1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho é uma reflexão para padres
diocesanos sobre a castidade. De modo muito livre foi exposta a temática que
denomina-se “A castidade presbiteral”. O texto começa discorrendo sobre as
dificuldades de viver uma sã sexualidade hoje e também sobre a banalização do
amor.
Ao longo da exposição a castidade foi apresentada
partindo da Palavra de Deus e também de teólogos e documentos da Igreja que
fazem entender a beleza desse dom de Deus que deve ser vivido e valorizado no
ministério presbiteral, sobretudo em nossos tempos.
2. A CASTIDADE PRESBITERAL
O tema as castidade que vamos refletir carece ser
bem situado hoje. Creio que na sociedade em que vivemos há uma evidente “perda
de sentido” da vida afetiva e da sexualidade. Há uma crescente relativização da
sexualidade e, porque não, uma banalização da mesma. É verdade, bem o sabemos,
que atualmente muitos jovens e muitos de nossos fieis vivem uma genitalidade
desenfreada e sem compromisso[1].
Concomitante a isso, está a banalização do amor, da relação saudável entre
homens e mulheres.
Começamos a partir dessa análise simplória para
dizer que, de nossa parte como presbíteros, há uma exigência de olhar com
carinho para tudo isso e comprometer-se no sentido de vencer na carne os vícios
e desejos desordenados que podem nos aparecer, mas de forma mais concreta e
real vencer essa estrutura antropológica que ora se nos apresenta pela cultura
dominante e é por ela proposta[2].
O coração humano e os nossos sentimentos são feitos
para a estabilidade, para o equilíbrio, para a felicidade, para o sadio
desenvolvimento e direcionamento aos sentimentos do próprio Jesus. Por isso,
fomos escolhidos. É Jesus mesmo quem diz que “há alguns homens que se fizeram
eunucos para o Reino dos céus” (Mt 19, 12). Parece ser esse o caso dos
presbíteros. Não se castrar, não refrear seus instintos, mas fazer-se casto por
causa do Reino de Deus. A castidade, conforme apresenta o Catecismo da Igreja,
“significa a integração da sexualidade na pessoa. Inclui a aprendizagem do
domínio pessoal”[3].
Desse modo, a castidade sacerdotal, meus irmãos, não
é uma obrigação que vem de fora, mas é uma necessidade interna de coerência com
a opção que realizamos no dia de nossa ordenação e que renovamos todos os dias.
A castidade sacerdotal está intimamente ligada à nossa opção fundamental: Jesus
Cristo. Ser casto é muito mais que ser celibatário, é muito mais que não realizar
atos sexuais, ser casto é entender e fazer na vida que a opção pelo qual nos
dedicamos todos os dias transpareça como semente de vida para cada um de nós em
primeiro lugar e para o povo de Deus que nos é confiado em nossas comunidades.
“Todo batizado é chamado à castidade”[4].
Todos os que pertencem à Igreja se vestiram de Cristo que é modelo de castidade.
Banhados n’Ele somos chamados a viver a castidade no nosso estilo de vida de
ordenados. Por isso, a vida casta é um modo de consagrar-se diariamente todo a
Deus, com um coração indiviso e puro. A castidade é uma virtude moral, é também
um dom de Deus, uma graça que se consegue com o empenho espiritual[5]. A
castidade deve ser compreendida e vivida como uma opção de felicidade, de
alegria verdadeira e duradoura.
É bem verdade, e nós o sabemos, que não faltarão
momentos em nossa vida, em nossa opção presbiteral de desafios e de ameaças
para a condição casta. No entanto, cabe a nós, em primeiro lugar, ver a
castidade e a luta a favor dela como graça, obra e dom do Espírito de Deus que
atua em nós e que nos faz imitar a pureza de Jesus Cristo.
O Papa João Paulo II quando se dirigia a todos os
vocacionados dizia: “[...] torna-se mais difícil, mas também mais urgente, uma
educação para a sexualidade que dê lugar à estima e ao amor pela castidade,
como ‘virtude que desenvolve a autêntica maturidade da pessoa [...]’”[6].
O santo papa quer dizer que a educação para o amor e
a maturidade afetiva são indispensáveis para quem é chamado ao celibato, a
oferecer a totalidade do seu amor, na graça do Espírito Santo, a Jesus Cristo e
à Igreja. Nesse sentido, a castidade aparece como uma opção livre e consciente
do presbítero como aquele que a vive por amor, em uma alegria indizível porque
é fiel naquilo que lhe foi confiado. É a alegria de doar-se inteiramente pelo
Reino no serviço a Deus e ao próximo e na gratuidade total do seu amor.
