No mês de agosto é de praxe na Igreja celebrar o ‘Mês Vocacional’. Durante este mês são discutidas diversas possibilidades de vocação na Igreja e na Sociedade. Justamente na segunda semana do referido mês trata-se da vocação familiar. É bem verdade que a família nos dias de hoje tem sido posta em questão mais do que outras instituições, tendo em vista que várias mudanças sociais e culturais têm ocorrido simultaneamente. Com isso, muitas famílias tem se desgastado, outras estão perdidas em meio ao emaranhado de turbulências ou impedidas de realizar seus direitos fundamentais[1], mas ainda existem aquelas que conseguem manter-se firmes e esperançosas. Estas, capazes de ser força e motivação para as demais.
O certo é que a Igreja, preocupada com a situação da família, mais uma vez traz a Semana Nacional da Família com o tema: “Família, pessoa e sociedade”. Tema esse muito propício para os tempos em que estamos vivendo, afinal é na família que a pessoa é valorizada e é nela que constitui as primeiras relações sociais e onde se prepara para as mesmas. Nesse sentido, a Igreja oferece uma possibilidade de enfrentamento das realidades familiares a partir da ótica da fé, mas de uma fé que está inserida no mundo, na sociedade em que se vive. A Igreja entende que a família sofre e que precisa de ajuda, mas que essa família é a família que se encontra, como vimos, esfacelada, dilacerada, ‘sem saída’, desanimada. No entanto ela pode recuperar o ânimo.
Primeiramente é preciso ter em mente a origem da instituição Família que não é uma invenção de uma religião, de uma realidade social, mas é fruto da criação de Deus que não quis que o homem ficasse só. Assim, na criação, após dar nome a todos os animais, a todas as aves dos céus e a todas as feras, o homem não encontrou uma auxiliar que lhe fosse semelhante. Então Deus criou a mulher para que ele não mais ficasse só (Gn 2, 20-22). Destarte, disse Javé, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua esposa e os dois se tornarão uma só carne (Gn 2, 24). O matrimônio é, portanto, fruto da presença de Deus que não quer que seus filhos fiquem sós, mas os quer felizes realizando a sua vontade recebendo os filhos que Ele mesmo conceder por sua vontade.
É interessante perceber aqui esta questão dos filhos que Deus concederá aos nubentes. Quando ocorre a celebração do matrimônio o sacerdote pergunta aos noivos se eles estão dispostos a receber os filhos que Deus lhes der para que os eduquem na fé e no amor. Aqui precisamos refletir um pouco mais. Urge a necessidade de reafirmar a importância da vida na atual conjuntura em que vivemos e mais ainda, de reafirmar e insistir na missão dos pais de educarem os seus filhos na e para a fé e o amor. É muito importante que os pais assumam a missão e o papel que lhes cabe. E a educação dos filhos é um desses papéis e obrigação, inclusive. Conforme diz a Igreja: “Porque deram vida aos filhos, contraem os pais o dever gravíssimo de educar a prole. Por isso, há de considerar-se como seus primeiros e principais educadores. Esta tarefa educacional se revela de tanta importância, que onde quer que falhe dificilmente poderá ser suprida. É assim dever dos pais criar um ambiente tal de família, animado pelo amor, pela dedicação a Deus e aos homens que favoreça a completa educação pessoal e social dos filhos. A família é pois a primeira escola de virtudes sociais que precisam todas as sociedades”[2]. Os pais são, dessa maneira, os principais responsáveis pela educação dos seus filhos e não podem delegar a outros essa tarefa que é eminentemente deles. É preciso a presença do pai e da mãe na educação dos filhos. A presença dos mesmos é de inigualável importância para o desenvolvimento pessoal, psíquico, afetivo da criança. Além disso, a Igreja reconhece que é a família a primeira escola da fé. É lá que se aprendem as primeiras orações, a primeira catequese. Além disso, é no seio da família que se desenvolve inicialmente um ambiente onde se cultivam as virtudes mais puras e belas da vida, tais como a pureza, o amor, o respeito, a sabedoria, a dignidade, dentre tantas outras. Preocupa-me o fato de que tudo isso parece estar cedendo espaço para novas configurações e formas de vida na família que não favorecem tal ambiente. Exemplo disso são os pais que muitas vezes e por motivos diversos estão ausentes na educação dos próprios filhos e só percebem tal ausência quando os filhos crescem e a vida já está adiantada. Fato é que a Igreja hoje, mais que nunca, insiste que a família seja a primeira e principal fonte de cultivo da fé e das virtudes.
Nesse sentido o Papa Bento XVI nos diz: “A família ‘patrimônio da humanidade’, constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos. Ela foi e é escola da fé, palestra de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e é acolhida generosa e responsavelmente” [3]. É o próprio Pontífice quem nos indica a missão da família nos dias atuais, ou seja, ser patrimônio da humanidade e da fé, ser defensora e promotora da vida. Ser escola da fé para que os filhos não entrem na vida simplesmente para vivê-la segundo as suas próprias convicções, mas que se percebam parte de uma grande família, a família de Deus. É nesse sentido ainda que dentre as diversas possibilidades que o Documento de Aparecida apresenta para falar da realidade do nosso continente ele apresenta a sessão “Família, pessoas e vida” onde vai discorrer belamente sobre a importância da família no âmbito religioso, mas também social, cultural, educativo e político.
Assim, a Igreja não cessa de mostrar que a família é também uma instituição de supremo valor para a sociedade. É na família que são gerados, como dissemos, os valores que possibilitam a vida em sociedade. É nela que são ensinados os primeiros passos para uma boa convivência como o respeito, a justiça, o amor, a paz, o diálogo, a partilha, dentre tantos outros bens. A Igreja mesma assegura que “a família é a célula originária da vida social” [4]. É a autoridade, a responsabilidade e a estabilidade geradas na família que podem garantir os fundamentos da liberdade, da segurança e da fraternidade no conjunto social. Dessa maneira, a sociedade é convidada também a defender e promover a vida em família para que esta mesma sociedade continue sendo um ambiente em que se continue a ver e a construir o Reino de Deus.
Por fim, terminamos com as palavras do saudoso Beato João Paulo II: “Num momento em que a família é alvo de numerosas forças que a procuram destruir ou de qualquer modo deformar, a Igreja, consciente de que o bem da sociedade e de si mesma está profundamente ligado ao bem da família, sente de modo mais vivo e veemente sua missão de proclamar a todos os desígnios de Deus sobre o matrimônio e a família, para lhes assegurar a plena vitalidade e promoção humana e cristã, contribuindo assim para a renovação da sociedade e do próprio Povo de Deus”[5].
Boa Semana da Família a todos!
Eduardo Moreira Guimarães
6º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio – PR
[1] FAMILIARIS CONSORTIO, n. 1.
[2] GRAVISSIMUM EDUCATIONIS, n. 3.
[3] SESSÃO INAUGURAL DOS TRABALHOS DA V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO DA AMÉRICA LATINA E DO CARIBE, NA SALA DE CONFERÊNCIA DO SANTUÁRIO DE APARECIDA – DISCURSO (13 DE MAIO DE 2007), n. 5.
[4] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 2209.
[5] FAMILIARIS CONSORTIO, n. 3.
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