Um dia desses estava na internet procurando algum bom comentário sobre o assunto da Campanha da Fraternidade deste ano de 2011. Então encontrei, numa edição de 2007 da Revista Mundo jovem, este artigo de Roberto Malvezzi que julguei muito interessante e agora compartilho com vocês. Boa leitura!!!
Cuidar da Terra, um compromisso de fé
A catástrofe anunciada para nosso planeta já está em andamento, atingindo em cheio a própria humanidade e exigindo de nós outra postura em relação a tudo o que nos cerca e do qual fazemos parte. Teremos que aprender rapidamente a dar um destaque de fé para nossa relação com a natureza. Agora é exigido de quem tem fé um compromisso pessoal e social com a “guarda da Terra”.
A cada dia recebemos notícias sobre a situação e as perspectivas do planeta Terra que nos deixam apavorados, por mais otimistas que sejamos em tudo nessa vida. O que mais nos assusta é o aquecimento global. Com ele está vindo o derretimento das geleiras, a elevação do nível dos mares, o desaparecimento das áreas baixas, o aquecimento geral da temperatura, a evaporação mais intensa das águas, com prognósticos de áreas inabitáveis na Terra.
Eu, que moro no coração do semi-árido brasileiro, ouço dizer que até o final do século a temperatura aqui deverá subir em média quatro ou cinco graus. Será o fim. Não há ser humano que consiga suportar tamanho calor e os mananciais de água evaporarão com muito mais velocidade do que hoje. Basta lembrar que o índice de evaporação aqui já é de 3mm para cada 1mm de precipitação. Portanto, em termos de relação precipitação-evaporação, o déficit hídrico já é de três por um.
Respeito pela natureza
Podemos lembrar ainda que os biomas brasileiros já estão fartamente devastados. A Mata Atlântica detém apenas 7% de sua cobertura inicial, a Caatinga apenas 30%, o Cerrado também 30%, a Amazônia ainda detém 70%, o Pantanal e o Pampa, embora também agredidos, ainda mantêm aspectos bastante originais. Entretanto essa destruição visível, que nasceu com a derrubada do primeiro pau-brasil da Mata Atlântica, parece não ter fim enquanto não se der o fim em tudo.
Aqui se coloca uma relação direta entre quem tem algum tipo de fé num Deus Criador e a lógica cruel do modelo civilizatório brasileiro e mundial. O que a destruição da natureza tem a ver com nossa fé? Aparentemente é fácil responder, na prática nem tanto. As religiões de origem africana e indígena, devido ao animismo que as permeia, têm um respeito mais óbvio pela natureza. Índios e negros cultuam seus deuses, orixás e outras entidades religiosas através da natureza. Os orixás moram em fontes, em rios, em árvores etc. Esses lugares se tornam sagrados e merecedores de todo o respeito. Por conseqüência, zelam melhor pela natureza, até porque ela lhes é religiosamente mais necessária.
Quanto aos cristãos - tribo à qual pertenço - essa relação não é tão óbvia assim, não por questões bíblicas, mas porque o cristianismo se tornou formador da civilização ocidental e depois refém de sua lógica racionalista e produtivista, na qual a natureza é vista não como bem a ser cuidado, mas como meio a ser instrumentalizado. Foi o modo racionalista que dessacralizou a natureza e, dessa forma, estabeleceu a ruptura entre o ser humano e o ambiente onde ele vive. Se essa dessacralização foi fundamental para a evolução da ciência, foi mortal para a destruição da natureza. A vida está de tal modo artificializada que qualquer pessoa criada numa grande cidade pouco sabe de onde vem a água que bebe, as essências de remédios e cosméticos, a madeira que está em seus móveis e só pergunta pelo ar que respira quando ele fede ou lhe traz alguma doença.
Sinais da natureza
O Deus que nos criou, tudo criou. Somos natureza. Somos ar, água, pó. Não existimos sem ela. Para estarmos aqui, agora, foi preciso que nosso planeta se preparasse ao longo de bilhões de anos, como um útero de mãe, para receber seus filhos. Precisamos da combinação de centenas, milhares, milhões de circunstâncias para estarmos aqui e agora. Por isso, como dizia Jesus de Nazaré, o mestre dos cristãos, “é preciso observar os sinais dos tempos”. Em outras palavras, é preciso aprender a ler o que Deus nos fala através dos acontecimentos. É hora de mudarmos nossos valores. A natureza não suporta o luxo e o desperdício. É hora também de nos irmanarmos a todos aqueles que se dedicam a salvar nossa casa comum. Agora é hora de ler e tentar entender o que Deus nos fala, literalmente, pelos sinais da natureza.
Questões para debate:
1 - Que relação a fé e a religião têm com o meio ambiente?
2 - Como você relaciona religiosidade e natureza?
3 - Que cuidados devemos cultivar, em nosso dia-a-dia, para salvar a natureza?
Roberto Malvezzi (Gogó),formado em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Escritor, compositor e agente da Comissão Pastoral da Terra, Juazeiro, BA.
Endereço eletrônico: robertomalvezzi@superig.com.br
Artigo publicado na edição nº 375, abril de 2007, página 9, jornal Mundo Jovem.
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