Não posso negar que a filosofia me concedeu ou aprimorou em mim um certo pensamento crítico. Creio que isso acontece com todos aqueles que se aventuram nesse universo filosófico. Nesse sentido, tenho lido muito a respeito da filosofia no Brasil. Será que ela existe? Se existe como se configura? De quais assuntos trata? Assim, tomei contato com a obra “CRÍTICA DA RAZÃO TUPINIQUIM” de Roberto Gomes. Ele, filósofo e professor universitário, escreveu esta obre em 1977 e eis que chega em minhas mãos a 13ª edição tendo em vista a importância e a aderência da mesma no mercado dos ‘leitores de plantão’.
É uma obra de fácil compreensão e que muito encanta aqueles que nela se debruçam com um olhar crítico e perspicaz diante da realidade brasileira, de seus desafios, lutas, esperanças e conquistas.
Assim o problema central colocado pelo autor é o problema da filosofia no Brasil. Existe ou não? E faz um apanhado histórico-filosófico impressionante. Sabe, com maestria, apontar os nossos “jeitinhos”, a nossa falta de seriedade, a nossa razão que por vezes se expressa pelo pensamento de alguém, não por nós mesmos. Apresenta ainda a filosofia como negação, como destruição para que o filósofo torne-se o que ele é. Não é possível, segundo Gomes, fazer filosofia desligada da realidade, sem ter “os pés no chão”.
Assim aponta o legado histórico de dependência deixado a nós pelos colonizadores e por aqueles que fundaram o Brasil sem o desejo de aqui permanecer, mas apenas de angariar lucros, de roubar-nos. Somos devedores a eles por isso. Talvez nunca consigamos pagar esta dívida, até que pensemos por nós mesmos e façamos a nossa história, a nossa realidade, a nossa filosofia.
Outro assunto apresentado na obra é a nossa imparcialidade, o ecletismo e o positivismo que fizeram mais mal ao Brasil do que bem. Falta-nos originalidade e autonomia, falta-nos tomar a nossa vida nas mãos. Falta pensar por si próprio, mesmo que pensar por si mesmo doa! Esta é nossa única alternativa, aponta Roberto. Será que existe filosofia entre-nós ou será que só pensamos o pensamento de alguém?
A Razão Ornamental e a Razão Afirmativa apresentam estes empecilhos para se pensar uma filosofia brasileira, uma cultura brasileira da dúvida, da investigação e do questionamento. É preciso ‘arregaçar as mangas’, ir ao trabalho de pesquisador. Senão, até quando vamos depender do que os outros produzem para consumirmos?
E finalmente o autor encerra o seu livro com um acréscimo “Liberdade e Devir” avaliando a utilidade de sua própria obra após alguns anos da publicação. Ela é ainda válida? Pode contribuir com a formação do pensamento filosófico brasileiro? Eu responderia que sim Roberto Gomes e ainda digo mais: todos os brasileiros deveriam ter nas mãos tua obra para que ela despertasse em nós a autonomia, a luta pelos nossos deveres, pela nossa história e pelo nosso pensamento livre de barreiras.
No curso de filosofia parece imprescindível a leitura de tal livro e mais ainda uma discussão sobre o tema que o mesmo aborda: a Razão Tupiniquim...
Eduardo Moreira Guimarães
5º Período de Filosofia
Diocese de Cornélio Procópio – PR
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