Um dia à tarde, antes de sair para visitar uns amigos passei pela biblioteca do Seminário onde resido. De repente, um livro me salta aos olhos. Era justamente o livro “Perdoa a ti mesmo” do monge beneditino Anselm Grun. Já tinha ouvido falar muito de suas obras, apesar de nunca ter tido contato com este místico dos nossos tempos. Peguei o livro, olhei-o, vi seu índice e decidi levá-lo comigo. Afinal, penso que temos que ler de tudo um pouco, apesar das tarefas cotidianas.
O autor começa sua obra relatando a dimensão bíblica do perdão e da reconciliação fazendo inclusive um relato dos significados de ambos os termos. Também apresenta ao leitor as faces de um Deus misericordioso, capaz de libertar o pecador pela sua bondade e mais ainda coloca a experiência do perdão como ilimitada. O autor parte do pressuposto de que a nossa sociedade vive marcada pela falta de perdão, mais do que em relação ao outro, em relação a si mesmo. Muitas pessoas sofrem demais por problemas que poderiam ser resolvidos de forma breve e harmoniosa.
Faz também um convite em seu livro para que nos reconciliemos com Deus. É bem verdade que, muitas vezes, diante dos sofrimentos brigamos com Deus e não conseguimos perceber sua presença maravilhosa e bondosa diante de nós. E dá alguns passos para que essa reconciliação com Deus. Primeiro esse perdão começa no pensamento numa atitude de não fazermos mal aos outros nem a nós mesmos pelo pensamento. Às vezes, conseguimos respeitar o outro fisicamente, mas nossos pensamentos estamos devorando-o. É necessária também uma reconciliação com o inimigo interior que cada um tem dentro de si. Nessa perspectiva é Jesus mesmo quem nos ensina a vencer o mal pelo amor. E, fala-nos ainda o autor sobre o amor ao inimigo. Amar a quem nos ama não nos acrescenta nenhuma alegria, mas amar aqueles com quem temos nossos espinhos parece libertador.
Como segundo momento de seu texto, o monge beneditino apresenta a reconciliação na esfera pessoal. É o caminho da reconciliação consigo mesmo. De entrar no mais profundo de cada um e de enxergar lá as luzes e sombras que fazem parte de nossa história diária e que, muitas vezes, nos impedem de ver a nós mesmos, ao outro e à Deus. A reconciliação com minha história de vida, aceitando-me a mim mesmo. Perdoando a mim, estou preparado para perdoar ao outro. Aqui, Anselm Grun apresenta alguns passos para a reconciliação e confirma o perdão como momento de relação pura e sem interesse com o outro.
Perdoados eu e o outro, somos convidados a nos reconciliar com nossa comunidade. É bem verdade que o perdão além de nos separar de Deus e do outro, nos distancia da comunidade e do projeto de Jesus de que todos “sejam um”. Nesse sentido, é necessário o perdão no matrimônio e na família, nas comunidades religiosas, nas comunidades interioranas, nas paróquias, na sociedade e entre os povos.
Como desafio dessa missão reconciliadora, a Igreja se faz missionária do perdão. Ela traz uma mensagem de reconciliação em sua história e em seu jeito de anunciar o Reino. Ela possibilita o contato do homem com Deus e com os outros, ela tem rituais reconciliatórios que deixam o homem e a mulher livres diante da culpa que antes carregavam. Além disso, a Igreja tem o grande e importante sacramento da Reconciliação que nos aproxima de Deus, do outro e nos insere novamente na comunidade. Aqui o autor faz a distinção entre confissão de reconciliação, de devoção e de orientação espiritual, salientando que todo ato de humilhar-se diante de Deus implorando a sua misericórdia é um ato daquele que crê e confia na bondade misericordiosa do Pai do céu. Gera a vida em nós!
Já quase encerrando seus escritos, o autor traz a nossa relação com a culpa. O quanto esse relacionamento faz sofrer se não for bem curado e encarado. É preciso ver a culpa como oportunidade de libertação e crescimento. Não se culpar, nem se desculpar, mas ver com os olhos de Deus aquilo que nos ofendeu ou que magoou o nosso irmão e colocar tudo, como dizemos “em pratos limpos” numa conversa libertadora e amigável. Oferecer a Deus a nossa verdade e o nosso sentimento de alegria pelo perdão.
Por fim, num tempo em que o sacramento da Reconciliação está tão deturpado e desacreditado, Anselm Grun apresenta o sentido da confissão com palavras belíssimas, capazes de converter não só a mente, o intelecto, mas também o coração e as atitudes. Como ele mesmo diz à página 117 “A confissão transmite o perdão de Deus de forma que este possa chegar às profundezas do coração do homem”. É uma leitura fascinante, uma oração, uma experiência de reconciliação e de amor. A leitura desse livro faz bem e liberta!!! Boa leitura...
Eduardo Moreira Guimarães
5º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio - PR
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