É mister para cada um de nós a vigilância e a
prudência para que no correr dos dias, em meio às mais variadas e múltiplas
atividades que realizamos a castidade nos passe como desapercebida. E, mais
ainda, que a nossa vida de ordenados seja relativizada em função da massa, da
grande maioria que não fez ainda essa experiência do amor total de Deus por
cada um. Mais uma vez surge a necessidade de voltar à opção fundamental de
nossa vida e vocação porque quando dos desafios e dos atropelos cabe-nos
lembrar d’Aquele que escolhemos para ser a razão da nossa existência, o
consumir-se em Jesus Cristo estando no mundo, mas vivendo nele de um modo
diferente.
Já o Concílio Vaticano II, no decreto Presbyterorum Ordinis, ao falar-nos do
celibato, apresenta a castidade como “[...] sinal e estímulo da caridade
pastoral e fonte peculiar da fecundidade espiritual no mundo”[7].
Caridade pastoral que é essencial no ministério ordenado, sobretudo no nosso
caso de padres diocesanos. A castidade, nesse sentido, mostra que a missão está
dedicada ao serviço da comunidade como um todo, que nos consome por inteiro e
que nos faz completos e felizes. A castidade nos faz, irmãos presbíteros,
servir com mais disponibilidade ao Senhor que nos chama e ao povo que nos
espera.
Por isso, urge de nossa parte uma tomada de
consciência da importância da castidade na vida sacerdotal como dom de Deus em
nosso serviço à Igreja. Cabe a nós olharmos para o texto bíblico citado no
início dessa exposição e nos colocar como o eunuco que se fez assim pelo Reino
no sentido de viver a nossa castidade como radicalidade evangélica[8],
assumi-la em vista do Reino de Deus, mas em vista também da nossa felicidade,
da nossa realização pessoal.
3. CONCLUSÃO
Ao falar sobre a castidade presbiteral, tivemos a
oportunidade de refletir sobre a própria opção que se faz estando nesse caminho
para o sacerdócio ministerial. A grande contribuição desse trabalho e das aulas
de moral nesse período foram, nesse sentido, a consciência de que a castidade é
um dom de Deus que deve ser cultivado, procurado e vivido na concretude da
vida, de todos os dias e na transparência a si mesmo.
A castidade, fica claro, não é uma opção que nos vêm
de fora, mas é algo intrínseco à opção que fazemos assumindo a vida
presbiteral. Ela reflete o quanto amamos ou não a opção fundamental, Jesus
Cristo, que deve ser sempre o guia da nossa vida. A castidade não faz de nós
homens tristes ou alienados do mundo e da sexualidade. Pelo contrário, a
castidade é sempre um convite a uma alegria duradoura que brota do Coração de
Cristo.
4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola,
2000.
DECRETO PRESBYTERORUM
ORDINIS. COMPÊNDIO VATICANO II: constituições, decretos, declarações.
11.ed. Petrópolis: Vozes, 1977.
FIORES, Stefano; GOFFI, Tullo (org.). Dicionário de espiritualidade. Tradução
de Augusto Guerra. São Paulo: Paulus, 1993.
JOÃO PAULO II, Papa. Exortação apostólica Pastores dabo vobis. 3.ed. São Paulo:
Paulinas, 1992.
PIACENZA, Mauro. A castidade sacerdotal. Disponível em <http://www.osib.org.br/osib-nacional/67-a-castidade-sacerdotal.html
>Acesso em 05 de jun. 2014. 20;40hs.
[1]
Disponível em http://www.osib.org.br/osib-nacional/67-a-castidade-sacerdotal.html Acesso em 05 de jun. 2014.
20;40hs.
[2]
PIACENZA, Mauro. A castidade sacerdotal. Disponível em <http://www.osib.org.br/osib-nacional/67-a-castidade-sacerdotal.html >Acesso em 05 de jun. 2014.
20;40hs.
[8]
FIORES, Stefano; GOFFI,
Tullo (org.). Dicionário de
espiritualidade. Tradução de Augusto Guerra. São Paulo: Paulus, 1993. p.
174.
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