Cursando filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá, como é de prática na grade curricular do curso, nos últimos períodos estudamos os filósofos existencialistas. A meu ver, são os mais interessantes de toda a História da Filosofia, evidentemente esta é uma visão particular! Mas justifico-me. São filósofos que não pensaram a sua vida e existência partindo de pressupostos já dados ou mesmo transcendentes. Ao contrário, são homens que bem ou mal viveram a sua existência com o que tinham: a sua própria vida e tudo que a ela é inerente.
Dessa maneira foram pessoas que viveram a sua angústia nas incertezas da vida e mesmo nos chamados estágios estético, ético e religioso como é o caso de Kierkegaard. Foi um filósofo que recebeu profundas influências da sua história pessoal e pôde transmitir isso em sua filosofia. Falou do que era seu. No entanto, sentiu-se responsável pela sua existência, por sua estadia nesse mundo. É valioso lembrar também Nietzsche que nos incentivou a viver intensamente o momento presente porque a vida é um eterno retorno do mesmo e tudo voltará um dia como está sendo nesse instante. Esses homens, dentre outros que estudaremos, provocou-nos e continua a provocar-nos porque eles não aceitaram viver a vida de qualquer forma, mas deixaram impresso nela a sua marca, a sua vontade, o seu desejo.
É nesse sentido que desperta em nós um questionamento. Esses filósofos são homens que defendem o indivíduo enquanto ser particular, inconfundível com outro, capaz de fazer a sua própria história. Atualmente, entretanto, fala-se muito que nós estamos cada vez mais individualistas. Mas possuímos ou não essa individualidade? Vamos ver. É possível fazermos uma distinção entre o individualismo desses filósofos e o ‘dito’ individualismo da sociedade contemporânea. É preciso ter em mente que os filósofos existencialistas defenderam o indivíduo enquanto pessoa que sabe o que é e que sabe o que quer. É por isso que ela se sabe capaz de colocar no mundo a sua marca, que sabe intervir no mundo e deixá-lo diferente a partir de sua perspectiva, que é capaz de viver intensamente o momento e de não ser guiado por outras pessoas, mas por si mesmo.
Contrariamente a esse conceito de indivíduo, percebemos que o individualismo que a nossa sociedade vive é um pouco diferente. Falta individualidade nas pessoas. Por que afirmo isso? Se formos a algum lugar nesse momento e perguntarmos por que alguém está usando ‘aquela’ roupa que todos usam, ou por que quer um carro novo ou mesmo uma casa nova, por que freqüenta somente aqueles locais sempre, possivelmente muitas pessoas não vão dar-nos respostas suficientes para nos convencer de que elas fazem tais coisas realmente porque querem. O que percebemos é que a nossa atualidade traz consigo muito da falta de ‘querer’ e muito do que ‘está na onda’.
Algo semelhante acontece nos meios acadêmicos na escolha dos cursos, na procura de emprego ou de uma profissão e até no âmbito da religião. Geralmente não faço o curso que quero, mas que alguém da minha família quer e sonhou para mim, ou trabalho nesse emprego porque é a empresa da minha família ou é menos trabalhoso, exige menos de mim, etc. O mesmo acontece na religião. Vou a essa ou aquela igreja não porque sou um fiel assíduo, mas porque hoje é melhor ir aqui onde tem mais gente, amanhã ali e assim por diante. O fato é que é preciso pensar e avaliar a nossa vida porque corremos o sério risco de passarmos a vida inteira fazendo o que os outros querem e não o que queremos de fato.
Questão mais séria ainda é quando somos tachados de individualistas, mas não temos nada dentro de nós que garanta tal individualidade. Parece que estamos cada vez mais egocêntricos, egoístas, mas falta-nos muito da individualidade, do ser ‘eu’ no meio dos outros, de ter minhas perspectivas, fazer minhas escolhas e poder interagir com as pessoas a partir daquilo que sou e não daquilo que desejam que eu seja. Não faço apologia ao individualismo e a tudo de mal que ele pode causar. Pelo contrário, apenas sinalizo que podemos passar a vida inteira construindo para nós ‘castelos de areia’ e quando acordarmos talvez seja tarde demais. É preciso ser o que se é seja aqui, seja acolá. É preciso buscar sempre a nossa autonomia enquanto homens e mulheres inseridos numa sociedade mista onde muitas ideologias tentam nos sufocar. É preciso sentir-se pessoa inserida num mundo plural e de direitos iguais, mas de pessoas que são diferentes porque têm a oportunidade de criar a sua própria existência, de vivê-la na sua mais alta exuberância na capacidade de ser e de fazer o outro feliz!
Eduardo Moreira Guimarães
6º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio – PR
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