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FICHAMENTO: AS LUTAS DO POVO BRASILEIRO


Introdução
Onde está o povo?
p.06
Nos livros de história o povo quase nunca aparece.

A partir daí se exerce um controle ideológico tendo por base o seguinte: são os “grandes homens”, os “heróis” e os “santos” que lutam pelas massas, pois elas são incapazes de entender a grande política.

p.07
O culto ao herói, ao grande homem, é utilíssimo ao poder.

É uma das grandes forças que mantêm a opressão sobre a maioria do povo brasileiro.

Depois de milhares de anos de vida social, não é de admirar que a maioria das pessoas acredite [...] que a sociedade é injusta porque os homens são maus.

p.08
Os primeiros escritos sobre o Brasil narram maravilhas.

São meias-verdades e mentiras transformando-se em mito.

p.09
É preciso mentir e criar o mito, para colonizar o país.

Criar mentiras e transformá-las em mito foi uma necessidade do invasor português no Brasil.



p.10
[...] é mais fácil extirpar o povo das páginas da história do que do seu país. Ele está aí. Lutando.

Que país é esse?
É uma sociedade de classes, onde a propriedade privada é sagrada. Tudo tem dono. Também a virtude. E a sem-vergonhice.

Em quinhentos anos de história as classes dominantes [...] fecharam questão com as virtudes: tudo é deles. E deram aos pobres o conjunto de fenômenos que forma o “mau caráter” do povo brasileiro.

p.11
A religião do povo não era esta, corrupta e hipócrita [...].

p.12
Também antigamente como hoje, atribui-se ao povo a ignorância política e a cegueira religiosa; e aos ricos esclarecidos, o domínio do saber e os valores morais e religiosos mais elevados.

Uma sociedade que se sustenta na injustiça, ou seja, no direito de uma minoria usufruir dos benefícios maiores do conjunto da produção, precisa estabelecer certas mentiras para justificar a opressão.

p.13
Na sociedade brasileira, o homem que trabalha com as mãos [...] é considerado incapaz cultural e politicamente. Ele só deve trabalha; política e saber são para os doutos.

1. O que parece, mas não é
Invasão holandesa
p.15
Derrotada na Bahia, a Holanda invadiu Pernambuco em 1630. Vinha em busca do açúcar. Em 14 de fevereiro de 1630, 64 navios e mais de 7 mil homens conquistaram o Recife. Até 26 de janeiro de 1654 foram guerra e conchavo, traições, acordos secretos, disputas pela segurança. Poder político e dinheiro.

p.16
Em meio a essa luta há um fato pouco discutido na história do Brasil: a forte presença dos judeus. A sociedade pernambucana dividia-se em senhores e escravos.

p.17
Se é importante a vitória portuguesa para sua fixação no norte do Brasil, expulsando holandeses, não menos importante é que essa vitória provoca também a diáspora dos judeus de Pernambuco.

p.18
A espada nunca parou de raivar. Nem o medo.

[...] a desconhecida rebelião do Nosso Pai, em 1666, em Pernambuco.

Esse movimento tinha alguns aspectos libertários. Nossa Pai era uma procissão que ocorria vez por outra, com grande afluência do povo.

p.19
Não basta ter povo morrendo para que uma causa seja popular.

Beckmam – a luta da nobreza
Ele e seu irmão Tomaz chefiaram uma rebelião contra o governo colonial em São Luiz, em 25 de fevereiro de 1684.

Em seguida instala o seu governo, que surge com algumas novidades: formados de três representantes dos três “estados” – povo, clero e nobreza -, o novo governo cria os cargos de procuradores do povo, que ouviriam suas queixas e reivinidcações.

p.20
Na raiz de tudo isso estava a falta de mão-de-obra.

Emboabas – a luta pelo ouro
p.22
Emboabas eram os “estrangeiros”; contra eles, os paulistas descobridores de ouro em Minas Gerais.

p.23
a escrava simboliza bem como o povo viu a emboaba: como agente passivo, assistindo e tendo de morrer, mas sem interessa maior. O ouro – afinal o que importava... – não era coisa sua.

p.24
A conseqüência maior dessa guerra é a consciência do governo português de organizar uma melhor administração, criando a capitania das Minas do Ouro, separada do Rio de Janeiro.

