Celebrando os seis anos de passagem de Dom Luciano Mendes de Almeida, não poderia deixar de lembrar a vida e os exemplos desse memorável homem de Deus. Para isso, sugiro a leitura do texto do Pe. José Antônio de Oliveira que, magistralmente, apresenta-nos Dom Luciano, certo de que o amor tem rosto e tem nome.
Dom Luciano: O amor tem rosto e tem nome
No primeiro dia da
semana, estando fechadas as portas da UTI do Hospital das Clínicas de
São Paulo, Jesus entrou. Aproximou-se do leito de dom Luciano e disse:
Vem comigo, bendito de meu Pai!
Era o dia 27 de agosto. Festa litúrgica
de Sta. Mônica; aquela que, por anos sonhou e lutou pela conversão de um
filho. Partia alguém que, por anos a fio, sonhou e lutou pela conversão
da sociedade. Era véspera da festa de Sto. Agostinho. Ali estava alguém
que tão bem encarnou seu pensamento: “Para vós sou bispo, convosco sou
cristão; aquilo é um dever; isto é uma graça”.
Lá fora, o sol se punha. Era o ocaso
para alguém que veio para ser “luz”: Luciano. Para todos nós era também
um anoitecer, um apagar. A sombra da tristeza descia sobre nós e a
solidão nos envolvia.
No céu, já era alvorada. Chegava uma
nova luz. Um filho querido voltava para casa. Os anjos comemoravam a
chegada de mais um anjo no céu.
Segunda-feira. O avião que transportava o
corpo do pastor pousa em terras mineiras. Uma chuva fria se mistura às
lágrimas dos amigos que o esperam. A natureza, que ele tanto respeitou e
defendeu, vinha se unir ao nosso pranto.
A noite já nos envolvia quando o cortejo
chegou a Mariana. O silêncio da emoção era rompido pelo choroso badalar
dos sinos. “Acorda, Mariana! Vem teu guerreiro saudar!”, dizia a poeta
Araci Cachoeira.
Da noite de segunda até a manhã de
quarta-feira, o santuário de N. Sra. do Carmo assistiu a um interminável
desfile de rostos: de crianças a anciãos, de mendigos a presidente.
Rostos índios e brancos, negros e estrangeiros, marcados pela dor e pela
esperança. Na face de cada um(a), a gratidão por aquele que mereceu
como poucos o título de “DOM”. Dom precioso de Deus à Igreja e à
sociedade, a Mariana, ao Brasil, à América Latina. Aquele que se fez
plenamente “dom”, “para que todos tenham vida”.
Nos gestos e palavras, a felicidade de
quem pôde experimentar a luz daquele que carrega a “luz” no próprio nome
e a lucidez no coração. O reconhecimento por aquele que foi pai e
profeta, plenamente comprometido com a justiça, parceiro dos pobres e
sem voz. Aquele que, no dizer do Mons. Júlio Lancelotti, foi a prova de
que o amor tem nome, tem rosto, tem pés e mãos; o amor tem coração.
Quarta-feira de sol e de frio. De cantos
e de lamentos. De louvor e de emoção. Após mais uma das muitas
celebrações eucarísticas, memorial da paixão de Deus por nós, celebração
da paixão de dom Luciano pelo Reino e da sua compaixão pelo povo, seu
corpo desce à cripta dos bispos, na catedral de Mariana.
Agora é o silêncio da semente que
aguarda o renascer, a vida nova que irá desabrochar; o silêncio da
saudade fecunda. Ressoa no ar o último sussurrar de suas palavras
gravadas pelo irmão Luiz Fernando, um grito quase inaudível: “somos
todos irmãos. Sejamos cada vez mais irmãos”. No coração de todos, a
inquietadora palavra de despedida, antes de entrar para a UTI e ser
calado pelos sedativos: “Não abandonem os pobres”. Na Igreja de Mariana e
do Brasil, ecoa a aclamação da multidão na despedida: “Dom Luciano
continua vivo nas lutas do povo!”.
Enquanto seu corpo, cansado e
desfigurado, repousa na escuridão da terra, dom Luciano comparece
luminoso diante do Cristo que pergunta: “Tu me amas?” E ele, feliz e
sorrindo, responde: “Tu sabes tudo; tu sabes que te amo”… e eu sei que
DEUS É BOM! Jesus o abraça forte e diz: “Entra para alegria do teu
Senhor”, tu que passaste a vida fazendo o bem, agindo sempre ‘em nome de
Jesus’, a serviço da vida e da esperança.
FONTE: http://www.arqmariana.com.br/?p=21982
Comentários
Postar um comentário