Pular para o conteúdo principal

A BELEZA DA LITURGIA DAS HORAS

Eduardo Moreira Guimarães[1]

A Liturgia das Horas é a oração oficial da Igreja. A partir do Concílio Vaticano II é proposta a todos os fieis (Bispos, padres, religiosos, leigos e leigas). É um convite parar reunir-se em nome de Jesus Cristo e celebrar o seu mistério no ciclo do dia, da semana e do ano litúrgico.
Desde os seus primórdios a Igreja reza incessantemente (At 2, 42). Santo Inácio de Antioquia, em suas cartas, fala que se rezava frequentemente pelas comunidades cristãs. O mesmo testemunho é dado por Tertuliano, Orígenes, Irineu e Cipriano[2]. Desse modo, percebe-se a ininterrupta prece da Igreja a seu Senhor e Mestre.
As formas de oração modificaram-se muitas vezes. A partir do século IV tem-se notícia de duas tradições de oração comunitária na Igreja: o Ofício da Igreja Catedral e o Ofício Monástico. Aqui aparecem as orações das Horas que evocam o mistério de Cristo no tempo e que, mais tarde, tornar-se-iam a Liturgia das Horas.
Podemos dizer, portanto, que a “[...] Liturgia das Horas é uma experiência diária do Mistério Pascal a partir do ritmo do dia. É o louvor da Igreja pelo mistério de Cristo, a partir da luz, para a santificação especial do tempo”[3].
Na Liturgia das Horas tem-se uma experiência diária do Mistério de Cristo. As Laudes evocam a Ressurreição do Senhor e a nossa ressurreição com Ele. As Vésperas evocam os mistérios da tarde, sobretudo o sacrifício da Cruz. A Hora Média evoca os passos da Paixão de Cristo e a vida nascente da Igreja, animada pelo Espírito Santo. A Terça (Oração das Nove) celebra a condenação de Cristo à morte e o Mistério de Pentecostes; a Sexta (Oração das Doze), a crucificação do Senhor e a Nona (Oração das Quinze), a morte de Jesus na Cruz. O Ofício das Leituras constitui uma vigília orante em preparação à vinda do Senhor[4].
Há também uma experiência semanal do Mistério Pascal. No Domingo, o Dia do Senhor, celebra-se a Ressurreição de Cristo e da Igreja. Segunda-feira, a vocação da Igreja, o mistério de Pentecostes. Terça-feira, a missão da Igreja, sua dimensão apostólica. Quarta-feira, o testemunho e martírio da Igreja, testemunho que ela vê realizado nos santos, que por sua vez, se tornam seus patronos. Quinta-feira o novo mandamento, o lava-pés, a Ceia, a Igreja, o Sacerdócio, a Eucaristia. Sexta-feira, a Paixão e Morte de Cristo, o pecado a penitência, a reconciliação. Sábado, a escatologia, contemplada em Maria. Essas facetas de cada dia estão contempladas na escolha dos salmos, nas orações finais e sobretudo nas preces[5].
Vê-se que a Liturgia das Horas não é uma oração vazia, uma mera repetição de salmos e textos bíblicos. É uma bela e profunda oração! Como disse Dom Clemente Isnard: “Bem usada, a Liturgia das Horas dispensa livros de meditação e pode nutrir substancialmente a vida espiritual e a ação apostólica de quem dela faz uso”.
A Oração das Horas é uma experiência de morte e vida na experiência diária das trevas e luz, da noite e dia, da tarde e da manhã. É contemplar no tempo o grande amor de Deus pela humanidade e a entrega total desse amor para a salvação de todos.
A própria Eucaristia tem na Liturgia das Horas sua melhor preparação porque esta alimenta e desperta para melhor receber o Corpo e Sangue do Senhor.
Na Liturgia das Horas não se reza apenas para si, mas se reza em nome da Igreja. Pelos salmos, é a Igreja que vive o seu mistério à luz de Cristo[6]. Os salmos mostram Deus revelando-se na resposta orante do ser humano. É o homem e a mulher em diálogo pessoal, comunicando-se com Deus nas mais variadas circunstâncias da vida.
Por isso, rezar a Liturgia das Horas é viver em oração, viver em Deus. É antecipar a realidade última já aqui na história. A Liturgia das Horas é essencialmente uma oração da assembleia cristã, é uma oração eclesial. E que bela oração! Contempla e envolve toda a Igreja.
Com alegria, rezar a Liturgia das Horas é colocar-se nas mãos de Deus para que Ele fale, é estabelecer um diálogo amoroso com ele a partir da vida, do cotidiano. Ela nunca deve ser um peso, mas sempre um doce alívio na certeza de encontrar-se nas mãos e no coração de Deus.
A Liturgia das Horas constitui um intenso exercício de conversão, de evangelização da assembleia reunida. Por isso, deve ser incentivada nas comunidades cristãs como uma propícia e eficaz forma de oração comunitária e como momento realmente fecundo de colocar-se inteiramente em Deus.



