Encerrando o mês da Bíblia resolvi postar um trabalho que fiz sobre "Como e a quem Deus se revela" em alguns textos das Sragradas Escrituras. Seguem também as citações dos referidos textos.
1) Gn 12-37. Como e a quem Deus se revela?
Ao longo da história da salvação,
Deus utiliza de seus meios para fazer com que o homem, sua criatura mais
sublime, mantenha uma relação íntima com seu Criador. Assim, continuamente
chama o homem para um encontro. Encontro de alguém com alguém onde há quem fala
e quem responde. Nesse sentido, ao longo do livro do Gênesis, particularmente
nos capítulos citados, Deus se revela ao homem de diversas formas e este o
responde.
Em Gn 12, 1 Deus se revela a
Abrão, fala com ele: “Sai da tua terra,
da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei”.
Percebe-se aqui que Deus tem uma plano para o povo que escolheu para si. Um de
seus desígnios é justamente desenvolvido em Gn 12, 7 quando aparece a Abrão e
lhe promete a terra:“É à tua posteridade
que eu darei esta terra”. Iahweh fala ainda em Gn 13, 14-15 a Abrão, depois que Ló se
separou dele, para confirmar a terra que iria lhe dar. No entanto, na resposta
de Abrão há medo, e o Senhor novamente se revela (Gn 15, 1) numa visão: “Não temas, Abrão! Eu sou o teu escudo, tua
recompensa será muito grande”.
Ao prometer a terra a Abrão, Deus
promete também a descendência e fala-lhe (Gn 15, 4): “Não será esse o teu herdeiro, mas alguém saído de teu sangue”. Esse
Deus que promete terra e descendência diz quem é:“Eu sou Iahweh que te fez sair de Ur dos caldeus, para te dar esta
terra como propriedade” (Gn 15, 7). Entretanto,
a posse da terra não será fácil, o povo de Abrão não será bem aceito, diz o
Senhor:“Sabe, com certeza, que teus
descendentes serão estrangeiros numa terra que não será a deles” (Gn 15,
13).
Iahweh fala também a Agar, serva
de Sara, (Gn 16, 7- 12) através do anjo. Aparece a Abrão(Gn 17, 1-4) e lhe revela seu nome estabelecendo a aliança: “Eu sou El Shadai, anda na minha presença e
sê perfeito. Eu instituo minha aliança entre mim e ti[...]. E não mais te
chamarás Abrão, mas teu nome será Abraão, pois eu te faço pai de uma multidão
de nações[...] e serei o vosso Deus”. Muda
o nome de Abrão para Abraão, torna-se Deus do povo que escolheu e pede que esse
povo observe a aliança estabelecida que tem como sinal a circuncisão (Gn 17, 9).
A mudança do nome diz muito sobre a missão que se tem a desempenhar. Assim, até
o nome de Sara é mudado por Iahweh (Gn 17, 15): “A tua mulher Sarai, não mais a chamarás Sarai, mas seu nome é Sara”.
No processo de aliança com seu
povo, Deus aparece a Abraão no Carvalho de Mambré (Gn 18, 1). Nesse mesmo lugar Deus se revela a Abraão e
Sara num hóspede prometendo a eles um filho: “Voltarei a ti no próximo ano; então tua mulher Sara terá um filho”
(Gn 18, 1). Nota-se também que algumas vezes Deus diz consigo mesmo, como é o
caso de Gn 18, 17. Ele interessa-se por todos, inclusive por Sodoma e Gomorra
(Gn 18, 20) mesmo em seu pecado grave. E Deus, pela intercessão de Abraão, não
destrói essas cidades ainda que nelas existam apenas dez justos (Gn 18, 26-32).
Em Gn 19, 1.12-13 Iahweh se
revela a Ló por dois Anjos. Esses vieram destruir Sodoma e Gomorra. Já em Gn
20, 3. 6 Deus visita Abimelec em sonho: “Vais
morrer por causa da mulher que tomaste, pois ela é uma mulher casada”. Em
Gn 21, 1 visita Sara e faz com que ela conceba um filho: Isaac. Em Gn 21, 12 Iahweh fala a Abraão
recomendando-o: “[...] tudo o que Sara te
pedir, concede-o [...]”. Em Gn 21, 17. 19-20 Deus ouve os gritos do filho
de Agar, Ismael, e esteve com ele. Em Gn 22, 1 – 2 põe Abraão à prova e em Gn 22,
11-12. 15 fala-lhe pelo anjo.
