Pular para o conteúdo principal

A EUCARISTIA E OS DEMAIS SACRAMENTOS

1.      EUCARISTIA E OS SACRAMENTOS

Eduardo Moreira Guimarães


O Papa Bento XVI escreveu a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum caritatis como documento final do Sínodo sobre a Eucaristia “fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”. Ao longo do documento, dos números 16 a 29, o Santo Padre discorreu sobre a Eucaristia e sua relação com os demais sacramentos.
Segundo o Concílio Ecumênico Vaticano II, todos os ministérios eclesiásticos e obras de apostolados estão vinculados à Eucaristia e à ela se ordenam (n. 16). Isso é fato porque a Igreja, entendida como sacramento universal da salvação, mostra que a “economia” sacramental determina o modo como Jesus, por meio do Espírito, alcança a vida de cada crente na sua especificidade. A Igreja recebe-se e exprime-se nos sete sacramentos.
A Eucaristia é a plenitude da iniciação cristã e o caminho de iniciação tem como ponto de referência tornar possível o acesso a tal sacramento. Por isso, todo fiel é batizado e crismado em ordem à Eucaristia. É a participação no sacrifício eucarístico que aperfeiçoa o que se recebe no Batismo e leva à plenitude a iniciação cristã colocando-se como centro e termo de toda a vida sacramental (n. 17).
Por isso, o Papa pede que e verifique qual a melhor prática para ajudar os fieis a colocarem no centro o sacramento da Eucaristia, porque é para ela que tende toda a iniciação (n. 18). Além disso, é preciso associar a família cristã no itinerário de iniciação. Receber o Batismo, a Confirmação e abeirar-se pela primeira vez da Eucaristia são momentos especiais, significativos não só para a pessoa que os recebe, como para toda a família (n. 19). A família tem a tarefa educativa de iniciar os filhos na fé.
A Eucaristia liga-se intrinsecamente com o sacramento da Reconciliação. Em uma vivência de fé que parece tão influenciada pela cultura da desvalorização da Reconciliação, a Eucaristia chama a reconciliar-se com o Senhor Jesus que se oferece a si mesmo com alimento. Bento XVI apresenta a gravidade de esquecer a necessidade da graça de Deus para se aproximar dignamente da comunhão sacramental. Isso demonstra superficialidade na compreensão do próprio amor de Deus (n. 20).
A relação entre Eucaristia e Reconciliação recorda, ainda, que o pecado nunca é uma realidade apenas individual, mas inclui sempre uma ferida na comunhão eclesial. A Reconciliação, diz o Papa, é um batismo laborioso, sublinhando assim que o resultado do caminho de conversão é também o restabelecimento da plena comunhão, que se exprime no aproximar-se novamente da Eucaristia.
Por isso, alguns cuidados pastorais são necessários. Primeiramente a recuperação da pedagogia da conversão que nasce da Eucaristia e favorece a confissão frequente. Depois os confessionários bem visíveis na Igreja expressando o significado do sacramento. A absolvição ordinária é pessoal, salvo a extraordinária necessidade da absolvição geral e que haja na Diocese o Penitenciário. Além disso, a prática equilibrada e consciente da indulgência em favor de si e dos defuntos ajuda a compreender que não se é capaz, sozinho, de reparar o mal cometido e que os pecados de cada um causam dano à toda a comunidade (n 21).
Se a Eucaristia mostra como os sofrimentos e a morte de Cristo transformaram-se em amor, a Unção dos Enfermos, associa o doente à oferta que Cristo fez de si pela salvação de todos. Por isso, a relação entre esses dois sacramentos. Àqueles que vão deixar a vida terrena, a Igreja oferece-lhes a Eucaristia como viático que é semente de vida eterna e fonte de ressurreição. Por isso, o cuidado pastoral de que os doentes sejam atendidos em benefício espiritual de toda a comunidade (n. 22).
