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A ALEGRIA DE SER RELIGIOSO


Eduardo Moreira Guimarães[1]

 

O Papa Francisco na 82ª Assembleia Geral da União dos Superiores Gerais, em Roma, anunciou que 2015 será o Ano dedicado à Vida Consagrada na Igreja. A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica escreveu uma breve carta circular aos consagrados e às consagradas, em vista dessa celebração.

Embora não seja religioso, no sentido de pertencer a uma congregação ou ordem religiosa, senti-me no direito de escrever algo a partir das reflexões da referida carta circular. A Congregação acentua que no Magistério do Papa Francisco, vê-se de novo contar a Parábola da Alegria (n.1b). É a alegria de deixar tudo para seguir somente ao Senhor. Seguimento esse que deve se converter em testemunho para “despertar o mundo”.

Pois bem, é preciso dizer hoje, sem medo, da alegria de ser religioso (no sentido amplo do termo), da alegria de doar a própria vida para o serviço do Senhor e de Sua Igreja. É necessário, uma vez mais, porque não dizer sempre, dar razão da alegria, da esperança (1Pd 3, 15) que sustenta o chamado, a consagração.

A sociedade atual conclama uma nova postura dos homens e mulheres que “gastam” a sua vida por causa do Evangelho. São Francisco, já no século XII, dizia: “Pregai o Evangelho, se for necessário, também com as palavras” (n.1f). Portanto, cabe a todos os religiosos um testemunho autêntico e visível da alegria para a qual foram chamados, do encantamento por aquele “Primeiro Amor” (Ap 2, 4) que os despertou.

Essa alegria que enche o coração daqueles que se decidem radicalmente e exclusivamente por Jesus é fruto do Espírito (Gl 5, 22) porque faz caminhar no amor, na paz, na bondade e na fidelidade. A alegria é a beleza da consagração (n.3), porque, segundo Francisco, “não há santidade na tristeza” (n.3). Por isso, a necessidade do testemunho, porque no mundo há grande carência de amor.

Nós, consagrados e consagradas, temos “mil motivos para permanecer na alegria” (n.3d). A alegria do momento em que Jesus nos olhou e nos confiou uma missão (n.4f), o momento em que deixamos tudo: redes, barcos, empregos (n. 3d); a alegria de nascer para uma vocação onde Deus mesmo é aquele que chama, capacita, envia. É a alegria da abertura pessoal à graça e à ação do Espírito de Deus em cada um.

É, sobretudo, um chamado à santidade, porque a vida dos santos é esta: “pessoas que pelo amor de Deus em suas vidas não colocaram condições a Ele” (Papa Francisco, n.5b). O encontro com o Senhor, a adesão a Ele, coloca-nos em movimento, nos impele a sair do centro e a deixá-Lo agir em nós.

A alegria que brota do coração de um religioso e que transparece em sua vida toda é a alegria do olhar de fé, da compreensão do tempo como tempo de Deus, da fidelidade, da cruz sem limites. É a experiência da ternura de Deus, da esperança e do amor que move o ser humano.

Mas é, sobretudo, a alegria da missão que se leva consigo: “Somos chamados a levar a todos o abraço de Deus, que se inclina com ternura de mãe sobre nós” (n.8f), chamados a levar o sorriso de Deus (n.9), chamados a fazer um êxodo de nós mesmos (n.10), “sair do ninho” “para morar na vida dos homens e das mulheres do nosso tempo, e nos entregarmos a Deus e ao próximo” (n.10b).

O Ano da Vida Consagrada é um convite a todos os que se dedicam ao serviço do Reino a não ter medo de mostrar ao mundo a Alegria que nos move. É um convite a atrair as pessoas para o Senhor a partir da proximidade e do encontro com todos, sobretudo os mais tristes, pobres, excluídos, desesperançados, os que estão à margem.

Que Maria nos ajude!



[1] Seminarista da Diocese de Cornélio Procópio-PR. Licenciado em Filosofia pela PUCPR e, atualmente, cursa Bacharelado em Teologia pela mesma universidade.

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