Após dois Sínodos sobre a
família, o Papa Francisco escreveu a exortação apostólica pós – sinodal Amoris laetitia sobre o amor na família.
Após a leitura desse documento, constatamos, como sugere o Santo Padre, que é
um texto que se deve voltar sempre e que tem muito a falar e fazer refletir. Embora
seja direcionado em primeiro lugar à família, cremos que o escrito nos ajuda a
viver em comunidade e a partilhar tudo que somos, porque nos oferece uma base
sólida sobre o amor. Por isso, apresentamos alguns trechos do texto que podem
auxiliar nossa convivência com os irmãos e irmãs.
O objetivo da encíclica é
ajudar as pessoas a “manter um amor forte e cheio de valores como a
generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência [...] e encorajar todos
a serem sinais de misericórdia e proximidade na vida familiar”. Para isso, o
Papa lembra que “o nosso Deus, no seu mistério mais íntimo, não é solidão, mas
uma família, dado que tem em Si mesmo paternidade, filiação e a essência da
família que é o amor. Esse amor, na família divina, é o Espírito Santo”.
O Cristo, estando entre
nós, deixou como distintivo dos seus discípulos, a lei do amor e do dom de si
mesmo aos outros (cf. Mt 22,39;Jo 13,34). No entanto, muitos são os desafios
para a vivência desse amor. “O ritmo da vida atual, o estresse, a organização
social e laboral, que são fatores culturais, colocam em risco a possibilidade
de opções permanentes”. Além disso, a cultura do provisório que permite o uso,
a manipulação e o abandono do outro. Mas,
nós “somos criaturas, não somos onipotentes”;devemos ter em nós o “olhar de
Cristo, cuja luz ilumina cada homem (cf. Jo 1,9)”.
A palavra “amor”, uma das
mais usadas, muitas vezes parece desfigurada. Precisamos olhar para Deus, para
sua paciência que é compaixão e misericórdia. “O amor possui sempre um sentido
de profunda compaixão, que leva a aceitar o outro como parte deste mundo, mesmo
quando age de modo diferente do que eu desejaria”.
O verbo amar, em hebraico,
significa “fazer o bem”. Santo Inácio de Loyola diz que ‘o amor deve ser
colocado mais nas obras do que nas palavras’. “Assim poderá mostrar a sua
fecundidade, permitindo-nos experimentar a felicidade de dar, a nobreza e
grandeza de doar-se superabundantemente, sem calcular nem reclamar pagamento,
mas apenas pelo prazer de dar e servir”.
“O verdadeiro amor
aprecia os sucessos alheios, não os sente como uma ameaça, libertando-se do
sabor amargo da inveja. Aceita que cada um tenha dons distintos e caminhos
diferentes na vida; e, consequentemente, procura descobrir o seu próprio
caminho para ser feliz, deixando que os outros encontrem os deles”.
“O amor leva-nos a uma
apreciação sincera de cada ser humano, reconhecendo o seu direito à felicidade.
Amo aquela pessoa, vejo-a com o olhar de Deus Pai, que nos dá tudo “para nosso
bom uso” (1Tm 6,17). [...] Quem ama não só evita falar muito de si mesmo, mas,
porque está centrado nos outros, sabe manter-se no seu lugar sem pretender
estar no centro”.
Enxergar o outro,
importar-se com ele é um exercício, muitas vezes doloroso. Nesse sentido, é
necessário entender que “para poder compreender, desculpar ou servir os outros
de coração, é indispensável curar o orgulho e cultivar a humildade. “Entre vós
não deverá ser assim” (Mt 20,26).
“Amar é tornar-se amável.
Significa que o amor não age rudemente, não atua de forma inconveniente, não se
mostra duro no trato. Os seus modos, as suas palavras, os seus gestos são
agradáveis; não são ásperos, nem rígidos. Detesta fazer os outros sofrerem.
[...] Ser amável não é um estilo que o cristão possa escolher ou rejeitar: faz
parte das exigências irrenunciáveis do amor, por isso ‘todo ser humano está
obrigado a ser afável com aqueles que o rodeiam’. [...] Um olhar amável faz com
que nos detenhamos menos nos limites do outro, podendo assim tolerá-lo e
unirmo-nos em um projeto comum, apesar de sermos diferentes”.
“A pessoa que ama é capaz
de dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam,
estimulam”. Ela consegue educar-se para atitudes amorosas. Assim, “uma coisa é
sentir a força da agressividade que irrompe, e outra é consentir nela, deixar
que se torne uma atitude permanente”. O Papa pede que nunca permitamos que “ o dia
em família termine sem fazer as pazes”. Mas por que não o dia da comunidade? Dos
amigos? Daqueles que trabalham juntos?
Para ter a capacidade de
fazer as pazes, de perdoar, “faz falta rezar com a própria história, aceitar a
si mesmo, saber conviver com as próprias limitações e inclusive perdoar-se,
para poder ter essa mesma atitude com os outros. [...] Se aceitarmos que o amor
de Deus é incondicional, que o carinho do Pai não se deve comprar nem pagar,
então poderemos amar sem limites, perdoar os outros, ainda que tenham sido
injustos para conosco. [...] É necessário aprender com Nosso Senhor que aprecia
de modo especial quem se alegra com a felicidade do outro, afinal, todos temos
uma complexa combinação de luzes e sombras”.
Precisamos ser fortes. “A
pessoa forte é aquela que pode quebrar a cadeia do ódio, a cadeia do mal. [...]
O amor confia, deixa em liberdade, renuncia a controlar tudo, a possuir, a
dominar. [...] Uma pessoa, quando sabe que os outros confiam nela e apreciam a
bondade basilar do seu ser, mostra-se como é, sem dissimulações.
Para acolher o outro,
assimilemos a arte da contemplação de nós mesmos. “Muitas feridas e crises têm
a sua origem no momento em que deixamos de nos contemplar. [...] O amor abre os
olhos e permite ver melhor, além de tudo, quanto vale um ser humano. [...] Em vez
de começar a dar opiniões ou conselhos, é preciso assegurar-se de ter escutado
tudo o que outro tem necessidade de dizer, desenvolver o hábito de dar real importância
ao outro”.
“O amor supera as piores
barreiras. É preciso vencer a fragilidade que nos leva a temer o outro como se
fosse um ‘concorrente’. É muito importante fundar a própria segurança em opções
profundas, convicções e valores, e não no desejo de ganhar uma discussão ou no
fato de nos darem razão”. [...] Abrir mão de estar certo sempre, de desenvolver
um diálogo “requer uma riqueza interior que se alimenta com a leitura, a
reflexão pessoal, a oração e a abertura à sociedade”.
Essas atitudes vão
impondo-nos limites, educando nossa sensibilidade, emotividade e instinto. É importante
saber até onde conseguimos chegar, quais são as nossas fragilidades e
orientar-nos para a disciplina, para a obediência e para o amor. Seguindo esses
passos apresentados pelo Papa Francisco seremos capazes de nos emocionar com
Deus, com a vida e com os outros. “Verdadeiro homem, Jesus vivia as coisas com
grande emotividade”. Precisamos ser como nosso Mestre.
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