[1] Seminarista da Diocese de Cornélio Procópio-PR. Licenciado em Filosofia pela PUCPR e, atualmente, cursa Bacharelado em Teologia pela mesma universidade. http://edumguimaraes.blogspot.com.br/
[2] O sentido da Liturgia das Horas. Frei Alberto Beckhauser. 2.ed. Petrópolis: Vozes, s/d.
p. 20.
[3] Ibid., p. 22.
[4] Id.
[5] BECKHAUSER., op.cit., s/d, p. 23.
[6] BECKHAUSER., op.cit., s/d, p. 38.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESUMO: Introdução à eclesiologia

11.        INTRODUÇÃO O trabalho tem como objetivo resumir o livro “Introdução à Eclesiologia” de Salvador Pié-Ninot. Evidentemente não é uma tarefa simples, dado a complexidade do tema e, ao mesmo tempo, as discussões polêmicas que o mesmo está envolvido. Por exemplo: Jesus fundou a Igreja ou ela simplesmente foi aquilo que seus seguidores conseguiram oferecer? Essa e outras questões polêmicas perpassam na mente de qualquer estudante de teologia. Por isso, o resumo aqui apresentado fez questão de ser fiel ao autor nas observações, nos apontamentos e, ao mesmo tempo, na disposição dos capítulos que foram lidos e analisados. Para isso, no desenvolvimento está elaboraram-se tópicos que correspondem aos capítulos em número de 6 mais a conclusão. Assim, fala-se no estudo da história do Tratado de Eclesiologia, dos conceitos fundamentais relacionados à Igreja, de Jesus à Igreja, da Igreja primitiva e edificada pelos sacramentos, das dimensões da Igreja, da missão da Igreja e, final

ESSÊNCIA, PESSOA E SUBSTÂNCIA

I – INTRODUÇÃO             O presente trabalho apresenta uma breve definição das palavras ESSÊNCIA, PESSOA e SUBSTÂNCIA. A ordem de apresentação foi estabelecida a partir da ordem alfabética. Ao longo do texto notar-se-á que se buscou apresentar a origem do termo pesquisado, bem como a sua evolução e o que ele significa no campo teológico, mais especificamente em relação à Trindade. II – ESSÊNCIA, PESSOA, SUBSTÂNCIA             O problema inicial que permeia a definição de essência, pessoa e substância começa pelo fato de os gregos falarem de uma essência e três substâncias e os latinos de uma substância e três pessoas [1] . Sendo assim, corre-se o risco de confundir os termos e seus significados. Por isso, estudou-se apenas a concepção latina sem fazer as devidas comparações com a grega. a)       ESSÊNCIA Por esse termo é entendido, em geral, a resposta à pergunta “o quê?” [2] , por exemplo, na pergunta: ‘o que é o homem?’. A resposta, em geral, exprime a essên

A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE (Bruno Forte)

RESUMO: A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE (Bruno Forte)   1.       INTRODUÇÃO   O presente trabalho é um resumo da obra de Bruno Forte “A Igreja ícone da Trindade”. A leitura foi realizada de forma atenta e interessada tendo em vista a importância do tema. Divindade em três grandes partes, o livro apresenta a “ ECCLESIA DE TRINITATE – de onde vem a Igreja?”, a “ ECCLESIA INTER TEMPORA – o que é a Igreja? A forma trinitária da Igreja” e a “ ECCLESIA VIATORUM – para onde vai a Igreja?”. Dessa maneira, a apresentação desse resumo seguiu o mesmo esquema apresentado pelo autor. No entanto, no livro ele faz divisão de capítulos ao apresentar cada uma das três partes. Aqui, no entanto, pensou-se em apresentar em um único texto corrido a reflexão de Bruno Forte no intuito de elaborar um pensamento único que faça a conexão dos assuntos entre si, dado que todos estão inter-relacionados.   2.       A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE   Bruno Forte escreve este