A Eucaristia e o Sacramento da Ordem também mantém estreita relação. Foi Jesus mesmo quem pediu “Fazei isso em memória de mim” (Lc 22, 19) instituindo a Eucaristia e fundando, ao mesmo tempo, o sacerdócio da Nova Aliança. Por isso, a íntima relação desses dois sacramentos: ninguém pode dizer “Isto é o meu corpo” senão em nome e na pessoa de Cristo.
Nota-se a ligação entre a ordem sagrada e a Eucaristia na missa que o Bispo ou o presbítero preside na pessoa de Cristo cabeça (in persona Christi capitis). É o próprio Cristo que está presente à sua Igreja como cabeça, pastor e sumo sacerdote. Sendo assim, o ministro ordenado age, também, em nome de toda a Igreja colocando sempre em primeiro plano Jesus Cristo e não a si mesmo. O ministério ordenado é um serviço humilde a Cristo e à sua Igreja (n. 23).
A Eucaristia está intimamente relacionada com o celibato sacerdotal. É a exigência de fazer a mesma opção virginal de Jesus, uma conformação ao estilo de vida do próprio Cristo. O celibato mostra a dedicação total e exclusiva do sacerdote a Cristo, à Igreja e ao Reino. Por isso o Papa confirma a sua obrigatoriedade na Igreja Latina (n. 24).
Bento XVI lembra que é preciso maior disponibilidade do clero para com as realidades onde há escassez de padres. Isso favorecerá o testemunho e à abertura dos jovens à vocação sacerdotal. No entanto, essa escassez não deve relativizar a formação presbiteral (n. 25).
O Papa agradece todos os testemunhos de sacerdotes dedicados ao Reino: os padres fidei donum, os que sofreram por servir a Cristo, os fieis à sua vocação e missão. E  aponta a confiança em Cristo que continua a suscitar homens para dedicar-se à celebração dos mistérios sagrados, à pregação do Evangelho e ao ministério pastoral (n. 26).
A Eucaristia está unida ao Matrimônio porque é “o sacramento do Esposo e da Esposa” como disse São João Paulo II. Ele afirma o caráter esponsal da Eucaristia e assevera que toda a vida cristã tem a marca do amor esponsal entre Cristo e a Igreja. Assim, o consentimento recíproco dos esposos tem uma dimensão eucarística. Paulo mesmo fala do amor esponsal como sinal sacramental do amor de Deus pela Igreja que culmina na cruz, origem e centro da Eucaristia. Por isso, a Igreja manifesta sua solidariedade espiritual a todos os que constituem família – igreja doméstica – e reconhece a missão singular da mulher no seio familiar (n. 27).
No entanto, existem alguns problemas pastorais que se devem considerar. O vínculo fiel, indissolúvel e exclusivo que une Cristo e a Igreja e tem expressão sacramental na Eucaristia, está em harmonia com o dado antropológico primordial segundo o qual o homem deve unir-se de modo definitivo com uma só mulher e vice-versa. Assim, onde há o costume da poligamia, por exemplo, deve-se trabalhar e apontar caminhos (n. 28).
De igual modo, se a Eucaristia exprime a irreversibilidade do amor de Deus em Cristo pela sua Igreja, implica ao sacramento do Matrimônio essa mesma indissolubilidade a que todo amor verdadeiro não pode deixar de anelar. Por isso, o problema dos divorciados recasados, é uma chaga social contemporânea, afirma o Pontífice. O sínodo reforça a prática de não admitir na comunhão eucarística esses irmãos porque o seu estado e condição de vida contradizem a união de amor de Cristo e da Igreja que é significada e se realiza na Eucaristia. Mas eles continuam a pertencer à Igreja e devem cultivar um estilo cristão de vida.
Para auxiliar nesses casos especiais, Bento XVI fala da importância dos tribunais eclesiásticos, de pessoas para acompanhá-los e da acessibilidade aos fieis. No entanto, se a nulidade do sacramento não for comprovada, recomenda-se que vivam como irmãos, segundo a lei de Deus. Desse modo, poderão abeirar-se novamente do sacramento eucarístico.
Por tudo isso, é necessária uma boa preparação dos nubentes para que se dirijam ao Matrimônio com a consciência do que estão assumindo. Afinal, demasiado é o bem que a Igreja e a sociedade inteira esperam do Matrimônio e da Família (n. 29).

