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Senhor, até quando clamarei? XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

A Igreja celebra hoje o XXVII Domingo do Tempo Comum. Neste domingo somos chamados a viver e a meditar sobre a fé. 
"A fé em Deus e em seu projeto nos desafia a superar as crises e enfrentar as dificuldades com força e esperança" (Lit. Diária - Deus conosco). 
Na oração da coleta já vemos a grande misericórdia de Deus para aqueles que o amam, que têm fé: "Ó Deus eterno e todo poderoso, que nos concedeis mais do que merecemos e pedimos". Isso é fato: Deus age na abundância da sua misericórdia e da sua graça, enchendo-nos de bênçãos. De nossa parte, resta a acolhida generosa destas bênçãos e o compromisso de transformar em vida aquilo que recebemos de Deus. 
É fato que, por vezes, nossa atitude será a mesma descrita pelo profeta Habacuc (1, 2): "Senhor, até quando chamarei?". A impressão pode ser a de que Deus não nos escuta, não está próximo de nós."tende um desfecho, e não falhará; se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará. Quem não é correto vai morrer, mas o justo viverá por sua fé" (Hab 2, 3-4). É isso que sucede com todos nós: permanecer fieis ao Senhor para ver, sentir, viver a vitória final do justo pela fé. Afirmar que o justo viverá pela fé, significa afirmar que "se é justificado e se tem a vidaeterna só mediante a fé em Jesus Cristo" (R. Cantalamessa). 
Talvez parece recebermos de Deus apenas os males e não o bem. No entanto, é preciso sempre fé, confiança em Deus, porque a sua promessa não falha:
A fé comunica Jesus Cristo e Ele nos salva. Ora, que "força comunica a fé! Com ela superamos os obstáculos de um ambiente adverso e as dificuldades pessoais, que com muita frequência são mais difíceis de vencer" (F. Fernandez-Carvajal). Basta esperar, confiar e abandonar-se em Deus. 
No entanto, existe uma fé morta, que não salva, é a fé vazia, sem obras. Por isso, já São Paulo exorta a "reavivar a chama do dom de Deus" (2Tm 1, 6) que recebemos. Reavivar aquele amor primeiro que nos chamou e que nos impeli a ir até ele. "Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade" (2Tm 1,7). O amor não é abstrato, mas ele é palpável, sensível à medida que, impelidos pelo amor de Deus que nos dá mais que pedimos, partilhamos com o outro aquilo que temos e somos. Para tornar o amor visível, é preciso coragem, força, humildade e sofrimento, porque o amor nos faz sentir o outro, abraçá-lo na sua alegria e nas suas dores - sempre fortificados pelo poder de Deus que é dado a nós quando agimos em seu nome. 
Nesse domingo, o que devemos pedir ao Senhor é "Aumenta a nossa fé!" (Lc 17, 5). Como os discípulos, não poucas vezes, sentimos que nossa fé é pequenina, titubeante, fraca. Mas nunca podemos nos esquecer que ela é um dom de Deus que nos é dado em abundância!  
"Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te daqui e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá" (Lc 17, 6). Que força tem a fé! Ela nos transforma, torna-nos melhores. A fé é, portanto, uma realidade viva. Ela proporciona um encontro entre o "eu" humano e o "tu" divino.
Poderíamos nos perguntar: o que vê um cristão quando ele reza? "Vê Jesus Cristo morto e ressuscitado por ele que, na Igreja, lhe dá seu Espírito e sua salvação. [...] Fé é crer que Deus está agindo em Jesus de Nazaré, que ele se comprometeu com Jesus, que a causa de Jesus é também, e totalmente, a causa de Deus" (R. Cantalamessa). 
Essa fé em Jesus Cristo propõe o caminho que ele trilhou: o serviço. Um serviço obediente e consciente: "Somos servos inúteis: fizemos o que devíamos fazer" (Lc 17, 10b).
"A fé é um dom de Deus que a nossa pequenez nem sempre consegue sustentar. Por vezes, é tão pequena como um grãozinho de mostarda. Não nos surpreendamos com a nossa debilidade, pois Deus conta com ela. Imitemos os Apóstolos quando compreenderam que tudo aquilo que viam e ouviam excedia a sua capacidade. Peçamos então a Cristo, através de Nossa Senhora e com a humildade dos discípulos, que nos aumente a fé, para que, como eles, possamos ser fieis até o fim dos nossos dias e levemos muitas pessoas até ELe, como fizeram aqueles que o seguiram de perto em todos os tempos" (F. Fernandez-Carvajal).
A fé, diz-nos Raniero Cantalamessa, "é uma janela aberta para o céu. A fé é uma resposta à sede de infinito que trazemos no coração".  Por isso, uma oração que pode muito nos ajudar nas celebrações deste final de semana é: "Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé".  

REFERÊNCIAS:

DEUS CONOSCO, Liturgia Diária.
FALAR COM DEUS. Francisco Fernandez-Carvajal. v. 5. 
LECIONÁRIO PATRÍSTICO DOMINICAL.
O VERBO SE FEZ CARNE, Raniero Cantalamessa.

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