"A caridade na verdade [...] é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira" (n. 1).
A CARITAS IN VERITATE é a terceira Carta Encíclica de Bento XVI onde o mesmo discorre sobre a importância da verdade ser o fundamento e a base da caridade. Nesse sentido, o Santo Padre afirma que a verdade é Deus, portanto, sem a verdade a caridade é vazia. A grande preocupação salientada pelo autor é justamente o desencantamento e a perca da força da palavra CARIDADE tem sofrido nos últimos tempos. Assim, o Papa escreve sobre a importãncia da caridade na verdade.
Para muitos, essa foi e carta social do Pontificado de Bento XVI. De fato, ela apresenta uma visão ampla e bem argumentada sobre as diversas situações sociais que são realidade hoje. Inicia já o Primeiro Capítulo com uma retomada da POPULORUM PROGRESSIO de Paulo VI e retoma vários argumentos, ideias centrais, bem como ilumina a compreensão desse texto de seu predecessor. É partindo dessa encíclica que o Papa reafirma que o progresso, o desenvolvimento - tema que trata ao longo de toda carta - é na sua origem e essência (n. 16) uma vocação, porque deve estar assentado na preocupação com o ser humano e o ser humano é preocupação de Jesus, da sua Igreja. É Jesus que revela o homem ao próprio homem, como bem elucidou o Vaticano II (GS, 22).
Seguindo, Bento XVI escreve sobre o desenvolvimento humano em nosso tempo, assunto do Segundo Capítulo. Aqui o Santo Padre insiste que o desenvolvimento tem por objetivo fazer sair os povos da fome, da miséria, das doenças e do analfabetismo. Aponta as crises financeiras, o envolvimento do Estado na economia e naquilo que lhe diz respeito, sobretudo as responsabilidades que lhes são próprias. Além disso vê o homem como centro e o fim de toda a vida econômica e social (n. 26). Ao mesmo tempo, não deixa de clarear para a Igreja a sua missão: "Dar de comer aos famintos é um imperativo ético para toda a Igreja, que é resposta aos ensinamentos de solidariedade e partilha do seu Fundador, o Senhor Jesus" (n. 27). A partir dessas pontuações, o Papa fala do respeito à vvida (n. 28), do direito à liberdade religiosa (n. 29), da interação entre os vários níveis do conhecimento (n. 49) e da doutrina social da Igreja (n. 31). Fundamenta todo seu discurso no fato de que "Deus é o garante do verdadeiro desenvolvimento do homem já que, tendo-o criado á sua imagem, fundamenta de igual forma a sua dignidade transcendente e alimenta o seu anseio constitutivo de 'ser mais'" (n. 29).
A terceira parte fala sobre a fraternidade, desenvolvimento econômico e sociedade civil. Segundo o Papa, a caridade na verdade coloca o homem perante a admirável experiência do dom (n. 34), ou seja, que ele não é sozinho no mundo, mas um com os outros. Nessa perspectiva, tudo aquilo que está em união com a vida humana, pessoas, relações sociais, comunidade, tudo deve ser visto numa bonita relação de amor, freternidade e solidariedade, sobretudo.
Já na quarta parte, escreve sobre o desenvolvimento dos povos, direitos e deveres e o ambiente. A solidariedade universal, afirma o Pontífice, é não só um fato e um benefício, mas um dever. Os direitos pressupõe deveres, exercício, capacidade de conviver em sociedade no respeito e na ética. Interessante que o Bento XVI afirma que antes de trabalhar para que nasçam entidades, órgãos éticos, é necessário que todos os setores da sociedade, a economia particularmente, também sejam éticos (n. 45).
Assim, na quinta parte, o Papa fala sobre a colaboração humana. O homem sozinho sofre mais. Quando se alia a projetos e promessas, utopias e ideologias puramente humanas não é feliz. Por isso, a teologia e a metafísica, por exemplo, podem oferecer ao ser humano condições de perceber-se voltado para o alto, para a verdade eterna, para Deus (n. 53). Mas é o cristianismo mostra, sobremaneira, que Deus se revela no rosto humano. Por isso, auxilia a sociedade a pensar que em todos os seus níveis e setores ela deve encontrar Deus, fazer tudo em vista da presença de Deus e da sua atuação na vida e na história.
Finalmente, no Sexto Capítulo, o Santo Padre fala sobre o desenvolvimento dos povos e a técnica. O homem não é o único produtor de si mesmo. Pelo contrário, "O desenvolvimento da pessoa degrada-se, se ela pretende ser a única produtora de si mesma" (n. 68). Por isso, é necessário, por vezes, que o homem entre novamente em si mesmo e perceba-se como imagem de Deus, como ser de relação, como pertencente ao mundo e responsável por ele na busca da própria liberdade e autonomia, tendo em vista aquilo que Deus mesmo inscreveu em seu coração. Assim, a técnica não pode ser vazia, não pode ter a última palavra, porque "Todo nosso conhecimento, mesmo o mais simples, é sempre um pequeno prodígio, porque nunca se explica completamente com os instrumentos materiais que utilizamos. Em cada verdade, há sempre mais do que nós mesmos teríamos esperado; no amor que recebemos, há sempre qualquer coisa que nos surpreende. Não deveremos cessar jamais de maravilhar-nos diante desses prodígios. Em cada conhecimentoe em cada ato de amor, a alma do homem experimenta um 'extra' que se assemelha muito a um dom recebido, a uma altura para a qual nos sentimos atraídos. Também o desenvolvimento do homem e dos povos se coloca a uma tal altura, se considerarmos a dimensão espiritual que deve necesssariamente conotar aquele para que possa ser autêntico. Este requer olhos novos e um coração novo, capaz de superar a visão materialista dos acontecimentos humanos e entrever no desenvolvimento um 'mais além' que a técnica não pode dar. Por este caminho, será possível perseguir aquele desenvolvimento humano integral que tem o seu critério orientador na força propulsora da caridade na verdade" (n. 77).
E assim, Bento XVI encerra sua carta encíclica afirmando que "Sem Deus, o homem não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja" (n. 78). Desse modo, todo o universo humano está fundamentado em Deus e Ele é que pode verdadeiramente dar sentido à existência e ao desenvolvimento do homem como um todo.
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