"É preciso buscar uma nova forma de presença da Igreja no mundo, não em espírito de hostilidade e confrontação, mas de interação em forma de diálogo e serviço"
No mundo secularizado no qual se vive, a Igreja deve manifestar, sem medo, sua presença e ação. Nesse sentido, ela coloca-se como divina e cultural com uma ação pastoral em vista do diáologo e serviço com o mundo atual. Sendo assim, os elementos essenciais para a vivência da fé e a eficácia da ação pastoral é a presença atuante e criativa do Espírito Santo e as pessoas que fazem a Igreja acontecer nas mais diversas comunidades sociais existentes.
É bem verdade que a realidade pastoral na Igreja não é muito antiga. Ou melhor, pode-se caracterizar seu nascimento nos preparativos do Concílio Vaticano II ou, mais estruturadamente, pós Concílio. No entanto, a Igreja nunca deixou de realizar sua ação na sociedade na qual se insere. Muito pelo contrário, já nos primeiros tempos, nota-se o modelo neotestamentário que conferiu à Igreja um modo próprio de ser. Ela constitui-se, segundo esse modelo, como Una (professa uma só fé, um só batismo e uma só Deus), Apostólica, da Palavra e dos sinais sacramentais, de carismas e ministérios. Além disso, não é uma instituição fechada, mas abre-se para convertidos e para os que nasceram pela fé estando no mundo, sem ser pertencente a ele. Sua realidade é escatológica, ou seja, experimenta já as alegrias dos céus, mais ainda não as vive em plenitude.
A Igreja situa-se, assim, em períodos históricos que caracterizam seu modo de agir. Inicialmente é Igreja Profética, animada pela ação dos primeiros cristãos e convertidos, dos mártires e dos santos dos primeiros séculos. Depois é Sacramental, especialmente nos séculos IV e V com Constantino e Agostinho. Momento histórico esse, em que a Igreja institucionaliza-se e recebe do Estado vários poderes, inclusive posse de bens. É também uma Sociedade Perfeita, ora, exerce uma defesa da fé durante os ataques da Reforma, Idade Moderna e pensamentos fiosóficos dominantes que iam contra a crença eclesial. Foi esse período que possibilitou, de certa forma, uma tímida abertura da Igreja para o mundo. Começa aqui, com Leão XIII na Rerum Novarum (carta apostólica), uma ação católica democrática, ou mais em diálogo com a sociedade. Tudo isso culminou na Igreja Povo de Deus com o Concílio Vaticano II e sua pastoral de conjunto. Nesse tempo, falava-se esencialmente de diáologo e renovação. A Igreja abria-se ou escancarava-se para o mundo e para os homens.
Como a Igreja, a própria teologia passou por transformações, mostrando-se um saber aberto para a discussão e reelaboração de suas teorias e práticas. Inicialmente era uma teologia patrística, dos pais e primeiros padres da Igreja. Em seguida, caracteriza-se como escolástica, predomínio da razão, da sistematização d afé. Daí surgiu, não diferentemente da história, a teologia Moderna que levou em conta o homem, a antropologia. A partir disso, a teologia articula-se como discurso da fé, de uma racionalidade emancipada diante da fé e de uma ação concretizada na práxis.
É, após esse período, que começa a ganhar forma a Teologia Pastoral, afinal ela está como pragmática no final do século XVIII, lembrando que o pensamento escolástico perdurou anos, inclusive na Idade Média e Moderna, depois a teologia pastoral desenvolve-se no início do século XIX como fonte e mistério de salvação (a Igreja). Em meados do século XX a teologia pastoral tem o statuts de auto-consciência da Igreja com o objetivo de refletir sobre o acontecimento histórico da Igreja em relação ao futuro. Finalmente, aparece no final do século XX como reflexão da práxis libertadora dos cristãos e das pessoas em geral, especialmente na América Latina.
É nesse meio que a Teologia Pastoral adquire estatuto epistmológico, configura-se como ciência autônoma. Isso porque é uma ação refletida, ou a reflexão da ação e da vivência da fé. Para receber a verdade, Deus, é preciso ter fé. Mas que tipo de fé? Por isso, a perspectiva não é simplesmente a fé teologal, mas primeiramente a vivência da fé enquanto Mistério e Revelação de Deus à humanidade inteira. É a vivência da liberdade de Deus e do homem numa ação concreta na história que exige um para além de si mesmo e do mundo presente.
Daí surge a necessidade do estudo da ação eclesial, porque ação de uma comunidade, de homens e mulheres de fé. O "por quê" dessa ação, o "que" e o "como", ou como se vive a fé na dimensão pastoral daIgreja. Assim sendo, o que se constata é a grande recepção da fé por parte do ser humano e o engajamento na vida dessa mesma fé. Ao lado disso, a recepção dessa fé na América Latina, enquanto fé que se identifica com os mais sofridos os pobres, mas que não para nessa identificação, mas toma o LUGAR desses pobres e REFLETE a possibilidade da mudança. Por isso, a Teologia Pastoral deve ser vista e analisada a partir da vivência da fé.
*Texto elaborado a partir do livro: BRIGHENTI, Agenor. Pastoral dá o que pensar: a inteligência da prática transformadora da fé. São Paulo: Paulinas-Siquem, 2006. p. 19-79.
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