Questão 1.
Faça uma
verificação de um lugar de catequese paroquial e analise, a partir das
dimensões da Revelação, as condições necessárias à catequese para que ela seja
mediação eficaz da Revelação.
R: É importante, no primeiro momento
perceber que a Revelação é a decisão de Deus de manifestar-se ao homem. Ele
próprio se dá a conhecer e somente assim pode ser conhecido[1].
Partindo disso, é necessário perceber também que a revelação não se dá no
abstrato, no âmbito extra-humano, mas a história é o lugar da Revelação de Deus
em Jesus Cristo.
No
entanto, não é que Deus fale sobre si mesmo simplesmente, mas é “[...]
significar que Deus se torna ele mesmo em sua realidade mais própria como que
um constitutivo interno do homem”[2].
Deus faz da história humana a sua história: das alegrias, das esperanças, dos
sofrimentos, sua realidade também. Ele, fez-se carne para habitar entre suas
criaturas (Cf. Jo 1, 14).
Depois de
analisar esses pressupostos fundamentais para se entender a Revelação, podemos
verificar como o ambiente catequético pode ser mediação da Revelação. Primeiro
precisa ser um ambiente agradável. Enquanto espaço físico que proporcione aos
catequizandos momentos de paz, de tranqüilidade e de escuta de Alguém que chama
e fala. Portanto, o espaço físico deve ser arejado, com boa estrutura. Seria
bom e muito necessário que recursos tecnológicos fossem usados. Uma Capela para
momentos de silêncio e oração.
De
repente uma área maior que uma sala para dinâmicas e encontros com grupos
maiores que facilitem a inserção das crianças e /ou jovens nas atividades mais
sociais. A catequese, penso, deveria ter também uma dimensão comunitária
envolvendo os catequizandos na vida da comunidade. Por isso, é importante que o
ambiente catequético seja próximo à Igreja ou em um local em que existam
atividades religiosas.
Também é
sempre importante que a catequese seja uma catequese inserida na vida e na
missão da Igreja. Para que isso aconteça é sempre necessário um acompanhamento
da catequese dos tempos litúrgicos e a participação ativa das crianças e dos
pais na vida e na liturgia da Igreja. É de muita valia a presença dos pais na
vida catequética dos filhos. Na paróquia em que atuo, por exemplo, realizam-se
encontros periódicos com os pais dos catequizandos para que eles, de alguma
forma, sejam inseridos no processo de Iniciação da Fé dos filhos e para que
também informem-se mais da fé.
Finalmente,
a catequese para ser marca da Revelação e para ser mediação desta, deve estar
inserida na história. Mas de que forma? Primeiramente como estudo das verdades
da fé. É impossível, penso, um caminho de construção da fé sem conhecer a fé
que se busca. Como se crer em uma verdade que não se conhece? Portanto, a
catequese deve estar apoiada teoricamente.
No
entanto, apenas a teoria, não responde à mediação da Revelação. Se esta é
histórica e inserida, encarnada na vida humana, o cristão, portanto o
catequizando, precisa também estar inserido na história da humanidade, da sua
cidade, da sua comunidade, da sua família e de sua própria vida. Assim, a
catequese não pode ser nem somente ad
intra nem somente ad extra, mas
precisa conjugar os ensinamentos da sala de catequese, os conteúdos da fé com a
vida que se vive.
Sendo
assim, o espaço da catequese é sempre levar o catequizando a uma experiência
concreta da fé que ele vive e professa. Uma fé engajada no hoje da história com
a realdiade social, política e demais âmbitos da vida. Para isso,
evidentemente, a catequese deve olhar para si e para fora de si. Então é muito
interessante atividades que envolvam questões sociais, discussões atuais e
trabalhos que façam com que os formandos estejam em contato com a comunidade no
seu ser cotidiano, na sua conjuntura social.
A
catequese não deve e não pode se restringir à uma sala de aula. Ela é mais do
que isso, é, de repente, o primeiro contato do catequizando com Aquele que o
chama, como chamou tantos homens e mulheres antes de nós. No entanto, chamou-os
para estar consigo, mas inseridos no mundo, na vida, na história.
Questão 2:
Você foi
convidado a realizar uma palestra com os catequistas de uma Paróquia sobre o
tema “A catequese no processo de evangelização, principalmente a partir do
primeiro anúncio”. Elabore sua exposição com fundamentos necessários à
catequese evangelizadora.
R: Para falar sobre o tema proposto:
“A catequese no processo de
evangelização, principalmente a partir do primeiro anúncio” é necessário
ter em mente o que disse João na sua primeira carta: “Isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em
comunhão conosco” (1Jo 1, 3a). A partir dessa motivação bíblica, é possível
abordar o tema como sugere o próprio documento de Iniciação à vida cristã da
CNBB[3].
“Jesus formou os discípulos, devagar”[4].
Houve inicialmente um chamamento, um aprendizado e um convívio. Somente após a
convivência, o aprender com o Mestre, aconteceu o envio, a missão.
Mas mesmo
com o envio, não estavam prontos para a Missão, para a árdua tarefa de ser
Igreja. Por isso, pode-se refletir a
catequese no processo de evangelização a partir de seis pontos como apresenta o
documento:
1)
Busca (Jo 1, 38) – como pergunta o
próprio Senhor, que procurais? Então o primeiro passo da catequese é
perguntar-se o que se busca, ou quem se busca?