Mascastes – a luta dos comerciantes
A situação política e econômica da colônia evolui a partir da metade do século XVII, com o fim da invasão holandesa. Em Pernambuco, entre 1710 e 1711, essas mudanças provocam a Guerra dos Mascates, quando os grandes senhores nativos – proprietários abrasileirados e brasileiros – tentam conter a expansão econômica dos comerciantes portugueses.

p.25
Por trás de tudo, porém, está a queda do preço internacional do açúcar, levando vários “grandes senhores” à falência e à dependência de empréstimos.

Balaiada – a luta dos que não sabem
p.26
A balaiada tem todo jeito de ser uma grande insurreição popular. [...] Levantou as massas sertanejas do interior do Maranhão entre 1838 e 1841.

p.27
[...] todos queriam vingar-se de alguma coisa – da pobreza, dos maus tratos, injustiça. Mas não tinham um projeto político definido. Eram contra a opressão e, sendo muitos, eram fortes.


p.30
É um povo que luta. E morre. Sem saber por quê.

2. Independência. Ou morte?
Inconfidência mineira – a luta dos poetas e ricos
p.32
Por causa do ouro e dos impostos, está começando a Inconfidência Mineira. Embora com nuanças literárias, quase sempre por causa do visionarismo de Tiradentes, foi na verdade uma rebelião de gente rica que não queria pagar impostos extorsivos. Gente culta, fina, de punhos de renda, que estudou na Europa e aprendeu superficialmente o pensamento liberal da época [...].

p.33
Os pobres não se interessam nem são convidados.

p.35
Onze dos implicados foram condenados à forca. Seis, degredados. Só Tiradentes morreu: o único de todos que não era um grande senhor. Apenas um homem honesto, idealista e visionário. Ou seja, um demônio de 1792 – um santo hoje.

A República de 1817 – a luta de “quase” todos
p.37
No começo do século XIX chegavam ao Brasil as idéias libertárias dos europeus, principalmente dos franceses, e muita gente sonhava com o exemplo norte-americano. Enfim, liberdade – e já era tarde.

O clima era de rebelião.

Em 8 de março de 1817 estava constituído um governo republicano em Recife, administrado por cinco nomes, com um conselho também de cinco membros. Em 19 de março a Paraíba instala a República.

p.38
A “aventura” – é assim que geralmente se diz dos sonhos derrotados – durou apenas 75 dias.
p.39
a República de 1817 foi o primeiro governo realmente brasileiro. Previa uma Constituição, a ser votada por uma assembléia constituinte. Tinha traços progressistas notórios para a época: liberdade religiosa e de pensamento, entre outras providências, mas um detalhe comprometedor – a escravidão.

p.40
É uma lição freqüente na história, que ainda precisa ser estudada: sempre que perde o apoio popular, uma revolução transforma-se em ditadura. Reprimida pelas armas ou degenerada na luta pelo poder.

Confederação do Equador – a luta contra a contra-revolução
p.41
A situação brasileira é instável: há um desejo de liberdade no ar. Há experiência recente de rebeliões sufocadas com derramamento de sangue. Forças revolucionárias, como os republicanos de 1817, assistem à entrada dos palacianos, políticos hábeis, com ligações internacionais, manobrando para uma saída honrosa.

p.43
[...] o fato é que a princesa (Leopoldina), depois imperatriz, deu o primeiro e decisivo passo para que o seu titubeante marido desse o grito do Ipiranga. As medidas que ela tomou no Rio de Janeiro, como regente, praticamente levaram Pedro I a romper com Portugal.
p.44
O 7 de setembro foi mais um golpe contra-revolucionário para esmagar as insurreições libertárias e republicanas que um ato contra Portugal.

p.45
Em 1824 surge a insurreição conhecida como Confederação do Equador, que é, em essência, a resposta ao autoritarismo do imperador.

p.47
[...] as classes dominantes só admitem idéias progressistas na medida em que provocam participação do povo em favor dos objetivos imediatos da própria elite; quando as idéias passam a ser atos concretos, implicando igualdade social ou ameaçando a perda de privilégios, são rejeitadas e combatidas.

p.48
Consolidava-se assim a “independência”, proclamada por Pedro I no 7 de setembro de 1822, matando-se os que realmente lutaram pela liberdade do Brasil. Independência. Ou morte?

