Celebramos nesse final de semana o XXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C - que nos traz uma proposta um tanto quanto desafiadora: "Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 26-27).
Primeiramente, a dificuldade em "desapegar" daqueles que mais amamos: pai, mãe, mulher e filhos, da própria vida. Como o Senhor Jesus pode pedir isso de nós? Não nos parece estranho? Vejamos. Ele não deseja que abandonemos nossas famílias, as pessoas que amamos e queremos bem. Ao contrário, Ele deseja que coloquemos cada um no seu lugar no nosso coração e nas nossas opções. Não se pode antepor nada a Jesus Cristo. Não se pode servir a dois
senhores! Seguir Jesus Cristo impõe salvaguardar também outros valores: família,
trabalho, compromisso social, político, cultural etc.
"Desapegar-se, portanto, é a atitude de dar o devido lugar ao fundamental, deixando de lado os apegos inúteis e secundários. Quem segue Jesus como o primeiro, o ponto de partida para tudo na vida, vai amar muito mais os pais, irmãos, a vida e as belezas da vida e dos prazeres que a vida oferece", ensina-nos o Pe. Luiz Carlos Oliveira, C.Ss.R.
É colocar Jesus Cristo como o "ponto de partida" da nossa vida, dos caminhos que percorremos, porque Ele mesmo é o Caminho. Desapegar-se é entender que por Jesus Cristo em primazia implica cuidar daqueles que são confiados à nossa responsabilidade, "recebe-o como se fosse a mim mesmo", diz São Paulo (Fm 9b-10).
Outro desafio grande é tomar a cruz cada dia e seguir. À primeira vista, parece-nos que o caminho de Jesus é por demais sofrido, sem alegrias, um calvário sem fim. Entretanto, não seguimos Jesus Cristo porque Ele é todo sofrimento, todo dor, todo desafio... Seguimos Jesus Cristo porque Ele é amor. Ele nos garante a maior prova de amor: a vida eterna. Desse modo, segui - Lo é tomar a cruz todos os dias, mas vislumbrando o ponto final: o céu. Ao longo do caminho podem surgir as dificuldades, o sofrimento, a dor, mas a esperança de estar ao lado do Senhor nos sustenta e anima na caminhada. Seguir Jesus Cristo é entrar na vida (Cf. Mc 9, 43s).
Então, poderíamos nos perguntar: "vale a pena" desapegar? Tomar a cruz? Sim, porque o sofrimento e a cruz não são perenes. Ao contrário, eterno é o amor e a misericórdia do Pai. Por ele Jesus Cristo deu a vida! O amor nos salvou! Aqui está a radicalidade do seguimento ao Senhor: dar-se conta da seriedade e da radicalidade do apelo de Jesus. Não podemos perder o fervor! Jesus Cristo quer seguidores firmes e corajosos, destemidos.
Para isso, precisamos da Sabedoria de Deus. Tudo o que nos é dado conhecer, perscrutar, compreender é graças a essa Sabedoria que Deus infunde em nós (Sb 9, 17). Ela nos inspira a uma escolha séria, existencial: seguir a Jesus Cristo, fundamento da nossa vida. Essa é a Sabedoria cristã - saber o primado de Deus.
Cabe a cada um, à comunidade cristã avaliar suas preferências, suas prioridades. O Senhor está sempre a nos esperar, "reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te" (Ap 3, 20). Talvez seja esse o momento de reavaliar a nossa caminhada de fé e de família. Por que será que nossos relacionamentos familiares andam tão difíceis, desafiadores? Certamente porque nos falta Deus. Escolhamos Deus e toda a nossa vida há de mudar, transformar-se.
Um grande reconhecimento da primazia do Senhor é a oração em família. "Uma família que reza unida permanece unida; uma família que ora é uma família que se salva. Comportai-vos de tal maneira que as vossas casas sejam lugares de fé cristã e de virtude, mediante a oração em comum" (São João Paulo II).
Deus nos abençoe hoje e sempre!
Pe. Eduardo Moreira Guimarães
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