1 DEFINIÇÃO GERAL DE TEOLOGIA
Eduardo Moreira Guimarães
Fernando Félix Rabelo
1.1 Definição de Jean-Yves Lacoste
Do grego theología, “discurso sobre as coisas divinas”, é um termo pré-cristão. Ele aparece a primeira vez em Platão (Rep. 379 a ) numa passagem em que este se interroga sobre a utilização pedagógica da mitologia. Aristóteles retoma o uso modificando-o também: os “teólogos” são Hesíodo ou Homero distinguido dos filósofos.
Segundo Tomás de Aquino, explicar o motivo da fé cristã, falar com toda a coerência de Deus de quem as Escrituras dão testemunho, ou falar de todas as coisas referindo-as a Deus, são formulas que só pretendem introduzir e não são as únicas possíveis, e apresentam-se como o programa da teologia. Esse programa, num sentido, já está cumprido nas Escrituras: a teologia funda-se nelas como num corpus de textos eles mesmos teológicos, textos que ela tem a mais alta ambição de torná-los totalmente legíveis. Esse programa, por outro lado, é o da Igreja cristã: os discursos teológicos exercem uma responsabilidade para com uma comunidade crente cuja fé eles querem interpretar e transmitir. Esse programa, enfim, se cumpre numa multiplicidade sempre historicamente determinada de práticas discursivas e textuais: assim é somente na exposição dessa multiplicidade e de sua história que a teologia manifesta exatamente seus traços essenciais.
Durante muito tempo, como já foi mencionado anteriormente, o termo foi utilizado para designar outras realidades e somente com Eusébio de Cesaréia o termo perdeu toda a associação com a religiosidade pagã e se tornou uma palavra cristã. Os teólogos, doravante, não são mais o mitólogos pagãos, mas os profetas do AT, ou Paulo, ou particularmente o evangelista João. A teologia se define como confissão da fé cristã.
O uso se precisa ao longo dos debates trinitários e cristológicos, de tal sorte que theologia e theologein se tornam qualificativos de ortodoxia. Uma precisão minológica suplementar intervém desde o tempo de Cesaréia e se impõe: a teologia designará doravante o conhecimento do mistério trinitário,, distinto da “economia”, doutrina da salvação.
1.2 Definição de René Latourelle
O fundamento e o centro da teologia é a manifestação de Deus ao seu povo que atinge o ponto ápice na revelação em Jesus Cristo. O objetivo principal da teologia é, portanto, a compreensão crítica do conteúdo da fé para que a vida de fé adquira significado. A teologia possui vários eixos de interpretação; justamente por esse fato a compreensão do referido termo não foi sempre a mesma no decorrer da história. Nesse sentido, historicamente a teologia experimentou diversas tentativas de definição acompanhadas pela própria história do pensamento cristão.
O termo “theología” / “theologéin” é de origem não cristã, mas ligado ao mito. Só progressivamente a palavra teologia foi empregada no sentido cristão, tanto no Ocidente como no Oriente. Partindo desses pressupostos, o que se nota é que a compreensão de teologia se relaciona e se adapta às diferentes épocas históricas. Isso é sinal da historicidade da reflexão da fé que permite, ao mesmo tempo, manter sempre viva a pergunta sobre a inteligibilidade do mistério e encontrar uma resposta que esteja de acordo com as várias conquistas humanas.
Com o Concílio Vaticano II houve uma mudança de horizonte que colocou a teologia frente ao diálogo sereno com as diversas culturas e ciências, na perspectiva de tornar evidente a conexão e a complementaridade de cada uma em vista da globalidade para uma existência humana sempre mais digna. O que se constata é que a teologia conquistou uma compreensão hermenêutica mais global caracterizando-se como uma pluralidade de teologias. Essa variedade de conceitos adquiridos ao longo da história faz transparecer as diversas metodologias utilizadas no estudo e compreensão das verdades da fé.
De igual modo, os problemas atuais fazem com que a reflexão teológica realize um processo de auto-compreensão, porque a teologia insere-se no cotidiano da vida. Sendo assim, a determinação de seu estatuto epistemológico (saber científico), a eclesialidade da teologia (responsabilidade pública da compreensão da fé) e a relação magistério-teologia (identificação das mediações próprias de uma teologia como compreensão eclesial de uma fé comunitária e a liberdade do sujeito epistêmico) são os eixos que, atualmente, dinamizam o estudo teológico. A finalidade desses eixos é garantir que a teologia tenha espaço nos vários ambientes sociais, dentre eles a Igreja, a universidade e as relações humanas.
2 TEOLOGIA DEDUTIVA
A teologia dedutiva é aquela que parte do dogma, isto é, da própria fórmula da Revelação com o intuito de adquirir-lhe maior compreensão através da analogia com as realidades humanas ao apontar os aspectos de semelhança e dessemelhança. A estrutura dessa teologia consiste em sistematizar, definir, expor e explicar as verdades reveladas. Nesse sentido, parte das próprias verdades da fé procurando ver como se explicam e se relacionam mutuamente.
É teologia dedutiva porque trabalha com silogismo[1], portanto, a finalidade não é provar o principio da fé (que já está dado), mas o que dele decorre para mostrar algo diferente. É declarar o que está na Revelação na expectativa de trazer maior inteligência para a fé formulando suas afirmações em forma de tese.
Essa teologia procura não só apresentar o que faz parte do universo da fé, mas excluir as posições doutrinais em oposição a fé. Seus argumentos concentraram-se mais em defender e salvaguardar o “depositum fidei” do que em dar impulso à pesquisa. Por isso, a teologia dedutiva começa a evidenciar seus limites no momento em que a modernidade foi impondo suas perguntas, a ciência se constituiu como grande indagadora do mundo, da subjetividade, da história e da razão crítica. Assim, essa teologia dominou o cenário até o despontar do Concilio Vaticano II quando acontece uma ruptura e surge um outro tipo de teologia.
3 TEOLOGIA INDUTIVA
A teologia indutiva pauta sua reflexão a partir de questionamentos que brotam da realidade humana. Os problemas surgem não da própria fé (teologia dedutiva), mas da experiência (indutiva). Vai da experiência ao dogma, por isso, o primeiro momento desta teologia é ver os problemas que tocam a vida de fé dos fiéis e, em um segundo momento, refletir sobre tais questões à luz da Revelação.
Esta prática indutiva é mais diversificada porque pergunta pelo sentido da experiência existencial e da práxis dos seres humanos. Ambos os questionamentos partem da busca de um sentido à luz da Revelação. Desse modo, a teologia indutiva se ramifica em uma pluralidade enorme de teologias.
4 REFERÊNCIAS
LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. Trad. Paulo Meneses. São Paulo: Paulinas: Edições Loyola, 2004.
LATOURELLE, René; FISICHELLA, Rino. Dicionário de teologia fundamental. Trad. Luiz João Baraúna. Petrópolis: Vozes, Aparecida: Santuário, 1994.
LIBÂNIO, J.B. MURAD, Afonso. Introdução à teologia: perfil, enfoques e tarefas. 3 ed. São Paulo: Loyola, 2011.
6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
[1] Essa palavra, que na origem significava cálculo e era empregada por Platão para o raciocínio em geral, foi adotada por Aristóteles para indicar o tipo perfeito do raciocínio dedutivo, definido como “um discurso em que, postas algumas coisas, outras se seguem necessariamente”.
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