Fiz recentemente um trabalho acadêmico sobre a Reforma Protestante e penso que ele pode auxiliar na compreensão do tema, apesar de ser um texto bem simples e de fácil compreensão!
No cenário de transformações que marcavam a Europa, a Igreja católica vivia uma crise. Seus preceitos e mandamentos estavam em contradição com os anseios da burguesia emergente, pois a Igreja proibia a usura, ou cobrança de juros por empréstimos feitos, e defendia o justo preço das mercadorias, ou seja, produção e comercialização sem direito a lucro. Além do poder espiritual sobre a população, os membros do clero detinham o poder político-administrativo sobre os reinos. O papa recebia tributos feudais provenientes das vastas extensões de terras controladas pela Igreja em toda Europa. Como afirma Faria (1989, p.46-47):
[...] é necessário verificar que determinados elementos da economia e da política da época também contribuíram poderosamente para a ruptura com a Igreja. Pode-se destacar: a questão da insatisfação dos reis para com o poder temporal do papa, um verdadeiro obstáculo à centralização do poder que então ocorria; as terras da Igreja despertavam a cobiça d nobres e reis os impostos cobrados pelo papa constituíam uma autêntica evasão de divisas; o choque entre o pensamento burguês e as concepções econômicas da Igreja.
O avanço das ciências e da filosofia no Renascimento também estava na origem das críticas à Igreja, refratário ás novas idéias. A física e a astronomia sustentavam a teoria heliocêntrica, enquanto as autoridades católicas defendiam o geocentrismo e a forma plana do planeta. Quanto á filosofia, mesmo as propostas e influências de humanistas católicos, como Erasmo de Roterdã e Thomas Morus, não encontravam eco na Igreja. Suas idéias visavam combater a desmoralização do clero e buscar uma adaptação aos novos tempos.
Havia também conflitos internos na Igreja. Membros do clero pretendiam dirigir reformulações no seio do cristianismo, situação que provocou sérias divergências com o papado. Existiam ainda os choques de sistemas teológicos. De um lado, Santo Tomás de Aquino que via no livre-arbítrio e nas boas obras o caminho para a salvação; de outro, as teorias de Santo Agostinho que colocavam o destino do homem inteiramente nas mãos de Deus.
Além de todos esses motivos, o comportamento do clero nem sempre condizia com as mensagens da Bíblia e de outros textos básicos do cristianismo, mais acessíveis com o aperfeiçoamento da imprensa. Ficava evidente o abismo entre o comportamento dos membros da Igreja e a doutrina católica. Era nítida a despreparação do clero para orientar os fiéis. Os escândalos atingiam o papado, as riquezas circulavam pelos palácios episcopais, os altos postos eclesiásticos eram vendidos e poderosas famílias italianas disputavam abertamente o trono papal. E, como estopim da situação, “o maior escândalo talvez fosse o da venda das indulgências, isto é, do perdão dos pecados cometidos pelos fiéis em troca de pagamentos a religiosos (incluindo o papa)” (VICENTINO, 2001, p.205).
Desde o século XII houve movimentos reformistas na Europa. Exemplo disso é o professor inglês John Wycliff, que traduziu a Bíblia do latim para o inglês, a fim de torná-la acessível a todos. Ele recusou também o culto aos santos e negou a validade das indulgências, além de acusar o clero de cobrar mais impostos que o rei. Na Boêmia (Sacro Império Romano-Germânico), outro professor se propôs como reformista: Johann Huss. Pregava o fim do culto aos santos e das indulgências e incitou a população contra o clero defendendo o confisco dos bens da Igreja na Inglaterra e a adoção dos votos de pobreza material do cristianismo primitivo. Foi preso, excomungado e condenado à morte na fogueira.
Na Alemanha reinava o descontentamento e as condições para uma reforma eram mais favoráveis: “atraso cultural, Igreja rica, mentalidade cristã mais enraizada, falta de um governo forte que pudesse defender os interesses dos alemães” (SOUZA, 1978, P.216). A nobreza buscava um pretexto para se apossar dos bens da Igreja, bem como para não pagar tributos á autoridade papal. Com o fortalecimento dos Estados passou-se a questionar mais esses pagamentos de tributos e, no território alemão, a submissão ao papa era vista por um número cada vez maior de pessoas como dominação estrangeira. Digno de nota, é que, como demonstra Monteiro (1963, P.11) “é curioso constatar que a força expansiva, que deu início ao movimento de Reforma manifesta, assenta mais em causas materiais do que em causas espirituais, isto é, principalmente no nacionalismo nascente e cada vez mais vigoroso de certos estadas”. Esses motivos levaram o movimento reformista a explodir inicialmente na Alemanha, mas rapidamente ele propagou-se por quase toda a Europa, abrangendo, entre outras, a Inglaterra, França, Suíça, Escócia.
EFEITOS DA REFORMA
Quando se trata da reforma protestante é necessário perceber que este tema recebe críticas ferrenhas por parte de estudiosos que defendem as posições adotadas pela Igreja durante a Idade Média, ao mesmo tempo em que é exaltada pelos adeptos das mudanças ocorridas. Diante desta dualidade de posições, faz-se necessário pontuar quais são, de fato, as contribuições deste evento histórico e revolucionário.
O principal efeito é o estabelecimento, no continente europeu, de duas culturas diferentes (protestante e católica) que, mesmo evolucionando em sentidos diversos, conservarão a solidariedade suficiente para evitar uma ruptura e uma separação definitivas. Essas culturas começarão a interpenetrar-se tão profundamente que a sua fusão se pode considerar em via de completa realização.
A unidade da Europa como comunidade cristã está, portanto, desfeita e para isso concorrem tanto católicos como protestantes. Como causa relevante aparece, como nos primórdios do movimento reformista, os interesses econômicos e políticos.
REFERÊNCIAS
BARBEIRO, Heródoto; CANTELE, Bruna Renata; SCHNEEBERGER, Carlos Alberto. História: volume único para o ensino médio. São Paulo: Scipione, 2004. (Coleção de olho no mundo do trabalho)
BIHLMEYER, Karl; TUECHLE, Herman. História da Igreja. V.3. São Paulo: Paulinas, 1965.
FARIA, Ricardo de Moura. História. Belo Horizonte: Editora Lê, 1989.
GOMES, Paulo Miranda. História geral. Belo Horizonte: Livraria Lê, 1977.
MONTEIRO, Domingos. O livro de todos os tempos: história da civilização. V.7. Rio de Janeiro: Editora Lidador Ltda, 1963.
REALE, Giovanni. História da filosofia: do humanismo a Kant. V.3.São Paulo: Paulinas, 1990.
SOUZA, Osvaldo Rodrigues de. História geral. 16.ed. São Paulo: Ática, 1978.
VICENTINO, Cláudio. História para o ensino médio: história geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2001. (Série Parâmetros)
Eduardo Moreira Guimarães
5º Período de Filosofia
5º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio - PR
Comentários
Postar um comentário