"É na esperança que fomos salvos (rm 8, 24). [...] A redenção é-nos oferecida no sentido de que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos enfrentar nosso tempo presente: presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta; se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho" (n. 1)
Li a segunda carta encíclica de Bento XVI e partilho algumas anotações e nuances importantes, uma visão geral, segundo minha perspectiva. É uma carta muito bonita, sobretudo porque fala da esperana e trata de assuntos que interessam a todo cristão. É segundo a esperança e graças a ela que o homem vive, ou seja, traça projetos, lança-se a metas e vive o presente em vista de um futuro. Nesse sentido, a fé é esperança, porque é certeza de alcançar estar junto de Deus. E aqui adquire sentido o desejo da vida eterna. Mas o que é essa vida? É estar junto de Deus, é ainda aquele algo que existe, que não conhecemos, mas pelo qual nos sentimos impelidos (cf. n. 11).
Por isso, o Santo Padre faz questão de assinalar que não é uma esperança individualista, mas de uma comunidade que vive a fé, que segue o mandamento do Senhor de amar-se mutuamente. Mas essa fé-esperança sofreu várias modificações de conceito e definição ao longo da história. Então o Papa trabalha cada época histórica e o sentido que essas palavras adquiriram naquele contexto determinado. Magistralmente, Bento XVI aponta os avanços e limites da razão, por exemplo, indicando qual a fisionomia da esperança. Essa fisionomia é o próprio Deus, diz ele. "[...] é verdade que quem não conhece a Deus, mesmo podendo ter muitas esperanças, no fundo está sem esperança, sem a grande esperança que sustenta toda a vida (cf. Ef 2,12). A verdadeira e grande esperança do homem é Deus" (n. 27). Portanto, o rosto da esperança é o próprio Deus, aquele do qual viemos e para o qual voltaremos, um dia.
Mas essa esperança, para ser tocada pelo homem, aprendida por ele, necessita de exercício e, pensando nisso, o Santo Padre coloca que a oração é a escola da esperança, o agir e o sofrer são lugares da aprendizagem da esperança e o Juízo final como lugar de aprendizagem e de exercício da esperança, afinal, "A fé em Cristo nunca se limitou a olhar só para trás nem só para o alto, mas olhou sempre também para frente, para a hora da justiça que o Senhor, repetidas vezes, prenunciara" (n. 41). Portanto, com a morte, a opção de vida feita por cada um torna-se definitiva, está a própria vida de cada um nas mãos do Juiz. Por isso, o desejo de sempre procurar fazer a vontade de Deus, para que no final, ou no início da eterna vida com Deus, o céu seja o lugar a esperar todos os seres humanos.
Finalmente, Maria é a estrela da esperança. É ela a estrela, como diz o Papa, "As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas qe souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança" (n. 49). Maria é essa estrela, por excelência. É aquela que se inclinou diante da grande missão a que foi chamada e escolhida. É ela que na cruz, depois de todo sofrimento, ainda recebe outra missão: ser mãe dos crentes. "[...] junto da cruz, na base da palavra mesma de Jesus, vós tornastes-vos mãe dos crentes. Nesta fé que, inclusive na escuridão do Sábado Santo, era certeza de esperança, caminhastes para a manhã da Páscoa. A alegria da ressurreição tocou o vosso coração e uniu-vos de um modo novo aos discípulos, destinados a tornar-se família de Jesus mediante a fé. Assim vós estivestes no meio da comunidade dos crentes, que, nos dias após a Ascensão, rezavam unanimente pedindo o dom do Espírito Santo (cf. At 1, 14) e o receberam no dia de Pentecostes. O 'Reino' de Jesus era diferente daquele que os homens tinham podido imaginar. Este 'Reino' iniciava naquela hora e nunca mais teria fim. Assim, vós permanceis no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança. Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu Reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho" (n. 50).
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