Quando nasce Isaac, Iahweh
reafirma a aliança estabelecida com Abraão, afinal ela é eterna. Assim, em Gn
25, 11 Deus revela-se a Isaac como benção após a morte de seu pai. Em Gn 26,
2-5 revela-se a Isaac dizendo: “[...]
fica na terra que eu te disser. Habita nesta terra”. Em Gn 26, 12 abençoa
Isaac. Em Gn 26, 24 Deus apareceu a Isaac de noite revelando-se e prometendo-lhe
o mesmo que a seu pai: “Eu sou o Deus de
teu pai Abraão. Nada temas, pois estou contigo”.
Com a descendência de Isaac Deus
também falou. Em Gn 28, 13 Jacó teve um sonho e Iahweh estava de pé diante dele
e lhe disse: “Eu sou Iahweh, o Deus de
Abraão, teu pai, e o Deus de Isaac”. Em Gn 29, 31 Iahweh viu que Lia não
era amada por Jacó e ele a tornou fecunda. Já em Gn 30, 22-24 se lembrou de
Raquel, que era estéril, ele a ouviu e a tornou fecunda. Jacó foi motivo de
benção para Labão (Gn 30, 30). Entretanto, em Gn 31, 3 Iahweh diz a Jacó quando
este estava sendo maltratado por Labão: “Volta
à terra de seus pais, em tua pátria, e eu estarei contigo”. Em Gn 31,
11.13b o Anjo de Deus fala a Jacó em sonho para retornar à sua pátria. Em Gn
31, 24 – Deus visita Labão numa visão noturna e lhe diz: “Guarda-te de dizer a Jacó o que quer que seja”. E Deus não
abandona quem está com ele, mas vê as canseiras e o trabalho dos braços de Jacó
e faz-lhe justiça durante a noite (Gn 31, 42b).
Já no texto de Gn 32, 25-33
alguém luta com Jacó a noite toda até surgir a aurora. Jacó deu ao lugar dessa
luta o nome de Fanuel, porque ali “eu vi
Deus face a face e a minha vida foi salva”. Deus fala a Jacó para subir a
Betel, fixar-se lá e erguer um altar ao Deus que havia aparecido-lhe quando
fugias da presença de Esaú (Gn 35, 1). Abençoa a Jacó vindo de Padã-Aram e
dá-lhe um nome: (Gn 35, 9-10) “[...] teu
nome será Israel”. E também a Jacó Deus revela seu nome (Gn 35, 11):“Eu sou El Shaddai”.
Após esse itinerário bíblico,
percebe-se que a revelação de Deus apresenta-se como a experiência da ação de
ALGUÉM que muda o curso da história e da vida do ser humano. Ação essa muito
presente na vida do povo que Deus escolhe para si, sobretudo na daqueles que
ele mesmo chama para conduzir seu povo.
2) Ex 7-13 – Diálogos e conflitos entre
Moisés e o Faraó
Na história do povo de Deus não
poucas vezes esse povo sofre, é oprimido e escravizado. Analisar-se-á o texto
de Ex 7-13 onde se encontram relatados os diálogos e conflitos entre Moisés e o
Faraó. Em Ex 7, 10-13 acontece a primeira tentativa de diálogo. Moisés e Aarão
vão ao Faraó, fazem como o Senhor lhes havia ordenado, mas o Faraó não os
ouviu, porque seu coração se endureceu, como Iahweh havia predito. No texto de
Ex 7, 20-25 há mais uma tentativa. Moisés e Aarão fizeram como o Senhor lhes
havia dito, mas o coração do Faraó se endureceu e não os ouviu, como Iahweh
havia dito. Virou-se o Faraó e foi para casa.
Em Ex 8, 1-11 Aarão fez como
Iahweh tinha dito a Moisés, estendeu a mão sobre as águas do Egito e subiram
rãs que cobriram a terra do Egito. Os magos do Egito, com suas ciências
ocultas, fizeram o mesmo. Mas o Faraó chamou Moisés e Aarão e pediu que
rogassem a Iahweh para afastar as rãs de si e de seu povo. Moisés concordou e
gritou a Iahweh por causa das rãs. Iahweh fez conforme as palavras de Moisés e
morreram as rãs. Mas o Faraó viu que havia alívio, e o seu coração ficou
obstinado. E não os ouviu, como Iahweh havia dito.
No trecho de Ex 8, 12-15 Iahweh
pede a Moisés para Aarão estender a vara, ferir o pó da terra e haveria
mosquitos sobre toda a terra do Egito, sobre homens e animais. Assim Aarão o
fez. No entanto, dessa vez, os magos do Egito, com suas ciências ocultas, não
conseguiram produzir mosquitos. E disseram ao Faraó que aquilo era dedo de
Deus. Mas, o coração do Faraó endureceu-se e não os ouviu, como Iahweh havia
dito. Já em Ex 8, 16-28 Iahweh pede que
Moisés levante-se de madrugada e peça ao Faraó que deixe seu povo partir, para
que O sirva. Se não o permitisse, haveria moscas contra os servos do Faraó, seu
povo e contra suas casas. Assim fez Iahweh. O Faraó chamou então Moisés e Aarão
e falou que fossem oferecer sacrifícios a Deus naquela terra. Eles ofereceram o
sacrifício, Iahweh fez o que Moisés havia pedido, mas, ainda desta vez, Faraó
obstinou o seu coração e não deixou o povo partir.
