Eduardo
Moreira Guimarães
Diocese de
Cornélio Procópio
Na quarta-feira de
Cinzas a Igreja começa sua caminhada pelo deserto com Jesus. Momento de
reflexão e de profunda interiorização, a Quaresma é “o tempo favorável pelo
qual se sobe ao monte santo da Páscoa” (Cerimonial dos Bispos, n. 249). É a
ocasião de realizar um verdadeiro retiro pessoal e comunitário tendo em vista a
própria santificação e a santificação da comunidade-Igreja-sociedade.
No Brasil, desde o ano de 1964, a Igreja tem dado
especial atenção durante esse tempo de penitência, jejum e oração às realidades
mais sofridas da sociedade que afetam diretamente o coração do Criador e a vida
de todos os cristãos. É a oportunidade de conhecer situações diversas que,
ainda hoje, oprimem, escravizam e fazem sofrer muitos irmãos e irmãs.
Cada ano, a Campanha da Fraternidade (CF) aborda um
assunto específico que ajuda a repensar a missão da Igreja e a missão de cada
um a favor dos mais sofridos, esquecidos e injustiçados do mundo. Para esse
ano, o tema escolhido é “Fraternidade e Tráfico Humano” e visa “identificar as
práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-lo como violação da
dignidade e da liberdade humana, mobilizando os cristãos e a sociedade
brasileira para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e
filhas de Deus” (Objetivo geral da CF 2014).
Cada cristão é convidado a celebrar o mistério da morte e
ressurreição de Jesus Cristo sensibilizando-se com a dor e o sofrimento do
outro, das vítimas dos males do tráfico humano que têm vários rostos:
exploração no trabalho, exploração sexual, extração de órgãos, tráfico de
crianças e adolescentes etc. Além disso, são vários os meios que configuram o
tráfico: “ameaça, uso de força, rapto, engano, abuso de autoridade, situação de
vulnerabilidade” dentre outros. (Texto-base da CF 2014, n.70)
Sendo assim, urge a necessidade de uma atenção também
eclesial para essa realidade. “A Igreja é solidária com as pessoas traficas”
(n. 91). Ela quer contribuir na erradicação desse crime do tráfico humano,
porque é um ato de “injustiça e violência que clama aos céus. É uma negação
radical do projeto de Deus para a humanidade” (n. 91).
A celebração da Páscoa do Senhor é a grande festa da
libertação, portanto, a partir do sofrimento de Jesus Cristo é possível ver
também o sofrimento de tantos homens e mulheres que são crucificados
diariamente com Ele. “Em Jesus Cristo cumpre-se o evento decisivo da ação
amorosa de Deus” (n. 127), por isso, a celebração da sua vitória sobre o pecado
e a morte deve ser também a celebração da vitória de todos aqueles que padecem
no hoje da história.
“A revelação, em Cristo, do mistério de Deus é também a
revelação da vocação da pessoa humana à liberdade” (n. 130) que faz parte de
sua essência criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). Jesus ama cada um de
forma concreta e o amor faz livre. Ao descobrir-se amado por Deus, o ser humano
mesmo compreende a sua própria dignidade e liberdade.
Que neste tempo favorável, cada cristão e cristã nutra em
si o desejo de estar mais próximo de Deus fazendo-se mais próximo dos irmãos
nas mais diversas periferias da existência humana. O amor liberta, afinal “é
para a liberdade que Cristo nos libertou”! (Gl 5, 1).
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