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7º DOMINGO DO TEMPO COMUM - "Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!" (Mt 5, 44)

"Há uma convicção profunda em Jesus. Não se pode vencer o mal à base de ódio e violência. Ao mal só se vence com o bem". 
(José Antônio Pagola - O caminho aberto por Jesus: Mateus, p. 81)

Celebra-se o 7º do Tempo Comum, tempo de alegria e de esperança, de viver os mistérios da fé no cotidiano da vida e da história. Nesse tempo litúrgico medita-se, de forma particular, a vida de Jesus e seus feitos durante a realização da sua missão de inaugurar o Reino de Deus.
Jesus tem sempre um modo muito concreto de anunciar o Reino, de dizer como se deve agir para que ele esteja no meio de cada um e da comunidade toda. No Evangelho desse domingo (Mt 5, 38-48), o Senhor apresenta muito concretamente o seu mandamento novo: "Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem" (Mt 5, 44). 
Ao que parece à primeira vista, o mandamento de Jesus é muito exigente e de difícil realização. E isso é verdade. Ele exige da parte do cristão de hoje a renúncia a alguns vícios que afastam do irmão: egoísmo, soberba, falta de caridade e amor... No entanto, o Senhor faz o convite para que cada um seja a diferença que quer ver no mundo e, mais ainda, que realize a partir de si mesmo a mudança que se quer. 
Evidentemente, o amor que Jesus pede no ensinamento de hoje "[...] não está pensando em um sentimento de afeto e carinho por ele (o inimigo), menos ainda numa entrega apaixonada, mas numa relação radicalmente humana de interesse positivo por sua pessoa" (Pagola, p. 80). Isso, claro, não leva a relativizar o mandamento do amor, muito menos a não se esforçar por perdoar verdadeiramente o outro. Contrariamente, exige o "querer bem" aquele ou aquela que nos ofende e que, por uma ou outra razão, não partilha das mesmas ideias e comportamentos que nos agradam. 
Esse mandamento não era desconhecido antes de Jesus (Cf. Missal Dominical, p. 693), porque desde o Antigo Testamento era conhecido, conforme atesta a Primeira Leitura (Lv 19, 18b), mas a novidade está no universalismo, na medida em que esse amor ao outro, ao inimigo deve alcançar. "A medida do nosso amor para com o próximo é, pois, o amor que Cristo tem por nós" (Missal Dominical). É o amor por pura gratuidade, sem esperar nada em troca, sem barganha, mas na gratuidade e no amor de Deus, é "[...] amar por amor de Deus, pelas mesmas finalidades de Deus; exclusivamente desinteressado; com amor puríssimo; sem sombra de compensação (Mt 5, 46)" (Missal Dominical). 
Sendo assim, a tarefa que a Liturgia oferece é o amor, não qualquer amor, mas o amor de Deus, o amor que é Deus (1Jo, 4, 16). Esse amor só pode ser efetivado a partir do encontro real, verdadeiro, alegre com Jesus Cristo, afinal "este modo de atuar (de amar) que exige uma profunda vida de oração, distingue-nos claramente dos pagãos e daqueles que realmente não querem viver como discípulos de Cristo" (Francisco Fernández-Carvajal - Falar com Deus v.3, p. 263). 
Retribuir ao irmão na mesma medida em que ele faz algo que nos atinge é ser como qualquer um, é ser muito normal, é não fazer a diferença. "Não é norma do cristão retribuir olho por olho e dente por dente, mas fazer continuamente o bem, ainda que, por vezes, não obtenha em troca aqui na terra nenhum proveito humano" (Carvajal, p. 262). É fazer a diferença, é ser de Deus!
Mas tudo isso conseguiremos somente quando tivermos em nós a consciência de que somos "Santuário de Deus e que o Espírito mora em nós" (1Cor 3, 16). Somente o Senhor que conhece os nossos pensamentos, o nosso interior, pode nos ajudar a abandonar a normalidade do mundo e abraçar a loucura do ser cristão. 
Que Maria, a Mãe do Divino Amor, fortifique e anime o desejo de "amar como Jesus amou, viver como Jesus viveu". Amém!


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