Nesse tempo em que tanto cresce entre nós os neopentecostais, dou a conhecer em meu blog uma reflexão do Pe. J. B. Libanio que me parece muito pertinente no seu escrito sobre o assunto.
O olhar do teólogo
Neopentecostalismo
J. B. Libanio
Jornal de Opinião – Outubro de 2007
Neopentecostalismo esconde na raiz o termo “pentescostes”. O afixo ismo carrega, com freqüência, conotação negativa de exacerbação da realidade em questão. E o prefixo neo oculta certa dose paradoxal de superação e repetição. Vejamos ponto por ponto.
Quando a Igreja ou certo movimento religioso se autodetermina pentecostal alude à efusão do Espírito Santo em reação a outra realidade considerada sem essa presença. Assim se estabelece a contraposição, de um lado, a rotina, a razão ordenadora, o que se fazia até então, o instituído, a organização e,de outro,a vontade de romper com a instituição, o apelo à criatividade, ao emocional. Ao longo de toda a história da Igreja, ocorreram explosões pentecostais em reação ao excesso de estrutura institucional. O pentecostalismo na sua origem mais recente, nos EUA, recebeu incentivo por parte de negros que não se sentiam bem na rigidez das Igrejas evangélicas de corte saxônico. Desencadearam processo de libertação espiritual no interior daquelas igrejas.
Chegaram ao Brasil com o mesmo propósito de espiritualizar e renovar o mundo evangélico. No universo católico, também vivenciamos fenômeno semelhante sob a forma de renovação carismática. O neopentecostalismo, porém, toma, em parte, distância do pentecostalismo. Entre nós, ele se manifesta sobretudo na Igreja Universal do Reino de Deus.
Cresce enormemente. Joga com fatores de diversa natureza. Aproveita a disponibilidade religiosa de católicos que se sentem vulneráveis por falta de engajamento pessoal na Igreja, por situação social precária e por carência de presença próxima que lhe venham em socorro.
Os neopentecostais recuperam elementos religiosos do catolicismo tradicional, como os milagres, as curas e especialmente a presença do demônio, fonte de todos os males, que se expulsa pelo poder de Jesus, exercido naturalmente pelo pastor para bem espiritual e material do fiel. Em troca o fiel demonstra a Jesus generosidade em doar os dízimos. O jogo entre dízimo e retribuição de Deus pela ação da Igreja neopentecostal se transforma na mola do crescimento material e da multiplicação dos recursos à disposição do pastoreio e para a vida dos próprios pastores.
Em mundo de profundo desajustamento e desintegração social, com o crescimento de pobres, a oferta religiosa infalível de melhoria de vida pelo poder de Jesus, desde que o fiel cumpra a sua parte de pagar píngues dízimos, seduz facilmente quem vive em situação de penúria. E nas Igrejas recebem o acolhimento personalizado, possível pela enorme quantidade de pastores. Identifica-se a salvação oferecida por Jesus com os sinais externos das curas, da melhoria de vida e do dízimo. Os três se alimentam mutuamente, gerando atração sobre o povo pobre.
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