3. O povo seduzido
Sabinada – a luta bem falada
p.50
Apesar da aparente participação popular na Sabinada, prevalecia entre os revoltosos a classe média. Foi a insurreição mais discutida do Brasil, enquanto se processava.

p.51
[...] na Sabinada não houve a mesma participação popular da Cabanagem, nem o vigor da Farroupilha, ela foi muito mais nítida ideologicamente.

p.52
Mais uma vez a história se repete como tragédia: uma lição do poder, com sua pedagogia do terror, para que seu núcleo ideológico não seja posto em questão.

Farroupilha – a luta traída em Porongos
p.52-53
São dez anos de guerra até o banho de sangue de Porongos, quando são mortos os negros que lutaram iludidos pela promessa de liberdade. No centro da discórdia, os impostos, a centralização política, a hegemonia do latifúndio, a proteção alfandegária que favorece os produtos argentinos e uruguaios em detrimento da produção do Rio Grande, fazendo aflorar o republicanismo federalista. E a própria crise econômica do Rio Grande do Sul, evidentemente agravada com as restrições impostas pela Regência.

p.55
A insatisfação dos grandes latifundiários, donos do poder econômico, mas contidos politicamente, estimula as manifestações liberais.

p.56
[...] a Farroupilha se faz [...] principalmente contra o poder central de uma oligarquia sediada no Rio de Janeiro, sufocando o resto da população.

[...] a verdadeira aliança dos grandes senhores que vão fazer a guerra, evidentemente, não é com o seu povo, mas com o Império.

p.60
[...] o final feliz traduz um conchavo de poderosos, temperado com cinismo de opinião.

p.61
[...] não basta haver povo para haver revolução. O que determina se um movimento é realmente popular é o seu potencial de subverter estruturas socioeconômicas que exploram o povo.
p.62
A soma de derrotas faz com que suas forças sejam formadas por uma maioria negra ao final da luta, e isso destaca a verdadeira face dos “liberais republicanos”.

p.63
Ao final da luta os negros são mais da metade do exército farroupilha e têm formal promessa dos seus líderes de serem libertados.

p.64
[...] já não se trata apenas de preservar o mando político no Rio Grande do Sul, mas de evitar o perigo potencial de uma rebelião negra.

p.65-66
[...] o que fazer com alguns milhares de negros livres?

Acontece então a batalha de Porongos em 14 de novembro de 1844. Essa batalha é a forma arranjada entre Caxias e Canabarro para exterminar os negros, forjando um combate em que eles são colocados frente a frente e de modo que se matem.


Cabanada – a luta dos posseiros
p.67
Sertanejos e índios, mulatos e negros, fazendo da mata seu esconderijo, comandam ações guerrilheiras de grande ousadia, eliminando as tropas do governo a facadas e pauladas.

A Cabanada é um movimento dos mais ricos da história do Brasil: tudo nela é contradição.

p.68
[...] os grandes senhores querem a volta do imperador para retornar a uma situação de mando absoluto nos sertões pernambucanos.

p.69
Explodem no interior pernambucano vários focos insurrecionais, atingindo maior vigor em 1833 e 1834. A partir daí a massa cabana “degenera” o movimento, praticando uma guerrilha que desmente seu discurso conservador.

p.70
A Cabanada deixa de ser, assim que disseminada pelos sertões, a luta dos senhores para o retorno dos seus desmandos, para tornar-se um movimento voltado principalmente para sedimentação de núcleos comunitários livres e democráticos, em que o povo ocupa a terra e aprende um novo modo de vida.

p.71
[...] esse matar como feras é característico das forças do poder, mas se imputa exclusivamente ao povo que luta pela sua liberdade.

p.72
Infelizmente, na história do Brasil ainda prevalece a visão oficial do poder, que continua fazendo posseiros vomitar sangue.


Praieira – a luta das contradições
A Praieira caracteriza-se pelo paradoxo de ser impulsionada pelo povo sem conseguir, no entanto, aglutiná-lo em número suficiente para vencer a guerra.
p.74
[...] de um lado, ficam os liberais praieiros e o povo e, de outro, os latifundiários e conservadores aristocratas.

p.76
[...] os chefes praieiros pensam num entendimento com o Império, mas são “atrapalhados” pelo povo.

p.78
[...] a insurreição Praieira aparece para alguns historiadores como essencialmente popular. Aparentemente é: os homens que tentam tomar Recife são negros e maltrapilhos, chamados de bárbaros [...].

p.79
A Praieira é uma das mais importantes insurreições brasileiras [...], mas ela sofre o mesmo entrave de interpretação que outros movimentos inicialmente deflagrados pelas elites liberais: os escravos permaneciam escravos, como força inerte.