Em Ex 9, 1-7 Iahweh pede que
Moisés vá ao Faraó e peça, mais uma vez, a libertação do povo. Caso contrário,
já no dia seguinte, Iahweh feriria os rebanhos dos egípcios e pouparia o dos
israelitas. Iahweh fez como dissera, morreram todos os animais dos egípcios,
mas o coração do Faraó, porém, obstinou-se, e não deixou o povo partir. No
relato de Ex 9, 8-12 Iahweh diz a Moisés que apanhe cinza do forno, vá ter com
o Faraó, jogue a cinza no ar e todos terão tumores que se arrebentariam em
úlceras. Assim se fez, no entanto, Iahweh endureceu o coração do Faraó e este
não os ouviu, como Iahweh havia dito a Moisés.
Em Ex 9, 13-35 Iahweh disse a
Moisés que falasse ao faraó para que o povo saísse e O servisse. Do contrário, mandaria
uma chuva de pedra como nunca se houve. E assim o fez. O Faraó disse a Moisés
que havia pecado e pediu que rogasse a Iahweh. Moisés assim o fez e a chuva
cessou. Entretanto, o Faraó continuou a pecar, e endureceu o seu coração, ele e
os seus servos. O coração do Faraó se endureceu e ele na deixou o povo partir
como Iahweh havia dito a Moisés.
Em Ex 10, 1- 20 Iahweh diz a
Moisés que vá ao Faraó, pois havia obstinado-lhe o coração e o de seus servos,
e peça para que o povo possa sair. Do contrário, viriam gafanhotos sobre o
Egito. Moisés o fez e saiu da presença do Faraó. Os servos do Faraó perguntaram
até quando Moisés seria uma cilada para eles se o Egito já estava arruinado.
Moisés e Aarão foram reconduzidos à presença do Faraó e Moisés disse que iria
partir os jovens, velhos, filhos e filhas, rebanhos e gados. Mas o Faraó
permitiu que somente os homens partissem. Moisés estendeu a mão e eis que
vieram os gafanhotos. O Faraó chamou Moisés e Aarão e reconheceu que ele e seus
servos haviam pecado, mas que Moisés rogasse ao Senhor. Moisés assim o fez e os
gafanhotos foram arrebatados e jogados ao mar dos Juncos. Mas Iahweh endureceu
o coração do Faraó e este não deixou os israelitas partirem.
Na passagem de Ex 10, 21-29
Iahweh fala a Moisés que estenda a mão para o céu e haveria trevas em todo o
Egito. Assim aconteceu. O Faraó chamou Moisés e Aarão e deixou-os ir servir a
Iahweh com os jovens, velhos, filhos e filhas. Mas Moisés quis também os gados
e rebanhos para oferecer sacrifícios e holocaustos a Iahweh. No entanto, Iahweh
endureceu o coração do Faraó e este não os deixou partir. O Faraó pediu a
Moisés que se apartasse dele e nunca mais votasse a ver sua face, senão
morreria. Moisés assim o fez. Em Ex 11, 1-10 está a praga dos primogênitos. Moisés
disse que à meia-noite Iahweh passaria pelo meio do Egito e todo primogênito
morreria, exceto os israelitas. Moisés e Aarão fizeram todos esses prodígios, mas
Iahweh endureceu o coração do Faraó e ele não deixou os israelitas partirem de
sua terra. Em Ex 12, 29-34 há o relato de que durante a noite Iahweh feriu
todos os primogênitos do Egito e o Faraó chamando Moisés e Aarão mandou-os
sair. Falou ainda que levassem os rebanhos e gados, que fossem servir a Iahweh
como tinham dito e que o abençoasse também. Assim se fez.
Assim, fica evidente que no
acontecimento das pragas há algumas implicações teológicas importantes. A
primeira delas é que o Deus dos escravos é maior que o deus do dominador. Deus
é um Deus que vence, que caminha junto com seu povo e que está a seu lado. Também
que a opção fundamental do Faraó é o mal, porque em todas as ocasiões o seu
coração é endurecido. Finalmente, o texto mostra que o reinado da escravidão é
passageiro, mas o de Deus é eterno.
