Ontem à noite (17/05/2011) estava lendo o jornal FOLHA de São Paulo e quão grande foi minha surpresa: a Igreja Católica, tão vitimada por críticas, por parte de uma mídia sem interesse com os valores da fé e da vida dos seres humanos e por um mundo cada vez mais desprovido de valores e de limites ainda incomoda. De duas reportagens que lia: “Homofobia no Senado” do editorial (folha A2)e “Célula-tronco reprogramada gera rejeição” de Reinaldo José Lopes (folha C7), apontam a Igreja Católica como aquela que é contra alguns comportamentos e que proíbe alguns procedimentos médicos. Não quero aqui entrar no mérito da questão das reportagens. Quero, ao contrário, demonstrar como a Igreja ainda está presente e atuante na nossa sociedade. Como sua voz ainda se faz ouvida. Por isso, o que mais me chamou atenção não foi criticarem a Igreja Católica por suas posições, isso já ficou até comum. Encantou-me a força que a Igreja ainda tem de ser notada, de ser questionada e de ser colocada “na berlinda”, ser “bombardeada”! Como nossa Igreja ainda é uma voz que clama, outrora como João Batista no deserto, ainda hoje no deserto que parece estar o mundo de valores éticos e evangélicos: “Eu sou a voz daquele que clama no deserto: aplainai o caminho do Senhor”(Jo 1,23). Como a voz da Igreja ainda é ouvida neste mundo secularizado, sem referência e muitas vezes sem amor. Sem importância com o sagrado, com o irmão, com o outro que sofre ao nosso lado. A Igreja demonstra assim que é aquela que veio, não para ser deste mundo, mas para apontar o Reino definitivo de Deus que já começa aqui, mas que nos aguarda também lá no céu: “Não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Consagra-os com a verdade: tua palavra é verdade. Como tu me enviastes ao mundo, eu os enviei ao mundo” (Jo 17,16-18). Ao mesmo tempo é uma Igreja que sofre amargamente as duras e pesadas críticas quanto às suas manifestações e posições sobre alguns assuntos, mas que se mostra cada vez mais correta sobre aquilo que ela diz. É Igreja da profecia. Como nos lembra aquela música: “Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão, se fecharem uns poucos caminhos, mil trilhas nascerão. Muito tempo não dura a verdade nestas margens estreitas demais. Deus criou o infinito pra vida ser sempre mais. É Jesus este pão de igualdade, viemos pra comungar. Com a luta sofrida do povo que quer, ter voz, ter vez, lugar. Comungar é torna-se um perigo, viemos pra incomodar. Com a fé e a união nossos passos um dia vão chegar!”. Como a Igreja está ao lado daqueles que mais precisam de ajuda, de atenção! Como ela se coloca contra aqueles que oprimem, excluem e negam a vida ou tentam abortá-la. Como a Igreja tem ainda uma voz firme e procura seguir A Verdade. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!”. É, a Igreja ainda é a voz de Jesus que se coloca ao lado dos fracos e oprimidos: “Assim se cumpriu o anunciado pelo profeta Isaías: Ele assumiu nossas fraquezas e carregou nossas enfermidades” (MT 8,1). A Igreja continua sendo a Samaritana que acolhe e que está a serviço das causas mais urgentes e necessárias, dos pobres, dos aflitos e dos injustiçados. A Igreja foi fundada sobre a pedra, que é o próprio Cristo, pedra esta que até os pedreiros rejeitaram. A Igreja é ainda o horizonte pelo qual devemos chegar a Deus. Como disse santamente o Papa Bento XVI na homilia do Sábado Santo deste ano: “A Igreja não é uma associação qualquer que se ocupa das necessidades religiosas dos homens e cujo objetivo se limitaria precisamente ao de uma tal associação. Não, a Igreja leva o homem ao contato com Deus [...]”. Sim, a Igreja é aquela que nos coloca diante de Deus, em um contato de amor e de obediência a Ele. Por isso, coloca-nos em contato com o irmão, com a realidade na qual vivemos. Por isso, é uma Igreja comprometida com o mundo, com os acontecimentos porque é a Igreja profética. É ainda a “luz que brilha no final do túnel”, é ainda a esperança de muitos e muitos coração cansados com o peso de seus fardos. Como disse o próprio Cristo: “Vinde a mim, vós que andais cansados e curvados, e eu vos aliviarei. Tomai meu julgo e aprendei de mim, que sou tolerante e humilde, e vos sentireis aliviados. Pois meu julgo é suave e minha carga é leve” (MT 12,28-30). É, a Igreja ressoa com sua mensagem em todos os tempos e lugares da terra. Se nos primeiros anos de sua missão ela sofreu o martírio e se pôde se orgulhar daqueles que deram a vida por causa de Jesus Cristo e de seu Reino, hoje continua se orgulhando por tantos homens e mulheres corajosas que se colocam a serviço do mesmo Reino de Deus e que sofrem, talvez de forma diferente, um martírio todos os dias pela rejeição e pela crítica de alguns meios ideológicos que existem presentes na sociedade. O certo é que, em meio a tantas palavras, a tantos discursos, a voz da Igreja, a voz do próprio Cristo ainda é ouvida e continua incomodando aqueles que a ouvem e que não querem seguir o caminho do Mestre e escutar sua voz, pois “Quem está a favor da verdade escuta a minha voz” (Jô 18,37). A nossa missão de cristãos e cristãs deste século não é diferente da missão de Maria Madalena após a ressurreição. Mais do que nunca, somos convocados a apresentar à nossa sociedade aquele que conhecemos e que transformou nossas vidas: “Vi o Senhor” (Jo 20,18). Mesmo nas dificuldades, nos tempos aparentemente sombrios e nos tempos em que o medo paira sobre muitos de nós, o desânimo não pode nos abater. Afinal, fizemos uma opção, a opção pelo Reino de Deus que começa aqui e agora e que tem Jesus como fortaleza e abrigo: “Eu estarei convosco sempre, até o fim do mundo” (MT 28,20).
Eduardo Moreira Guimarães
5º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio – PR
Comentários
Postar um comentário