4. O povo vai à luta
Índios – a luta dos quinhentos anos
p.80
A primeira luta do povo brasileiro foi a do índio contra o invasor.

p.81
Fatalmente a violência da colonização, explicada pela ideologia dos vencedores a justificar o genocídio dos indígenas, induz a ver nos primeiros brasileiros a representação do atraso e nos que metam e pilham, as forças do progresso.

p.82
A medicina ou o conhecimento ecológico dos índios raramente são notados, e desprezam-se as informações sobre sua economia. Não se considera seu método de cultivo e caça, integrado ao ambiente.


p.83
O defeito desses índios não era a sua pretensa “inferioridade racial” nem o seu “atraso ideológico” e menos ainda a sua “decadência cultural”. O grande defeito deles era o defeito de todos os povos agredidos: lutar por sua terra, em defesa de seu modo de vida.

p.85
Violência e cupidez sem nenhum escrúpulo praticamente acabaram com os índios brasileiros.

p.86
Até a metade do século XVII (1650) calcula-se que os bandeirantes já haviam matado 300 mil índios.

p.88
[...] quanto maior é o empenho da Igreja em salvar as almas indígenas, mais ela lucrava materialmente: 5% de comissão sobre a venda dos negros escravos no Brasil.

p.90
[...] os índios realmente não têm futuro, perderam uma guerra de quinhentos anos.

Essa derrota foi só dos índios?

Negros – a luta inconclusa
p.92
Este é o problema: os índios e os negros perderam a guerra.

p.93
A escravidão é uma característica brutal do colonialismo.

Desumanizar o negro é o primeiro processo para entendê-lo como inferior e justificar o cativeiro, os castigos e até mesmo o direito de matá-lo.

p.94
A vida útil de um trabalhador negro era de sete anos, em média, no eito. Depois morria ou tornava-se inválido.
p.95
[...] os escravos não são uma classe revolucionária.

p.97-98
O crescimento de Palmares, subdividido em várias repúblicas, obedece a uma organização política e econômica apoiada na antiga experiência tribal africana para estabelecer formas de governo.

p.98
Palmares chegou a ter 20 mil habitantes, que se dividiram em vários núcleos, os mucambos.

p.99
Heróis não existem. Heróico é o povo negro que lutou em e por Palmares, e em todos os quilombos brasileiros, assim como em outras formas de resistência à opressão colonialista.

p.101
[...] não desejam um país livre e... negro. Essa é uma questão raramente estudada no processo abolicionista: o medo do “pretejamento” do país.

p.102
Sente dó dos negros, mas os entende como “fatores da nossa inferioridade como povo”.

Não foram os “brancos” que venceram a “luta pela vida”, mas as classes dominantes, com a opressão a negros e índios.

p.102-103
[...] durante a guerra (do Paraguai) “desaparece” um milhão de negros, quase metade dos existentes.

p.103
Em 13 de maio de 1888 a princesa Isabel assina a abolição. Na verdade, a abolição libertou o homem branco dos escravos.

Indefeso, deformado pela opressão escravista, seu destino foi ficar à margem, pois não foi absorvido como força de trabalho pela “nova” sociedade que surgia.

Negro é marca, sinal de inferioridade que cresce à medida que o país embranquece, diminuindo o número de pretos e aumentando o de mulatos que aspiram à branquidão.

Alfaiates – a luta pela liberdade
p.104
A Conjuração dos Alfaiates é o primeiro movimento revolucionário com um projeto global, que propõe mudar a sociedade colonialista no seu cerne: fim da escravidão e de todos os privilégios de casta e classe.

p.105
Enquanto a elite debate as idéias, fundando uma sociedade secreta para divulgar suas opiniões, pessoas “menos gradas” discutem, nas boticas e botecos, nas alfaiatarias e marcenarias, maneiras de aplicar tal ideário para derrubar  as estruturas do colonialismo.

p.106
[...] o que deve ser a Conjuração dos Alfaiates: o fim das diferenças entre brancos, pretos ou mulatos. Uma República a ser instituída sem privilégios de espécie alguma.

p.107
Fim dos privilégios, fim da escravidão e vigilância para o clero, medidas políticas que se apoiaram materialmente na liberdade de comércio.

