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A MORTE NAS RELIGIÕES - J. B. Libanio


Esta lendo uns artigos do Pe. J. B. Libanio e, dentre outros, achei interessante este que compartilho com vocês.

O fato da morte persegue as religiões desde o início. Que acontece com esse ser humano que, vivo, de repente, cessa de existir? De onde ele veio e para onde ele vai? A vida lança ponte entre dois lados obscuros do existir humano: a origem e o fim. Ambos escapam à experiência pessoal. Ninguém vivencia a própria morte. Ela acontece sempre em outro. Então a religião entra para dar resposta a essa angustiante interrogação existencial.
                   Várias concepções de morte atravessaram a experiência religiosa de Israel. O patriarca se alegrava ao saber que filhos e netos lhe davam continuidade. Morriam na certeza de que eles continuavam nos descendentes.
                   Aos poucos, Israel avançou e imaginou um reino escuro, o sheol, onde os mortos bons e maus dormiam. Habitavam esse reino da morte sem mais. Em seguida, perceberam que lá havia lugar diferenciado para os justos e injustos. E em momento de arrojo de fé, acreditaram no poder de Javé de arrancar os mortos dessa morada obscura, devolvendo-lhes a vida no final dos tempos. A mãe dos Macabeus proclamava a fé na ressurreição final.
                   A fé judaica alcança a plenitude com a experiência que os discípulos de Jesus fizeram de vê-lo morto e vivo. Firmou-se então no mundo cristão a crença na ressurreição dos mortos, não simplesmente como fato a esperar no final dos tempos, mas já acontecido em Jesus. No século passado, Pio XII define a mesma verdade a respeito de Nossa Senhora. E hoje muitos teólogos falam de ressurreição na hora da morte.
                   Outras religiões não chegaram até lá. Percebem que as pessoas morrem na imperfeição. E nessa situação não merecem participar de vida plena. Submetem-se a um processo de purificação pela via da reencarnação. Morrem e voltam.
                   Distinguem-se da fé cristã nesse ponto crucial. A morte não significa o término definitivo da vida na terra, mas um modo de existir ao qual se sucedem outros pela volta à terra sob outra forma corpórea. O cristão, porém, afirma uma única vida terrena que a morte corta definitivamente para dar início à plenitude de vida para os justos e o silêncio tenebroso para os maus. Sobre a felicidade eterna sabemos de todos os que morreram na fé em Cristo, no amor, na justiça. Dos possíveis condenados, não sabemos de ninguém em particular. Vale a esperança de que todos se salvem.
                   Mais triste a religião que desconhece totalmente a existência para além da morte, seja pela ressurreição, seja encarnação. Tal religião só serve para essa vida. A morte significa o caminho para o nada, para a matéria, para o desfazimento do corpo em pó. Do pó viemos e ao pó retornaremos, sem nenhuma perspectiva de um Deus que nos dê a vida eterna. Depois da morte, o absoluto silêncio. A morte significa o fim último e definitivo de tudo. A religião perde o sentido profundo de re-ligar-nos com o divino para ser simples consolo nessa existência. E nada mais. Alegremo-nos de ter recebido na fé cristã a maravilha da ressurreição de todo o nosso ser para dentro do amor eterno de Deus. 

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