“Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”
Celebramos com alegria o 20º Domingo do Tempo Comum. Durante os últimos domingos temos visto Jesus pregar o Reino, compará-lo com diversas situações da nossa vida e, mais ainda, colocá-lo como responsabilidade também de cada um de nós e não só de Deus. Destarte, é preciso perceber que hoje a Palavra de Deus também nos orienta para a caminhada rumo à construção do Reino entre nós. É o próprio Jesus que abre as portas de seu Reino para todos aqueles que quiserem estar com Ele, fazer uma experiência com o Ressuscitado.
A preocupação do Pai não é só a nossa salvação, mas que todos cheguem ao conhecimento da verdade, ou seja, para conhecer o Evangelho é necessário vivê-lo, experimentá-lo. Por isso, a celebração desse domingo é também uma celebração da universalidade da missão. Isso porque é o próprio Senhor quem vai conduzir todos aqueles que o obedecem ao seu monte santo e alegrá-los na sua casa de oração, que é casa de oração para todos os povos (Is 56, 1.6-7).
Assim, a missão não é estendida somente para aqueles que estão há muito na comunidade ou na paróquia. Mais que isso, a oportunidade de ser um evangelizador, de testemunhar a fé é para todos os homens e mulheres que se dispuserem a aderir ao Senhor. Dessa forma, para nós cristão, todos aqueles que vêm do sul ou do norte, do leste ou do oeste, têm lugar na Igreja porque foi o próprio Jesus que nos ensinou a obediência ao Pai. Porque é pela nossa confiança em Deus, pela nossa fé e muito mais pela nossa confiança e perseverança em Deus que irá se realizar a salvação de muitos, pois é preciso honrar nosso próprio ‘ser cristão’, nosso ministério, para que todos aqueles que ainda não estão entre nós encontrem o próprio Deus (Rm 11, 13-15.29-32).
É assim que Jesus mesmo é aquele quem por primeiro acolhe todas as pessoas. Desde o mais pequenino até aqueles que têm o coração duro e firme e que ainda não acolheram a Boa Notícia do Reino. Por isso, para Jesus ninguém pode ser despedido, mandado ir embora, mas todos têm lugar na casa d Pai. Foi isso que aconteceu com a mulher Cananéia (Mt 15, 21-28). Ela não era das ovelhas de Israel, era estrangeira, ‘de fora’, estranha. E Jesus quer ver até onde aquela mulher consegue chegar com a sua fé porque foi ela quem pediu a misericórdia do Senhor e que Ele salvasse sua filha.
É interessante perceber que a mulher cananéia, mesmo sendo de uma outra região provou ter muita fé, provou não querer simplesmente ver Jesus, mas contar com sua presença e com o seu poder de cura. Ela foi pedir migalhas pra Jesus, mas este deu a ela toda fartura porque ela demonstrou muita fé. “Mulher, grande é a tua fé”. Foi pela fé que a cura aconteceu. Aquela mulher não duvidou do poder de Deus e de que estava diante do próprio Cristo, o Filho de Deus.
Nesse sentido é bom perceber como está a nossa caminhada enquanto cristãos e cristãs. Como vai a nossa fé, como ela se manifesta e como ela percebe a presença de Jesus. E, de forma mais intensa, é necessário que a nossa fé se manifeste como vida, como amor, como acolhida. Por isso, se perguntássemos com qual palavra poderíamos denominar a liturgia de hoje, certamente a ACOLHIDA seria a resposta mais acertada. Não é possível que numa comunidade que vive a sua fé alguém ainda não tenha lugar, ainda exista preconceito, discriminação, injustiça, desamor. No interior das comunidades cristão não pode ter lugar a atitude dos discípulos de querer mandar a mulher embora porque ela grita. Nunca. É preciso ouvir o grito. O que precisa quem vem gritando atrás de nós? Talvez simplesmente de ser amado, acolhido, reconhecido.
Que a nossa fé seja tão simples e tão intensa que leve-nos a acolher aqueles que chegam até nós querendo, por vezes, migalhas que sobram da mesa; mas que nós saibamos pelo amor que aprendemos do próprio Cristo a transformar o pouco que temos e somos em grande fartura para aqueles que mais necessitam.
Eduardo Moreira Guimarães
6º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio – PR
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