A revolução abortou.

p.108
Pela primeira vez se demonstra uma coesão de princípios com um nítido sentimento de classe, exposto programaticamente.

Cabanagem – a luta do povo no poder
A Cabanagem é o único movimento popular no Brasil em que o povo toma o poder.

p.110
O povo quer escapar da miséria.

p.112
Na Cabanagem [...] um potencial revolucionário que vence militarmente, mas se perde por falta de programa político.


Quebra-quilos – a luta dos sem líderes
p.113
Como sempre, para explicar a reação do povo, a primeira coisa que o poder faz, e a historiografia oficial confirma, é denunciar as massas como incapazes de analisar criticamente uma situação.

p.115
[...] os pobres eram os mais tributados.

Enfim, a miséria produzida pelo latifúndio e a opressão financeira do fisco aceleram a revolta dos quebra-quilos.

p.117
Falta ao Quebra-quilos, porém, a presença dos escravos ou qualquer providência dos revoltosos para libertá-los: embora nitidamente popular, contra o latifúndio, era um movimento restrito, preso aos interesses de uma classe marginalizada pelos senhores de terra.

p.118
Mais uma vez o povo deixa escapar a oportunidade de organizar-se revolucionariamente, esgotando suas forças numa revolta de grande potencial político perdido.

Canudos – a luta pela utopia real
p.120
[...] Antônio Conselheiro começa a perambular pelo sertão. Conhecia o sofrimento do povo, a quem defendia no fórum.

p.121
É um líder do povo.

p.122
O povo viu os bons morrerem pela independência ali mesmo na Bahia, e ela não veio, ou chegou para os ricos continuarem explorando.

p.123
Um dos dramas do povo brasileiro é essa incapacidade de dar o passo decisivo nos grandes momentos históricos.

Canudos será a resposta mais trágica do povo sertanejo, tentando livrar-se da condição miserável a que era submetido pelo grande latifúndio. Nesse sentido, é movimento raro na história do Brasil: o único de que não participam elites intelectuais ou políticas. Todo ele é feito por gente do povo, com idéias próprias, elaborando um cristianismo peculiar, que, ao contrário da visão predominante, é extremamente lúcido, já que a consciência crítica condiciona-se á sua realidade social, sua fonte geradora.

p.125
Canudos teve 35 mil habitantes. De longe, parecia um presépio: as casas amontoavam-se, desordenadamente. Só havia uma rua e, no seu início, a primeira igreja, onde Antônio Conselheiro pregava.

p.126
Com uma utopia tão real não houve discurso que vencesse. Em alguns sentidos, Canudos antecipou-se às conquistas que, ainda hoje, são de pequenos grupos sociais.

p.127
Na comunidade pacífica, onde ninguém atira pedras, isolada em meio ao sistema capitalista brutal como o existente no Brasil, o poder logo atira bombas.

p.130
[...] Conselheiro pôs a “fraqueza do governo” a correr.

p.133
Os estrategistas de Canudos, “fanáticos jagunços”, impuseram ao Exército nacional uma das suas mais humilhantes derrotas.

p.136
A gente do povo tinha uma manifesta “honestidade primitiva”.

Canudos, depois de muita luta, foi derrotado. Não se rendeu: os sertanejos defenderam casa por casa, matando e morrendo com armas brancas. Recuando e atirando viram o fogo destruir as casas, queimar vivos e mortos.

p.139
São centenas de crianças que os soldados seqüestram, os oficiais “adotam” e os jornalistas “protegem”. Carregam também toda sorte de objetos como lembranças da campanha de Canudos.

A mentalidade dos que combateram Canudos explica o desprezo que as elites brasileiras sentem pela gente do povo.

p.140
Assim terminou Canudos, mas não a ânsia de liberdade. Seus mortos falam, na história do povo brasileiro.

p.141
Hoje há uma represa em Canudos. É uma cidade submersa.

O que ficou debaixo das águas?

Considerações finais
p.142
O povo lutou sempre. Continua lutando



REFERÊNCIA


CHIAVENATO, Júlio José. As lutas do povo brasileiro: do “descobrimento” a Canudos. 2.ed. São Paulo: Moderna, 2004. (Coleção polêmica)

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