3) Nm 11-21 – Conflito do povo contra Moisés
e contra Deus
No texto de Nm 11-21 estão contados os
conflitos do povo contra Moisés e contra Deus. É verdade que Deus libertou o
povo do Egito, mas é verdade também que esse povo não foi sempre fiel à aliança
que selou com seu Deus e que, inúmeras vezes, manifestou o desejo de ter
permanecido no Egito. No entanto, Deus sempre com amor pelo seu povo, perdoa e
reconduz esse mesmo povo para o projeto salvífico e libertador. Em Nm 11, 1-2
começam os conflitos. O povo elevou uma queixa aos ouvidos de Iahweh e ele o
ouviu. Mas a ira de Iahweh se inflamou e seu fogo alastrou-se entre o povo
devorando uma extremidade do acampamento. Aí começam as recordações do Egito.
Em Nm 11, 5. 10 o povo lembra dos peixes, melões, pepinos, verduras, cebolas e
alhos do Egito. A ira de Iahweh se inflama com grande ardor a ponto de mandar
uma praga muito grande (Nm 11, 33).
Nesse contexto, há pessoas
concretas do povo que também se rebelam contra Moisés. Em Nm 12, 1 Maria e
Aarão murmuraram contra ele porque tinha tomado e desposado uma mulher cuchita.
Mas Iahweh não abandona quem escolhe para guiar o povo. Então, por causa de
Moisés, a ira de Iahweh se inflamou contra Maria e Aarão. Maria tornou-se
leprosa, branca como a neve (Nm 12, 9).
Em outros momentos, como é o caso
de Nm 14, 2, todos os filhos de Israel murmuram contra Moisés e Aarão. Diziam
uns aos outros: “Escolhamos um chefe e
voltemos para o Egito” (Nm 14, 4b). E nos relatos de Nm 14, 11-12. 26-27
vê-se a ira de Iahweh porque o povo o despreza. E essa ira torna-se tão séria
que em Nm 14, 23 Iahweh mesmo fala que não verão a terra que prometera a seus
pais. Ainda mais, por quarenta anos
levarão o peso das faltas e saberão o que é o fato abandonar o Senhor (Nm 14,
34). E o povo lutava para conquistar a terra, mas sem recorrer ao auxílio de
Deus. Em Nm 14, 43, entretanto, Moisés diz que o povo não ganharia a batalha
porque desviara-se de Iahweh.
Em Nm 16, 1-3 outra vez pessoas do grupo, Core, Data e Abiram,
levantam-se contra Moisés. Moisés fica extremamente irado (Nm 16, 15) e pede a
Iahweh que não atenda à oblação deles. Iahweh ouve Moisés e abre o solo (Nm 16,
31-32) para engolir todos os que se rebelaram contra Moisés, todas as suas
famílias bem como os homens de Coré e todos os seus bens. Da parte de Iahweh
ainda saiu fogo e consumiu os duzentos e cinqüenta homens que ofereciam incenso
(Nm 16, 35).
No relato de Nm 17, 6 toda a
comunidade murmura contra Moisés e Aarão porque fizeram o povo de Iahweh
perecer. Iahweh, no entanto, pediu que Moisés e Aarão saíssem do meio da
comunidade porque ele a destruiria em um instante (Nm 17, 10). Então enviou
Aarão para fazer a expiação da comunidade Nm (17, 11) para que livrasse o povo
da Praga. Mesmo assim foram catorze mil e setecentas as vítimas da Praga (Nm 17,
14).
Segundo Nm 20, 2-5 não havia água
para a comunidade, então se amotinaram contra Moisés e Aarão. Interrogavam o porquê
de terem conduzido-os do Egito para o deserto onde é impróprio para as
semeaduras e sem água para beber. No entanto, Iahweh não abandona aqueles que o
servem e fez com que Moisés jorrasse água do rochedo para dar de beber à
comunidade e a seus animais (Nm 20, 8b). Moisés levantou, então, a mão e com a
vara feriu o rochedo por duas vezes, onde a água jorrou abundantemente (Nm 20,
11).
Em Nm 21, 4b-5, o povo no caminho
do mar de Suf falou contra Deus e contra Moisés. Murmurava por que o haviam
tirado do Egito para morrer no deserto, dado que ali não tinha nem pão nem
água. Então Iahweh enviou contra o povo serpentes abrasadoras, mas o povo
recorreu a Moisés e este intercedeu ao Senhor (Nm 21, 6-7). Iahweh ouviu Moisés
e mandou fazer uma serpente abrasadora e colocá-la sobre uma haste para que
todos que fossem mordidos e a contemplassem viveriam.
Nesse sentido, percebe-se que o
projeto de Deus para seu povo é um projeto de amor e vida. O povo murmura
contra Moisés e contra Deus, mas Deus, mesmo com ira, atende aos pedidos desse
povo e o salva do sofrimento. Sendo assim, o projeto de Deus e seu ensinamento são
a misericórdia e a fidelidade.
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