Uma grande polêmica surgiu no cenário nacional tendo em vista a aprovação, pelo Ministério da Educação, do novo livro didático destinado ao Ensino Fundamental das escolas públicas do país. Na verdade, a questão parece-me ainda não muito clara, afinal cada qual disse o que desejou e a questão real não ficou bem esclarecida. No entanto, o problema está em que o material aprova e contém frases com concordância verbal errada, tendo em vista a norma culta da língua portuguesa, apesar de ser apenas na linguagem falada e cabendo ao usuário da língua escolher como quer falar, na norma culta ou na forma cotidiana, do seu dia-a-dia, de acordo com o seu costume.
Essa questão suscitou uma discussão tremenda. Inicialmente porque no próprio livro didático teriam frases erradas, contrariando a norma educativa culta da língua portuguesa. Depois porque a língua portuguesa é um instrumento de unidade nacional. Alguns levantaram a questão de se recorrer à justificativa de que os alunos vão à escola para aprender e não podem encontrar e admitir tais questões no ensino e mais ainda no material didático.
Em meio a esse emaranhado de posicionamentos, embora não sendo especialista no assunto, quero dar minha contribuição na discussão como brasileiro e acadêmico.
Primeiramente percebo que o nosso país tem avançado muito no seu desenvolvimento social, econômico, político. Tem-se cada vez mais respeitado as diferenças e particularidades de cada cidadão, porém algumas coisas estão ficando muito “a Deus dará”. Exemplo disso é essa discussão sobre o livro didático. Quando somos pequenos nossos pais nos encaminham para a escola para aprendermos, para estudarmos pensando em um futuro mais promissor para cada um de nós. Entretanto, com essa iniciativa do Ministério da Educação, fica-nos a impressão de que o país não nos quer preparados para o mundo do trabalho, da informação e da tecnologia.
Recordo que a aprovação do Ministério da Educação sobre a flexibilidade dos currículos escolares caminha um pouco nessa direção. Dá-nos a entender que querem criar uma maioria que não pensa muito, que não intervém, que não se posiciona e que não interfere nas decisões governamentais. Tem-se a idéia de que o país quer crescer, mas crescer com apenas um grupo, não com a maioria da sua população.
Depois, vem uma questão ainda ligada à primeira: como um país quer atingir o ser apogeu na economia e em outros setores, mas deixar o rigor educacional às traças? Parece-me impossível. É necessário investir na educação para que nós tenhamos aqui capacidade de criar projetos, produtos, remédios, tecnologias, dentre outras coisas que nos façam despontar ainda mais frente a outros países e economias.
Também outro questionamento: a quem querem atingir com esse livro didático? A todos os cidadãos? Evidente que não. Quem hoje dirige o Brasil não foi formado nesses moldes. Não estudou com esse material nem sequer desejou isso. Tenho claro também que os filhos dos nossos governantes, daqueles que aprovaram tal livro não vão utilizá-lo no seu próprio ensino. Ou vão? Então existe mais um problema. Quem queremos educar? Para que? Para que mercado? Para que sociedade?
Num tempo em que se fala tanto da autonomia frente a tudo que nos é apresentado, vamos formar para a mediocridade impedindo um cidadão de dialogar corretamente com seu semelhante? Não haverá mais padrão porque está sendo incentivada uma linguagem sem parâmetros, sem limites, onde cada um se expressa como quer. É evidente que não vou utilizar a norma culta da língua portuguesa todo o tempo, com todas as pessoas, em todos os ambientes. Mas, desde o momento em que ela não é mais referência, ela passa a ser domínio apenas de alguns. Aí sim vamos aumentar mais a desigualdade, mais a dificuldade de nos tornarmos iguais.
Outro problema sério é a inserção no espaço do trabalho. Nós que somos estudantes e estamos chegando neste universo devemos ter claro que a escolha nunca vai ser feita priorizando alguém que “fala errado”, que não utiliza a forma correta, ou seja, que diz nóis veio aqui pra pedir emprego. Esses serão imediatamente desclassificados, sem questionamentos.
Portanto, muito outros fatores ainda podem ser elencados neste debate. Acredito na preocupação daqueles que elaboraram o livro “Por uma vida melhor”, mas é preciso levar em consideração que estamos num momento histórico bem diverso. E justamente neste momento que tudo tem perdido, cada vez mais, o valor e o rigor e isso pode levar-nos para um caminho cuja volta seja difícil ou até impossível. O relativismo que estamos vivendo, as diversas perspectivas, os múltiplos olhares podem colaborar muito no desenvolvimento da sociedade brasileira, no entanto podem levar-nos à decadência, à massificação e ao esquecimento da importância da dignidade de todos os cidadãos e não somente de uma parcela.
O fato é que se não nos preocuparmos com a nossa própria existência e convivência onde estamos, com aqueles que convivem conosco e são iguais a nós, a nossa dignidade, os nossos idéias e valores, a nossa comunicação vão perder-se e cada um vai guiar-se por si próprio. Isso pode gerar um grande desconforto entre nós, humanos, destinados à vida em comunidade onde todos os direitos são respeitados. Afinal, somos um povo educado e civilizado. Somos gente boa!
Eduardo Moreira Guimarães
5º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio – PR
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