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DISCÍPULOS-MISSIONÁRIOS?

Eduardo Moreira Guimarães[1]

A Conferência Geral do Espicopado Latino-Americano e Caribenho, que teve lugar em Aparecida (SP-Brasil) em 2007, trouxe uma série de ideias novas para a evangelização da América Latina e do Caribe. São muitas as luzes lançadas por aquela Conferência que iluminam a vida cristã no seu dia-a-dia e na sua concretude.
Dentre os vários aspectos que se fazem notar, talvez um possa parecer óbvio, mas merece certa atenção. De uma linguagem de agentes de pastoral, de ministros qualificados para os trabalhos eclesiais o Documento de Aparecida (DAp) traz uma nomenclatura nova transbordante de significado: DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS.
É interessante perceber como esse nome identifica melhor aquele que segue a Jesus Cristo. Ele mesmo convocou homens e mulheres para os enviar dois a dois à sua frente (Lc 10, 1). Discípulo é aquele que segue alguém, que faz um caminho junto. Missionário é aquele que vai, que sai, que leva algo a alguém, fala, apresenta, anuncia. Portanto, discípulos-missionários são todos aqueles e aquelas que fazem um encontro com o Senhor e que partilham essa alegria com todos os que encontram.
Iluminada pelo DAp, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015 (DGAE) propõe um caminho para a Igreja no Brasil de concretização de seus objetivos pastorais centrado na pessoa de Jesus, iluminado pelo Seu Espírito como Igreja discípula, missionária e profética (Objetivo geral).
Falar de uma Igreja discípula, missionária e profética é ter em conta a maturidade da fé e da consciência da necessidade de assumir na vida o que se professa com a boca. Portanto, é um caminho que requer atitudes concretas: oração, contemplação, fraternidade e serviço (n. 4).
É a convocação para uma saída de si ao encontro da humanidade tantas vezes marcada pela dor, pelo pecado, pelo ódio, pela violência (n. 12). Mas isso só é possível quando o cristão se sente discípulo-missionário porque supera as diferenças e lança-se na novidade que o próprio Jesus traz e exige da comunidade.
O campo de atuação do agente de pastoral pode ser apenas uma pastoral na paróquia ou um serviço específico. Contrariamente, o lugar da atuação do discípulo-missionário é o mundo, a realidade que o cerca (n. 17), porque não há limites para o anúncio vigoroso, alegre e corajoso do Evangelho.


Partindo das marcas do nosso tempo, das dificuldades que se apresentam, o discípulo-missionário é chamado a discernir, na força do Espírito Santo, os sinais dos tempos (n. 24). Mais ainda, é desafiado a buscar nessa realidade aspectos da presença de Deus e lugares propícios para voltar às fontes e buscar os aspectos centrais da fé.
Por isso, a Igreja do Brasil diz que “temos necessidade urgente de viver na Igreja a paixão que norteia a vida de Jesus Cristo: o Reino de Deus, fonte de graça, justiça, paz e amor. Por esse Reino, o Senhor deu a vida” (n. 26).
Mas como fazer isso? A partir de cinco urgências evangelizadoras: 1) Igreja em estado permanente de missão; 2) Igreja: casa da iniciação à vida cristã; 3) Igreja: lugar de animação bíblica da vida e da pastoral; 4) Igreja: comunidade de comunidades e 5) Igreja a serviço da vida plena para todos.
A partir dessas urgências, cada Igreja Particular, portanto, cada Diocese é convocada a assumir na sua realidade o que propõe a Igreja no Brasil. Mas a Igreja é cada batizado e batizada. Então, as urgências da evangelização dizem respeito primeiro aos discípulos-missionários, àqueles que abraçaram a fé e que devem dar razão da sua esperança (1Pd 3, 15).
Cada cristão deve sentir em si a convocação para uma Igreja diferente, a Igreja “Povo de Deus”, “Comunidade de comunidades”, “Comunhão e participação”. Todos esses caracteres indicam a Igreja-corpo da qual todos são membros importantes e Cristo é a cabeça (1Cor 12, 12s; Ef 4, 15).

[1] Seminarista da Diocese de Cornélio Procópio-PR. Licenciado em Filosofia pela PUCPR e, atualmente, cursa Bacharelado em Teologia pela mesma universidade. http://edumguimaraes.blogspot.com.br/

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