segmentos utilizam para nos enganar e para aceitarmos passivamente as regras e normas impostas por eles. Ao contrário, hoje, mais que em tempos passados, é extremamente necessário saber ver com olhos de águia a realidade. Interpretar com sabedoria os acontecimentos atuais e aquilo que chega até nós pelos meios de comunicação.
Parece-me, mais do que nunca, necessário seguir o conselho de Nietzsche para um espírito livre: “é preciso habitar nas altas montanhas e lá respirar ar puro”, é necessário também “não permanecer na praça pública, mas cultivar a solidão”; afinal é preciso pensar por si mesmo e assim, unindo forças com aqueles que também têm opiniões próprias e acertadas, lutar por uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. Pontos de vista e modos de ver diferentes sim! Ideologias opressoras e exploradoras, não!


Eduardo Moreira Guimarães
5º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio – PR

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