2)
Encontro (Jo 1, 38-39) – o segundo momento
é o encontro. Onde moras? Como te conhecer melhor? Aqui, certamente a
preocupação do Papa Emérito Bento XVI ecoa de forma sublime. Não é qualquer
encontro, um mero encontro, uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o
encontro com uma pessoa, Jesus Cristo, que dá à vida um novo sentido e rumo
decisivo[5].
É de valia também saber onde se encontra o Cristo, onde ele está. E aí o
Documento de Aparecida é brilhante quando aponta os lugares de encontro: A
Escritura, a Liturgia, a Eucaristia, a Reconciliaçãoe a oração pessoal e
comunitária[6]
3)
Conversão – o encontro só se dá a partir da
mudança de vida, da mudança de rota, do decidir-se por Jesus e seu plano de
amor: o Reino de Deus. Para tanto, sempre é tempo de voltar ao Senhor, de
buscar segui-lo com coragem e fidelidade. É a volta do Filho Pródigo, o
encontro da ovelha e da dracma perdidas (Lc 15).
4)
Comunhão – a comunhão é essencial.
Permanecer com o Senhor Jesus (Jo 1, 39), mas pedir com que Ele também
permaneça conosco, com seus seguidores: “Permanece conosco, pois cai a tarde e
o dia já declina” (Lc 24, 29). É comunhão também com a comunidade. Não como
Tomé que não viu o Senhor porque estava fora da comunidade (Jo 20, 24), mas
também não como a comunidade que estava com as portas fechadas (Jo 20, 19).
5)
Missão – A Igreja, afirma o Decreto Ad gentes do Concílio Ecumênico Vaticano
II n. 2, é, por natureza, missionária[7].
Sendo assim, cada discípulo deve atrair outros a seguirem Jesus Cristo (Jo 1,
40-41.45) para anunciarem a Boa nova e fazer discípulos em todas as nações (Mt
28, 19). Portanto, a vida da Igreja, a vida dos batizados, dos catequizandos e
de todos os cristão é uma vida marcadamente missionária, marcadamente
anunciadora. Como Maria Madalena que foi ao túmulo e viu que a pedra tinha sido
removida, corre até os outros discípulos (Jo 20, 1-2a) ou os discípulos de
Emaús que após descobrirem que era o Senhor quem os falara da escritura e lhes
partia o Pão, “[...] naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para
Jerusalém” (Lc 24, 33), assim também somos chamados a anunciar o Cristo Senhor.
Mas anunciar já, agora, no hoje da vida e da história.
6)
Transformação da sociedade – já nos primeiros atos dos
apóstolos após a ressurreição do Senhor e Mestre, nota-se a transformação
social, o jeito que eles viviam (At 2, 42). Colocavam tudo que tinham em comum,
vendiam suas propriedades e bens e dividiam entre todos (At 2, 44-45). Assim
hoje a Igreja, portanto, nós, somos chamados a viver esses valores da
fraternidade, comunhão e solidariedade fazendo do mundo mais pleno de vida para
todos.
Sendo
assim, a catequese como evangelização a partir do primeiro anúncio não pode
prescindir de suas principais características: processo de iniciação à vida de
fé engajada na comunidade, catequese cristocêntrica e fundada na Palavra de
Deus, catequese transformadora e libertadora, inculturada, interando fé e vida
e integrada com as outras pastorais no ensejo de um profundo e bonito caminho
de espiritualidade que parte de Jesus Cristo, mas tem uma opção preferencial:
os pobres[8].
REFERÊNCIAS
CNBB. Diretório nacional de catequese. n. 13.
Brasília: Edições CNBB, 2006.
CNBB. Iniciação à vida cristã: um processo de
inspiração catecumenal. n. 97. Brasília: Edições CNBB, 2009.
COMPÊNDIO
VATICANO II: constituições, decretos e declarações. Decreto Ad gentes. 11.
ed. Petrópolis: Vozes, 1968.
Deus caritas est., n. 01.
Documento de
Aparecida, n. 246-255.
PANNENBERG,
Wolfhart. Teologia sistemática. v.
1. Tradução de Ilson Kayser. Santo André (SP): Academia Cristã, 2009.
RAHNER, Karl. Curso fundamental da fé. Tradução de
Alberto Costa. São Paulo: Paulinas, 1989.
[1]
Cf. PANNENBERG, Wolfhart. Teologia sistemática. v. 1. Tradução de
Ilson Kayser. Santo André (SP): Academia Cristã, 2009. p. 263.
[2]
RAHNER, Karl. Curso fundamental da fé. Tradução de Alberto Costa. São Paulo:
Paulinas, 1989. p. 145.
[3]
CNBB. Iniciação
à vida cristã: um processo de inspiração catecumenal. n. 97. Brasília:
Edições CNBB, 2009. n. 14, p. 21-22.
[4]
Id.
[6]
Cf. Documento de Aparecida, n. 246-255.
[7]
Cf. COMPÊNDIO VATICANO II: constituições,
decretos e declarações. Decreto Ad gentes. 11. ed. Petrópolis:
Vozes, 1968. p. 352.
[8]
Cf. CNBB. Diretório
nacional de catequese. n. 13. Brasília: Edições CNBB, 2006. p. 20-24.
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