2.      REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BENTO XVI. Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2007. p. 26-49.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RESUMO: Introdução à eclesiologia

11.        INTRODUÇÃO O trabalho tem como objetivo resumir o livro “Introdução à Eclesiologia” de Salvador Pié-Ninot. Evidentemente não é uma tarefa simples, dado a complexidade do tema e, ao mesmo tempo, as discussões polêmicas que o mesmo está envolvido. Por exemplo: Jesus fundou a Igreja ou ela simplesmente foi aquilo que seus seguidores conseguiram oferecer? Essa e outras questões polêmicas perpassam na mente de qualquer estudante de teologia. Por isso, o resumo aqui apresentado fez questão de ser fiel ao autor nas observações, nos apontamentos e, ao mesmo tempo, na disposição dos capítulos que foram lidos e analisados. Para isso, no desenvolvimento está elaboraram-se tópicos que correspondem aos capítulos em número de 6 mais a conclusão. Assim, fala-se no estudo da história do Tratado de Eclesiologia, dos conceitos fundamentais relacionados à Igreja, de Jesus à Igreja, da Igreja primitiva e edificada pelos sacramentos, das dimensões da Igreja, da missão da Igreja e, final

ESSÊNCIA, PESSOA E SUBSTÂNCIA

I – INTRODUÇÃO             O presente trabalho apresenta uma breve definição das palavras ESSÊNCIA, PESSOA e SUBSTÂNCIA. A ordem de apresentação foi estabelecida a partir da ordem alfabética. Ao longo do texto notar-se-á que se buscou apresentar a origem do termo pesquisado, bem como a sua evolução e o que ele significa no campo teológico, mais especificamente em relação à Trindade. II – ESSÊNCIA, PESSOA, SUBSTÂNCIA             O problema inicial que permeia a definição de essência, pessoa e substância começa pelo fato de os gregos falarem de uma essência e três substâncias e os latinos de uma substância e três pessoas [1] . Sendo assim, corre-se o risco de confundir os termos e seus significados. Por isso, estudou-se apenas a concepção latina sem fazer as devidas comparações com a grega. a)       ESSÊNCIA Por esse termo é entendido, em geral, a resposta à pergunta “o quê?” [2] , por exemplo, na pergunta: ‘o que é o homem?’. A resposta, em geral, exprime a essên

A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE (Bruno Forte)

RESUMO: A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE (Bruno Forte)   1.       INTRODUÇÃO   O presente trabalho é um resumo da obra de Bruno Forte “A Igreja ícone da Trindade”. A leitura foi realizada de forma atenta e interessada tendo em vista a importância do tema. Divindade em três grandes partes, o livro apresenta a “ ECCLESIA DE TRINITATE – de onde vem a Igreja?”, a “ ECCLESIA INTER TEMPORA – o que é a Igreja? A forma trinitária da Igreja” e a “ ECCLESIA VIATORUM – para onde vai a Igreja?”. Dessa maneira, a apresentação desse resumo seguiu o mesmo esquema apresentado pelo autor. No entanto, no livro ele faz divisão de capítulos ao apresentar cada uma das três partes. Aqui, no entanto, pensou-se em apresentar em um único texto corrido a reflexão de Bruno Forte no intuito de elaborar um pensamento único que faça a conexão dos assuntos entre si, dado que todos estão inter-relacionados.   2.       A IGREJA ÍCONE DA TRINDADE   Bruno Forte escreve este